Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Congresso do MST

‘Morreu na contra-mão atrapalhando o tráfego.’ A cobertura da mídia brasileira do V Congresso do MST me fez lembrar a canção Construção, de Chico Buarque de Hollanda.


Sem Terra só é notícia quando tem pancadaria ou morte. Por que marcham os Sem Terra? Por que 20.000 pessoas de todas as partes dos país, de todas as idades, ficam 5 dias estudando e debatendo a construção de um novo projeto para o país? Mostrar isso tudo acontecendo de forma organizada e qualificada seria um ‘mau exemplo’ para o povo brasileiro? Esse movimento já é considerado, por vários intelectuais, como um dos movimentos sociais mais importantes do Brasil e quiçá do mundo frente ao atual contexto de desmobilização geral, característicos de tempos neoliberais.


Em 2005, a Marcha do MST somente ocupou as manchetes de jornais em função da pancadaria generalizada que ocorreu em frente ao Congresso Nacional, em função de provocações da Polícia Militar. Desta vez, o MST, atento a esse tipo de armadilha, organizou um sistema de segurança próprio que garantiu que os 20.000 marchantes tivessem a tranqüilidade e o respeito assegurado para realizar seu direito de protestar.


Como a mídia local noticiou a marcha? ‘Caos no trânsito de Brasília.’ O brasiliense deve estar pensando que o maior prazer do MST é atrapalhar o trânsito da capital.


Quando teremos uma mídia realmente democrática?


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Mesmo integrando a mídia há muitos anos como militante, não consigo assimilar o comportamento de certos órgãos de comunicação . Que exista uma linha editorial definida, a favor ou contra determinados assuntos polêmicos, tudo bem. A opinião é livre, é sagrada. Mas, negar um fato é demais. Prezados colegas de parte da imprensa: o mais importante evento esportivo das Américas, a ser iniciado no dia 13 de junho próximo, é o Pan Americano do Rio e não Pan Americano do Brasil. Acordem! (Sylvio Pélico Leitão Filho, jornalista, Rio de Janeiro, RJ)


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Sou radialista desde os 17 anos de idade. Já passei por varias situações no rádio, já dormi no chão de emissora para apresentar programas, já trabalhei gratuitamente só para me manter na profissão, com o pé quebrado fiz um programa de cinco horas e só depois fui engessá-lo – enfim, quantos radialistas já passaram por isso ou coisa pior?


Mas o que mais me intriga é a censura que na maioria das vezes é aplicada por quem já foi censurado ou tem pavor do termo. Eu tinha um programa de rádio (de notícias e participação de ouvintes) cujo nome era Linha Aberta, apresentado numa emissora da Rede Gazeta, afiliada da Globo aqui no Espírito Santo, e não tinha nem acesso ao jornal A Gazeta em plena Rede Gazeta… Tentei carreira solo na rádio universitária da Universidade Federal do Espírito Santo e após fazer uma entrevista com um político, tive o programa retirado do ar sob a alegação do diretor na época (1999), petista de carteirinha, que aquele era seu maior inimigo político, só que o entrevistado tambem era do PT… Após liminar favorável, voltei a apresentar o programa, os ouvintes participando elogiando a decisão da Justiça. O diretor então me liga e pede para falar no ar. Ora, o nome do programa era Linha Aberta e ele fala: ‘Aqui é o diretor quero lembrar aos ouvintes que este programa está no ar em função de uma liminar que pode ser cassada, e eu farei tudo para que isso aconteça’. E agora todos ficam abismados com Chávez? (Odorico Coelho Coelho, radialista, Vitória, ES)


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O assunto que venho relatar parece pequeno, se comparado a tantos outros desvios de conduta de mídia, mas não é. Acabo de receber em meu e-mail fotos do narrador Luís Roberto, da Rede Globo, comemorando no Hotel Majestic, em Florianópolis, a conquista da Copa do Brasil pelo Fluminense. Nada de mais, não fosse o fato de que o citado jornalista tinha recém-acabado a transmissão de Figueirense x Fluminense, pela final do torneio.


Qual a credibilidade que posso esperar de um narrador que, ao encerrar uma partida na qual deve manter o mínimo de profissionalismo e isenção por uma rede nacional e depois dirige-se à torcida organizada de um dos participantes para celebrar? Tenho as fotos aqui comigo, se necessitar favor dizer qual o e-mail que devo enviar. (Francisco Alpendre, advogado, Curitiba, PR)


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O Príncipe Eletrônico, que simultaneamente subordina, recria e absorve ou simplesmente ultrapassa os outros (Octavio Ianni). A mídia no Brasil contorce o corpo, num delírio violento provocado cada vez que se questiona os limites, da liberdade de imprensa. Num país onde seis ou sete famílias tem o monopólio dos meios comunicação, não é de se espantar quando o Sr. José Sarney levante sua voz, no Senado Federal, para condenar o fechamento da RCTV, na Venezuela. O Sr. Sarney, em seu discurso, veio evocar à consciência das elites que o poder do príncipe midiático estava sendo ameaçado, nada mais fez do que defender os interesses do monopólio dos meios de comunicação, do qual é um dos proprietários. Em nome da democracia!


