A temporada dos 200 anos está inaugurando um novo gênero entre nós – o jornalismo histórico. A série de documentários da GloboNews sobre a chegada da família real portuguesa ao Brasil e o caderno especial do Estado de S.Paulo (segunda, 28/1) sobre a abertura dos portos são exemplos bem-sucedidos de investimentos em qualidade. O público cansou das caricaturas, está descobrindo a sua história e está gostando.
Por isso mesmo, convém tomar cuidado com deslizes nada educativos. Matérias e títulos jornalísticos quando falam na chegada da corte insistem em designar D. João como rei e acrescentam ao nome o seis em algarismos romanos (VI).
Quando aqui arribou, D. João era Príncipe Regente (desde 1799), por isso era tratado como Sua Alteza e não Sua Majestade. O título de rei só lhe foi concedido em 1816, aos 49 anos, quando a mãe, D. Maria I (considerada insana desde 1792) faleceu.
Regente e rei, D. João está longe de representar a imagem do monarca-filósofo, personificada exemplarmente pelo neto, D. Pedro II. Mesmo atarantado – ou talvez por isso mesmo – fez as coisas corretamente até o momento em que esqueceu de indicar o herdeiro do cetro.