A passagem da presidente Dilma Rousseff por Cuba suscitou na imprensa, como de praxe, comentários a respeito dos êxitos sociais obtidos pela revolução castrista: educação e saúde são dois terrenos sempre mencionados, sobretudo em comparação com outros países do Caribe e da América Latina.
Mas esses paralelos são um tanto equivocados. Cuba teve relações econômicas tão estreitas com os Estados Unidos – decorrentes principalmente da exploração colonial espanhola – que seus índices deveriam ser comparados aos dos estados mais pobres dos EUA. Décadas atrás essa comparação era possível. Hoje, não é mais.
Houve avanços, cujas consequências foram aproveitadas pela população enquanto durou a subvenção soviética, nos marcos da Guerra Fria. A economia era medíocre, mas havia educação e saúde gratuitas para todos, subsídios para moradia e outros benefícios que foram esteio para Fidel Castro.
Depois do fim da URSS, o país entrou num “regime especial” que acabou transformando muitos pais e mães de família em delinquentes consentidos, que roubam do Estado para alimentar a família. Dignitários do regime estão isentos dessa necessidade.
Prostituição
Há um capítulo constrangedor no quadro social cubano, a prostituição. Na virada do século 20 – logo após a conquista da independência nacional –, a prostituição era o quarto “setor” que dava mais empregos para mulheres numa Cuba em que, seja dito, relativamente poucas mulheres tinham chegado ao mercado de trabalho.
Antes da revolução (1/1/1959), 270 bordéis operavam a pleno vapor numa Havana transformada em antro de todo tipo de bandidagem comandada pelo crime organizado americano, sob a proteção do governo de Fulgencio Batista. (Informações em Cuba Between Reform And Revolution, Louis A. Pérez, Jr., 3a ed., 2005.)
Nos anos 1990, a prostituição – agora também de homens – voltou a ser meio de vida em Cuba. Foi reprimida, embora Fidel tenha dito, num momento infeliz, talvez de desespero, que “as prostitutas cubanas são as mais cultas do mundo” – o que está longe de ser verdade se o conceito de cultura não se restringir ao terreno formal da alfabetização.
E desde então tem sido assim: toda vez que aumenta o número de turistas no país, a prostituição recruta mais jovens. Quando a moeda forte dos turistas se retrai, outros tipos de “viração” são procurados por pessoas que precisam de algum dinheiro extra para se alimentar, se vestir e morar decentemente.