‘‘Hambúrguer, fritas, refrigerante. Aceita um download por 99 centavos?’ Ficção? Num futuro bem mais próximo do que muitos imaginam, será assim que você irá comprar a sua música preferida.
Embaladas pela crescente difusão da venda de canções pela internet (ou por outros suportes digitais, como o telefone celular), companhias que até ontem pouco ou nada tinham a ver com o mercado da música estão cada vez mais interessadas nesse filão.
Com uma parceria iniciada no final de março entre Sony e McDonald’s, a rede de lanchonetes investirá US$ 30 milhões para promover a venda digital de músicas do cardápio da gravadora.
No mês anterior, a Coca-Cola anunciou a criação de um site para venda de músicas para o Reino Unido, com um catálogo inicial de 250 mil faixas. Mais do que vender, a empresa lançou uma promoção em que os consumidores do refrigerante concorrem a downloads gratuitos nas embalagens de seus produtos.
Novidade? Desde 1º de fevereiro a concorrente Pepsi tem um acordo de distribuição de 100 milhões de músicas com a Apple, proprietária do mais popular serviço de venda digital da internet hoje, o iTunes. Uma em cada três tampinhas do refrigerante à venda nos EUA continha um código que dava ao consumidor o acesso gratuito ao download de uma canção.
Segundo reportagem da revista ‘Business Week’, logo, logo consumidores -leia-se americanos e europeus, já que no Brasil problemas de infra-estrutura e de cobrança de direitos autorais ainda impedem a implantação desses serviços- estarão baixando suas músicas preferidas enquanto tomam um simples cafezinho.
A franquia de cafeterias Starbucks já está testando em uma loja de Santa Mônica (Califórnia) um sistema que permite aos clientes escolher as faixas (de vários artistas) de sua preferência e gravá-las num CD na própria loja. ‘Estamos entrando fundo nisso’, disse Howard Schultz, diretor da rede Starbucks, em entrevista à ‘Business Week’.
Também em março a maior rede de supermercados dos EUA, a Wal-Mart, entrou de cabeça na onda da música digital. E, como de concorrência eles entendem, tiraram 11 centavos de dólar no preço médio por música cobrado em outros sites: vendem cada canção por US$ 0,88. Bem-vindo ao hipermercado da música.
‘Ninguém compra um CD pela marca da gravadora. Não existe um serviço de download da Sony ou da Universal, das ‘majors’. Há outras marcas, caminhos paralelos. Se eu como no McDonald’s, qual é o problema em comprar uma música ali?’, diz Otavio Ribeiro, 32, professor de marketing de nichos da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
Para as gravadoras, portanto, a palavra-chave é ‘distribuição’. ‘Isso é uma maravilha para mim. Tenho hoje McDonald’s, Coca-Cola e Pepsi promovendo meu artista. Para que fazer isso sozinho? As pessoas não querem Sony Music, querem Roberto Carlos, Cidade Negra… Quanto mais canais venderem meus artistas, melhor’, afirma Alexandre Schiavo, 35, vice-presidente de marketing artístico da Sony Music do Brasil.
Para as marcas, a palavra-chave é ‘experiência’. ‘Nosso serviço oferece ao cliente mais escolhas de como experimentar e apreciar a música’, disse à Folha Amy Colella, gerente de comunicação corporativa da Wal-Mart nos EUA.
Parcerias
Imersas em uma crise financeira da qual ainda lutam para saírem vivas, as gravadoras parecem ver com bons olhos os gordos investimentos. ‘Orçamentos milionários não existem mais. Quando assinamos com um artista novo, assinamos uma parceria. Acabou a história de a gravadora investir no disco, promover o artista e não ver um centavo de volta’, defende Rodrigo Vieira, 39, vice-presidente de marketing da Universal.
Assim, se uma empresa como a Pepsi resolve investir milhões de dólares em downloads gratuitos ou em um comercial de TV de três minutos com Britney Spears, Pink, Beyoncé e Enrique Iglesias, não são elas, as gravadoras, que irão reclamar, não?
‘Essas empresas sabem do poder que a música tem para atrair o consumidor pelo aspecto emocional. Esse é o grande barato do uso da música hoje’, diz Schiavo.
Música x anúncios do documentário ‘The Merchants of Cool’ (Os Mercadores do ‘Cool’), que analisa a estratégia de ramificação cultural das grandes corporações, especialmente para o mercado teen, o jornalista americano Douglas Rushkoff vai direto ao ponto: ‘Associar-se com a música é uma forma de desenvolver identidade de marca. Para a indústria musical, é um modo de gerar receita. Toda a música está lentamente se tornando puramente comercial -são literalmente anúncios’.
