A bruxa anda solta na BBC. Incidentes recentes comprometeram a credibilidade da rede britânica junto ao público. No início de julho, a BBC foi multada em US$ 101,600 por ter falsificado o resultado de um concurso no programa infantil Blue Peter. Pegou mal. Mas o que poderia ser pior que a primeira multa imposta pelo Ofcom (instituição regulatória do setor de telecomunicações no Reino Unido) à rede? Uma gafe com a rainha, é claro.
A BBC teve de divulgar um pedido de desculpas à rainha Elizabeth II, após gafe cometida com a exibição, a jornalistas, de um trailer promocional do documentário A Year with the Queen (Um ano com a Rainha, tradução livre). O filme tem previsão de estréia em outubro e mostra os preparativos da rainha para seu 80º aniversário e os bastidores de sua viagem aos EUA.
Saia justa real
O vídeo exibido sugeria que a rainha Elizabeth II havia deixado uma sessão de fotos depois que a respeitada fotógrafa Annie Leibovitz pediu que ela tirasse a coroa. A cena mostrava a rainha andando por um corredor, usando coroa e manto, e dizendo a sua dama de companhia: ‘eu não vou mudar nada. Já foi o suficiente ter que me vestir assim, muito obrigada’.
Na verdade, Elizabeth chegava à sessão de fotos, e não a abandonava rispidamente, como ficou implícito no trailer. A BBC culpou a RDF Media, produtora que enviou o vídeo já editado. ‘Há uma seqüência neste trailer que leva o espectador a crer que a rainha deixou uma sessão de fotos antes de terminada. Não foi o que aconteceu; a seqüência foi falsamente representada’, disse a rede em comunicado.
O diretor Peter Fincham, responsável pela emissora BBC One, que apresentou o vídeo a jornalistas no dia 11/7, disse não saber que ele dava uma impressão errônea do que realmente aconteceu. Por isso, afirmou não ter intenção de pedir demissão pela falha.
Em busca da confiança
Com o objetivo de recuperar a credibilidade da rede, o diretor-geral da BBC, Mark Thompson, enviou um e-mail, na semana passada, a toda a equipe, pedindo a todos que reportem quaisquer ‘lapsos’. ‘Se vocês souberem de qualquer erro de edição, avisem’, escreveu Thompson, fornecendo um endereço de e-mail para tal. ‘Nada importa mais para nós que honestidade, veracidade e um relacionamento justo com a audiência. Precisamos colocar nossa casa em ordem’.
O diretor-geral pediu ainda a todos os executivos da rede britânica que providenciem a revisão da programação desde janeiro de 2005, a fim de informar aos telespectadores sobre qualquer erro que possa ter sido cometido. ‘Não podemos permitir que um número pequeno de erros, seja intencional ou como resultado de falta de atenção, prejudique nossa reputação e a confiança do público’, afirmou. Segundo Thompson, os dois casos recentes ‘ameaçam a relação preciosa de confiança entre a BBC e sua audiência’.
Produtora admite erro
A produtora reconheceu que errou ao editar a seqüência de imagens de modo a aparentar que a rainha Elizabeth II estava perdendo a paciência com a fotógrafa. Em e-mail à BBC, David Frank, executivo-chefe da RDF Media, admitiu que sua empresa era culpada pela falha. ‘Claramente, a RDF é culpada de um sério erro de interpretação. Eu lamento o embaraço que isto causou à BBC e à rainha e peço desculpas à rede’, escreveu Frank. A BBC e a RDF desculparam-se à rainha e a Annie na semana passada. Eles afirmaram que o vídeo não foi feito com a intenção de ser mostrado ao público e foi um erro tê-lo exibido a jornalistas.
Credibilidade em xeque
A BBC não é a única emissora do Reino Unido multada por falsificações. O Channel Five também foi multado pelo Ofcom em quase US$ 600 mil por falsificar vencedores em dois concursos por telefone, e o Channel Four recebeu multa de US$ 300 mil por ter exibido, em um programa ao vivo, uma conversa telefônica encenada. ‘É importante que reconquistemos a confiança’, afirma Michael Grade, ex-presidente da BBC e atual executivo-chefe da ITV, maior rede comercial do Reino Unido. ‘Não se deve mentir para os telespectadores, em nenhuma circunstância’.
Grade se demitiu da BBC no ano passado. Ele havia sido contratado para tentar reconquistar a confiança do público, após o suicídio do cientista David Kelly, principal fonte de uma reportagem da BBC que acusava o governo inglês de ter se baseado em informações duvidosas para justificar a invasão do Iraque. Informações de Tara Conlan [The Guardian, 13/7/07], da Reuters [14/7/07], de Paul Majendie [Reuters, 14/7/07] e da AP [16/7/07].