Qual o papel da mídia na sociedade? Que influência ela tem nas decisões que tomamos ou em nossas opiniões sobre determinados assuntos? A forma como a mídia aborda um tema pode influenciar as decisões dos leitores? Questões como essas preocupam em qualquer época, mas em ano de eleição elas se tornam ainda mais importantes, pois podem até determinar o resultado nas urnas.
Para o Observatório Brasileiro de Mídia (OBM), criado em 2005, durante o Fórum Social Mundial (FSM), em Porto Alegre (RS), os meios de comunicação exercem um papel cada vez maior na cobertura das eleições presidenciais. Por isso, no dia 6 de julho, o Observatório deu início a um acompanhamento das matérias publicadas sobre os principais candidatos à Presidência da República.
A partir dessa data, uma equipe de seis profissionais iniciou a leitura e a análise de reportagens, entrevistas, artigos, colunas, editoriais e cartas de leitores publicadas nos jornais Folha de S.Paulo, O Globo, Estado de S.Paulo, Jornal do Brasil e Correio Braziliense e nas revistas Veja, Época, IstoÉ e Carta Capital. O foco está nas matérias que abordam as candidaturas de Luís Inácio Lula da Silva (PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Heloísa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT), assim como na cobertura do governo Lula.
Em análise estão o espaço que os candidatos têm em cada jornal ou revista e a forma como as matérias são abordadas – se são positivas, negativas ou neutras. Toda semana, o Observatório publica relatórios com os resultados do estudo, incluindo gráficos e análises críticas de casos especiais. O relatório mais recente está disponível no site do Observatório.
Cobertura da imprensa
Com base nas informações coletadas até o momento, o Observatório concluiu que o número de reportagens dedicadas ao candidato Lula foi maior do que para os demais candidatos. Além disso, Lula conta com o maior percentual de matérias negativas. Nesse período, o número de reportagens dedicadas à candidatura de Heloísa Helena diminuiu, mas a senadora é a que conta com o maior percentual de reportagens positivas em todos os veículos, com exceção da Folha de S.Paulo, que publicou mais matérias positivas sobre o candidato Geraldo Alckmin.
Segundo o Observatório, o candidato Lula foi também o que recebeu um maior número de reportagens negativas (103), ao passo que Geraldo Alckmin recebeu um número três vezes menor (34).
Para Kjeld Jakobsen, tesoureiro do Observatório e coordenador do projeto, o tipo de cobertura que a mídia faz de cada candidato pode influenciar nas decisões do eleitor. Ele explicou que a intenção do projeto é contribuir para a democratização do acesso à informação. “Hoje em dia, a cobertura da mídia tende a querer influenciar no resultado das eleições, quando seu papel deveria ser apenas de noticiar os fatos”, lamentou Jakobsen.
Ele conta que em 2004, antes mesmo da formação do Observatório, um projeto semelhante foi realizado em São Paulo. “Analisamos a cobertura da imprensa nas eleições municipais de São Paulo, e o que observamos é que, de fato, a mídia tem candidato próprio. Nesse caso, o candidato da imprensa era o José Serra, e atualmente verifico que a preferência da mídia, com exceção da Carta Capital, está no candidato Geraldo Alckmin.”
A pesquisa se estenderá até o final das eleições e pretende, assim como outras ações do Observatório, reforçar a importância dos órgãos de comunicação como formadores de opinião.
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Estagiária da Revista do Terceiro Setor