Sapatos de solas preservadas. O que fizeram das praças? O que você faz na esquina? Você tinha de ir à banca para se informar. Precisava cruzar a praça, ver rostos, tocar ombros, se envolver com cheiros. Necessitava algum dinheiro, tempo e vivência. Você era um ser social antes de se tornar digital, lacrado em sua solidão velada em um sorriso de foto de perfil em rede social digital.
Além de reconhecer o novo padrão de consumo e diálogo estabelecido pelas mídias digitais, é interessante pensar em como as pautas são construídas para se comunicar com esse novo sujeito que se configurou. Entre o faro dos repórteres, a agenda espontânea, ou fixa (política, dinheiro, saúde, infraestrutura, polícia e cultura) e a indução dos mantenedores dos veículos (com informações ou financiamento). Como anda a dança (ou jogo de cartas) entre as redações e assessorias? Esses jornalistas se comportam como agentes de uma guerra fria, soldados no paraíso do petróleo ou como construtores de um diálogo que beneficie a manutenção das relações humanas?
Para recuperar o fôlego e não se limitar a uma resposta de palavras bem construídas que revela uma cobra comendo o próprio rabo, é preciso caminhar, perceber e ler o que há ao redor. Afora as vivências e as mentes que borbulham, é proveitoso ler publicações segmentadas (revista Negócios da Comunicação, Comunicação Empresarial, Meio e Mensagem, Imprensa, Você RH e Valor Setorial), ouvir podcasts e reler alguns blogs, sendo que é recorrente a pergunta: qual o segredo da excelência? Tempo X Eficiência.
Um paradoxo chamado mercado
Existem muitas assessorias mecânicas e rasas, com sistemas de posicionamento e mensuração superestimados e precários em efetividade. O conhecimento, a informação a repeito das boas (adequadas) práticas são vastos e expostos; falta aplicá-los. Os conceitos estão à exaustão diante dos olhos; entretanto, a novilíngua não é a solução. As assessorias precisam conhecer os veículos de comunicação e também a cultura das empresas (clientes). A massiva terceirização das assessorias de imprensa tem resultado em um cenário de desencontros e preguiça. Muitos assessores desconhecem a cultura dos clientes, os objetivos e necessidades. A situação clama por mudança no perfil profissional.
Afora o desequilíbrio do cálculo [natalidade/mortalidade/capacitação] de homens e mulheres, percebe-se que elas estão cada vez mais em cargos de destaque e liderança, inclusive na Comunicação Corporativa. Há quem diga que é a soma entre: Sensibilidade, sabedoria, ousadia e força, responsabilidade e habilidade em gerir processos alinhados ao mercado.
Fato é que o mercado está aquecido, informa a Associação Brasileira de Agências de Comunicação (Abracom). Esse paradoxo chamado mercado está em busca de profissionais qualificados, e não apenas detentores de nomenclaturas. Para funcionar, além de agilidade, a assessoria terceirizada precisa ter profundidade. É fundamental compreender e mimetizar a cultura da empresa (cliente).
Central de informações
A aproximação das empresas com o público (interno e externo) deve transpor a estética das peças de campanhas de comunicação, mensagens publicitárias e brindes corporativos. É preciso diálogo. Uma das formas de falar é por meio da imprensa. Entre o ruído e a versão oficial se esconde a verdade, que pelo diálogo pode ser revelada. O diálogo começa com a definição da pauta, apuração, reflexão, produção do texto e então continua com o leitor. Transparência (dos objetivos, das ações e da mensagem).
Eventos como as COP, as Copas, o Rio +20 e outros reforçam a necessidade de boas pautas para não transformar os temas em entulho de enxurrada. As assessorias têm de ser ágeis e criativas para proporem pautas de interesse público e que de certa forma possibilitem o posicionamento do cliente. Mais do que divulgar uma marca, os setores precisam colocar em pauta abrangente algumas discussões que até o momento estão restritas a mesas de almoço e cafés corporativos. Neste processo, o papel das novas mídias é essencial para despolarizar debates e ampliá-los.
Em tempo: as associações representativas (e também as agências de comunicação) devem compreender o setor que defendem e a utilidade pública das informações e produtos das empresas associadas. Construir uma central de informações simples (e não simplórias), completas e uma dinâmica de acesso seguro a fontes, sem desrespeitar ou ser refém dos prazos das redações.
***
[Rudson Vieira é jornalista, Coronel Fabriciano, MG]