Como se não bastassem as preocupações da presidente Dilma Rousseff com os distúrbios na economia lá fora, aqui dentro seus aliados políticos não lhe causam menores aflições. Basta ver o que a imprensa repercute todos os dias de certo tempo para cá: queda do ex-ministro chefe da Casa Civil da presidência causada por denúncia de aumento inexplicável em seu patrimônio; queda do ministro dos Transportes por denúncia de corrupção; denúncia de malversação de recursos no Ministério da Agricultura; denúncia de corrupção no Ministério do Turismo… Esta é a triste realidade em que vive a presidente. Presa à teia do “toma lá dá cá”, ela nada poder fazer, senão desagrada às bancadas que lhe dão sustentação política no Congresso Nacional – todo mundo sabe que são dos deputados e senadores as indicações dos nomes para compor os ministérios, muitos dos quais “gente sem valores e sem princípios sólidos, que só pensa em se locupletar” (Mailson da Nóbrega, Veja, ed. 2229, 10/08/2011, p. 24).
E nós, que não compactuamos as distorções dos que fazem da perversão uma norma de conduta e da falta de ética um meio para atingir propósitos inconfessáveis, assistimos atônitos à decomposição moral abalar os alicerces da República sem que o Judiciário, com a sua proverbial lentidão, aplique as leis em tempo hábil para fazer justiça.
Instrumentos para o exercício da cidadania
Não me iludo, sei que a minha indignação não vai adiantar muita coisa, mas não importa. Parafraseando Darcy Ribeiro (1922-1997), pior seria se eu estivesse ao lado dos que se conformam – sem esboçar reação – com o decaimento dos valores morais nas três esferas do poder. Vou continuar reagindo. Faço coro com Ruy Espinheira Filho, escritor pertencente à Academia de Letras da Bahia, em seu artigo “A necessidade de ir às ruas” (A Tarde, opinião, p. A3, de 11/08/2011). No texto, o autor conclama a população a protestar nas ruas contra a violência generalizada na Bahia. Vou além. Acho que devemos ir às ruas também para exigir que o Poder Legislativo vote leis duras para proteger a sociedade da violência e mandar para a prisão quem de lá nunca deveria sair – a começar pelo político ladrão, que no Brasil não vai para a cadeia. Os malfeitores assaltam os cofres públicos sem a menor cerimônia, tripudiam sobre a confiança que a presidente lhes dispensa, além de manifestarem desprezo pela repulsa popular a tanto descaramento.
Se as autoridades constituídas não desenvolvem mecanismos para prevenir a corrupção e a violência, que nós o façamos. O voto consciente, além de uma arma poderosa para combatermos nesse campo minado, é um meio eficaz para excluirmos da vida pública quem patrocina o crime organizado e a corrupção. Mas é preciso atenção na hora de votar em algum candidato para não haver arrependimentos depois. Hoje em dia, dispomos de recursos que nos permitem ser observadores políticos privilegiados, ao contrário de outros tempos, quando ficávamos de fora, passivos, desprovidos de vontade, nos deixando conduzir sem manifestar opinião, como uma manada. Tais atitudes só contribuíram para nos deixar cegos diante do que se passava nos bastidores da política, incapazes de cobrar as promessas de campanha, tampouco saber se o nosso candidato participava ou não de atos obscenos. Agora, não. Temos ao nosso dispor vários instrumentos para o exercício da cidadania.
Assaltantes de colarinho branco
O computador é um deles. Através das redes sociais (e-mails, Twitter, blogs, Orkut e outras) sabemos o que se passa no Brasil e no mundo. Além de tais mecanismos, existem a TV Câmara e a TV Senado – duas valiosas ferramentas de que podemos nos valer para conhecer as atividades dos nossos candidatos no Congresso Nacional. Os dois canais focam tanto os bons, quanto os maus políticos, fato que facilita o nosso questionamento na hora de votar. Como a leitura de livros, de jornais e revistas está deixando de fazer parte do nosso cotidiano, os meios eletrônicos podem nos ajudar a tirar nossas próprias conclusões sobre a conduta deste ou daquele político a quem confiamos (ou vamos confiar) o nosso voto. Não me prendo mais aos discursos estéreis e maniqueistas entre esquerda e direita. O que me interessa, de verdade, hoje em dia, é a manutenção do Estado democrático de Direito, sem o que princípios como legalidade, liberdade e igualdade não se sustentam.
Se queremos um país decente para as futuras gerações, comecemos agora. Basta não votar nos maiores inimigos do povo: os políticos ladrões. Vejo com simpatia duas medidas (existem outras em discussão no Congresso Nacional) que podem dificultar as ações desses malandros: a) o recall: regra constitucional apresentada pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS), em 25/09/2009, que atribui à população o direito de propor plebiscito para revogar mandato de titular de cargo eletivo que se envolva em atos de corrupção; b) investimento em educação. Muito investimento em educação. Não sei se tais expedientes serão postos em prática; mas se forem, é certo que eles vão desencorajar os espertalhões que roubam recursos públicos, praticam nepotismos, superfaturamentos, mensalões, compadrios e por aí vai. É hora de cada um de nós exigir do Poder Legislativo leis duras contra os assaltantes de colarinho branco para livrar o Brasil dessa gente que insiste em se manter atuante, manchando a imagem do país e nos envergonhando perante as outras nações.
***
[Luiz Carlos Santos Lopes é jornalista, Salvador, BA]