Ribeiro, por outro lado, vê no fenômeno um indício de diversificação. ‘O raciocínio pobre é: é brinde. Estou dando um presente para o consumidor. Mas será que é só isso? A Sony é que está usando a capilaridade de distribuição do McDonald’s ou é o McDonald’s que está trabalhando sua marca dentro de outro universo? Acho que são as duas coisas.’
Da mesma forma, engana-se quem pensa que a menina dos olhos da Apple seja o seu iTunes, que, com 50 milhões de down- loads em 11 meses de vida, concentra 70% das vendas de canções on-line nos EUA. ‘A Apple tem lucro muito pequeno com a venda de cada música. Um dos objetivos [do site] é a divulgação e a comercialização do iPod’, afirma Tiago Ribeiro, especialista em sistemas da Apple, referindo-se aos aparelhos portáteis fabricados pela empresa, que reproduzem as canções vendidas no iTunes.
Um artigo publicado na semana passada pelo ‘The Wall Street Journal’ coloca em perspectiva quem ganha e quem perde no novo negócio: do preço pago pelo consumidor por uma faixa, de 65% a 80% ficam com a gravadora; cerca de 20% vão para a administradora de cartão de crédito, além de hospedagem e manutenção do site. ‘Para um formato que apareceu há menos de um ano, os resultados são muito bons. Agora é que vai começar a guerra [entre os serviços]’, avalia Vieira, da gravadora Universal.’
INCLUSÃO DIGITAL
Gilson Euzébio
‘Santanna quer política mais agressiva de inclusão digital’, copyright Telecom Online, 30/03/04
‘O secretário de Logísitica e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Rogério Santanna, afirmou hoje, 30, durante a abertura da Mostra de Soluções em Tecnologia da Informação Aplicadas ao Setor Público, que é preciso uma política mais agressiva para fazer a inclusão digital no Brasil. ‘Talvez a TV digital seja o caminho’, segundo ele, para levar a Internet à população que hoje não está conectada à rede mundial de computadores. Para Santanna, o desafio do governo ‘é fazer mais com menos recursos’. O governo deixou claro, nos debates, que trabalha pela redução de custos. ‘Não vamos construir a inclusão digital com software proprietário’, disse Arthur Pereira Nunes, secretário de Política de Informática do Ministério da Ciência e Tecnologia. Nunes explicou que durante a Cúpula da Sociedade da Informação, no final do ano passado, os países ricos defenderam a inclusão, desde que com software proprietário. O que significa que os países pobres teriam que comprar deles. A inclusão digital, para o governo brasileiro, só é viável com o software livre, que será adotado pelos órgãos da União. Nunes ressaltou que o modelo de negócios com software livre ainda está em construção. ‘Não esperem que o modelo de negócio vai estar definido numa portaria no Diário Oficial’, comentou. Lembrando que o governo anuncia amanhã a política industrial e de exportação, que inclui software e semicondutores, o presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação, Sergio Amadeu, ressaltou a importância desses dois itens para o desenvolvimento do País. E disse que a tendência é de fusão entre hardware e software, com o crescimento do software embarcado. A TV digital, explicou, é um equipamento com software embarcado.’
RÁDIO
Gilson Euzébio
‘Anatel não consegue fiscalizar todas as rádios do país, admite Ziller’, copyright Telecom Online, 31/03/04
‘O presidente da Anatel, Pedro Jaime Ziller, reconheceu hoje, em audiência na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados, que a Agência não consegue fiscalizar todas as rádios do País. ‘A necessidade de fiscalização está muito além da nossa capacidade’, afirmou. A demanda pelo trabalho de fiscalização da agência, segundo ele, é de 900 mil homens/hora por ano, mas dispõe de apenas 400 mil. Com a proximidade das eleições, afirmou, os problemas de abertura de rádios clandestinas se agrava. ‘Temos um plano para isso, mas alguma coisa vai escapar’, disse. De acordo com o deputado Paulo Marinho (PL-MA), a quantidade de rádios clandestinas tem crescido muito na reigão Nordeste por causa das eleições. ‘É um crime e ninguém faz absolutamente nada’, acusou. Na Bahia, houve desvio de finalidade das rádios educativas, reclamou o deputado José Carlos Araújo (PFL-BA). Ziller argumentou que a Anatel fiscaliza apenas radiofrequência. O controle sobre conteúdo é do Ministério das Comunicações, que não tem mais representações nos estados. ‘Apenas auxiliamos o Ministério. Cabe ao Ministério tomar providências’, afirmou. Quando o problema é na frequência, a Anatel notifica o representante para retirar a rádio do ar antes de abrir processo. Mas há problemas sim e cabe ao governo junto com o Congresso adotar as medidas legais para resolvê-los, afirmou Ziller. Segundo ele, a Anatel e o Ministério vão assinar um convênio para criar uma força-tarefa para despachar 40 mil processos de rádios que estão parados por falta de pessoal para analisá-los. A Anatel deve colocar 10 especialistas à disposição do Ministério.’