Cabe lembrar que a liberdade é irmã siamesa da responsabilidade. Não dá para aceitar a postura inconseqüente de que na democracia tudo é permitido. Isto somente é concebível numa sociedade que usa o verniz democrático para encobrir interesses poderosos. A sofisticação das tecnologias eletrônicas é capaz de ser utilizada na construção de hegemonias, projetando assim a venda de cidadãos aos anunciantes, ao sabor dos interesses políticos-ideólógicos das grandes corporações, com poder de destituir a soberania de qualquer Estado. E aí, pergunto: como fica a população? Onde está a democracia? Democracia é a filha do Sr. Sarney? (Runildo Pinto, técnico em microinformática, Porto Alegre, RS


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A fala é faca afiada – mas também fala embotada na boca de quem não a maneja com maestria (nem verdade) – aqui não se toma partido, apenas se observa a pródiga semana de artifícios nas falas dos políticos: da desinfeliz fala da ministra (Marta Suplicy), da esfarrapada desculpa falaciosa do senador (Calheiros) até a navalha da fala presidencial.


Falas em foco na mídia, colhidas no calor de declarações ou (im)puramente fabricadas, em argumentos que não se sustentam diante de uma investigação mais apurada – ou simplesmente falas que camuflam e querem desviar o foco para um ufanismo fátuo (talvez imbuídas pelo espírito do pan-americanismo) – porque falar mal é fácil, o difícil é fazer (bem) e seu ofício – pode-se concluir, parodiando o poeta.


Falastrões e falas que revelam o cabedal político de nossa imensa nação – mas que não parecem responder aos anseios da população, já quase sem fôlego ou voz.


Resta o contraponto – ou a pergunta: o que quer a fala da mídia em meio a tudo isso? Compor em harmonia ou a polifonia de vozes e falas? (Afonso Caramano, funcionário público, Jaú, SP)


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A matéria intitulada ‘Presas 19 pessoas por fraude no BRB’ (Correio Braziliense, 15/7/2007) me chamou a atenção pelo seguinte fato: na página 3, a foto do doleiro Georges Fouad Kammoun é colocada no centro da página. Entretanto, a matéria praticamente não cita Georges. A princípio me pareceu que usaram o doleiro como bode expiatório ou então que o Correio Braziliense não sabe o suficiente sobre Georges Kammoun. Não seria um caso de denuncismo ou oficialismo, em que os jornais reproduzem o que dizem ou fazem as autoridades sem averiguar e investigar? Muitas pessoas são condenadas pela imprensa antes de ir a julgamento. (Felipe Homsi, estudante de jornalismo, Anápolis, GO)


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À Redação da Veja: Quando a Redação da Veja usa argumentos para justificar a grande procura pelos concursos públicos, ela consegue entrar em uns dos erros mais primários para quem escreve: incoerência, tanto a extratextual quanto a intertextual.


A incoerência intertextual dar-se quando se escreve algo não correspondente com o já dito, isto é, uma relação ilógica. Por exemplo, a reportagem [‘Cinco milhões querem o governo como patrão’, edição nº 2013, de 20/6/2007] usa uma das premissas que a grande procura pelos concursos dar-se-ia pela qualidade dos cargos oferecidos, e cita os que mais procuram esses cargos: ‘Jovens recém-saídos da faculdade e até profissionais sem maiores chances de ascensão no setor privado’. Ora, será que a grande procura por concurso é por causa da qualidade ou seria pela má qualificação dos profissionais para ingressar e manter-se no setor privado o qual é mais dinâmico? A própria revista diz mais à frente que o mercado trabalho privado está muito mais competitivo e a multiplicação dos cursos superiores aumentou a quantidade de jovens com diploma. Assim, a procura do concurso público seria uma válvula de escape para fugir do desemprego e não a qualidade dos cargos.


Esse ponto do desemprego ela destaca mais a diante, porém, transmiti, novamente, que a procura também é proporcionada, sobretudo, pelo pacote de recompensas. Alguns exemplos do pacote: bons salários, plano de carreira e estabilidade. Começaremos a defrontar na reportagem com a incoerência extratextual: o que se diz no texto não corresponde com a realidade. Caso esse cenário quimérico apresentado pela revista fosse verdadeiro, como explicaríamos as recentes greves da Polícia Federal, INSS, Ibama, dos professores nas três esferas, a falta de médicos no setor público como nos postos de saúde.


Embora alguns depoimentos nessa reportagem ressaltam que esses benefícios não são encontrados em todos órgãos, como, por exemplo: ‘Hoje, dependendo do órgão, o servidor tem uma carreira de verdade, que pode ser planejada (…)’, a Redação sempre traz o foco para generalização: ‘O maior e mais novo atrativo do setor público brasileiro é a possibilidade de crescimento profissional e pessoal (…)’ e usando depoimentos taxativos como: ‘Os governos voltaram a ser os maiores e melhores empregadores do país’.


Dessa forma, a Redação da Veja proporciona um desserviço à população brasileira com esse tipo de reportagem, na qual o maior objetivo do bom escritor e, provavelmente, da dita ética jornalística é totalmente ignorado.Ou seja, a missão de ampliar os horizontes dos seus leitores com uma discussão ampla do assunto, revelando os prós e os contras. Mostrem a foto dos bem-sucedidos, mas também a foto do demonstrativo de pagamento dos médicos ou professores do setor público. Trabalhar com a tese que o aumento da procura dos concursos públicos é devido, primordialmente, à qualidade dos cargos já é falacioso, agora defendê-la não se propondo a mostrar as realidades do nosso país como a inexistência de gestão de recursos humanos na maioria dos órgãos públicos é uma atitude digna de vergonha.


Portanto, espero, em primeiro lugar, que o objetivo da revista não seja tirar proveito desse grande mercado dos concursos, relatado na própria reportagem: ‘Concurso público hoje não é um bom negócio apenas para quem consegue ser aprovado’; e, em segundo lugar, que a redação tenha uma postura honrosa publicando essa carta ou colocando uma ressalva na próxima edição sobre os equívocos da reportagem. [Em 18/6/2007] (João Carlos Dias Chaves, funcionário público municipal, São Paulo, SP)

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Biólogo, Brasília, DF