Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Onda de repressão assusta imprensa

“Não pode haver sociedade livre sem jornalismo livre”, dizia um cartaz do lado de fora do tribunal em Istambul onde são julgados os jornalistas turcos Ahmet Sik e Nedim Sener, acusados de terrorismo. O caso é considerado um dos principais exemplos da onda de repressão do governo a vozes dissidentes – que transformou a Turquia em um dos países que mais prendem jornalistas.

Os manifestantes que defendiam os profissionais de imprensa em frente ao tribunal no início do julgamento, em novembro, eram poucos. Os jornalistas têm medo. A colunista Ece Temelkuran – bastante conhecida no país – era a única funcionária do diário Haber Turk que teve coragem de se juntar ao protesto. Ainda assim, confessou ela, com medo. Ece já escreveu diversas vezes sobre o que considera uma punição severa aos que se opõem ao governo do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, e por esta razão tem sempre o número de seu advogado por perto, caso seja intimada pela justiça.

Tabus

Sik e Sener foram presos em março, acusados de serem membros de um obscuro grupo nacionalista que supostamente teria tentado incitar um golpe contra o governo turco. Acredita-se que Sik tenha virado alvo do judiciário quando começou a investigar a influência de uma rede islâmica – conhecida como movimento Fethullah Gulen – que é uma das principais apoiadoras do primeiro-ministro. Já Sener havia feito uma pesquisa sobre o assassinato do jornalista armênio Hrant Dink – outro tema tabu no país – que levantou suspeitas de que o Estado e a polícia estariam envolvidos no crime.

Mas o caso dos dois jornalistas não é isolado. Até a semana passada, 76 profissionais de imprensa turcos estavam presos no país – pelo menos outros 29 foram detidos no dia 20/12 durante uma operação policial em várias cidades turcas que levou à prisão de cerca de 40 pessoas acusadas de ligação com militantes curdos. Além de profissionais de imprensa, o regime de Erdogan também já prendeu advogados, acadêmicos e estudantes sob acusações ligadas a atividades terroristas – e que críticos veem como tentativas claras de reprimir a liberdade de expressão e qualquer indício de discordância política.

Cuidado excessivo

A grande maioria da população turca, no entanto, parece não tomar consciência nem destas prisões e nem do que representam. O debate público do momento dá conta da crescente economia e a prosperidade da região. Em junho, o Partido da Justiça e Desenvolvimento, do primeiro-ministro, venceu as eleições parlamentares, reelegendo Erdogan a um terceiro mandato.

Partidários do governo negam que as detenções e julgamentos de jornalistas tenham como objetivo silenciar a oposição. Dizem que o partido goza de boa popularidade e portanto não precisaria tomar ações deste tipo. Além disso, a prisão de Sik e Sener seria o resultado de um cuidado excessivo do governo que, infelizmente, se justificaria pelas ameaças do conflito armado com os separatistas curdos e a frequência de tentativas de golpes militares contra governos eleitos democraticamente na região.

“O que é novo aqui é que, antigamente, a liberdade da imprensa era limitada por causa da ‘integridade e segurança’ da Turquia”, resume o jornalista Rusen Cakir, do diário Vatan, especialista no partido de situação. “Agora, jornalistas são atacados em nome da ‘democracia avançada’”. Informações de Alia Malek [Foreign Policy, 22/12/11].