A Arábia Saudita, berço do Islã, é o país que mais maltrata as mulheres em todo o mundo. A equação matemática é simples. Uma mistura de religião e opressão. Todos os dias a mídia mostra a violência e o desrespeito aos direitos das mulheres. São muitas as proibições. No dia-a-dia, não podem viajar sem o marido, muitas são obrigadas a se casar entre oito e nove anos, não podem acessar a internet, não podem ter contanto com homens, blogar, dirigir e estudar. Mesmo assim, algumas delas não tomam conhecimento dessas proibições. As punições são duras para quem descumpre a lei.
Afinal, o que diz o livro sagrado? Não consta no Alcorão nada que as coloque como inferiores aos homens. Aliás, ele prega o respeito e prevê a igualdade entre ambos. Portanto, os ensinamentos de Maomé são deturpados para garantir o jugo e domínio dos homens. Quem ganha com isso? Grupos radicais islâmicos ultraconservadores que controlam todo funcionamento do Estado. São eles que elaboram as leis, dominam o cenário político e o funcionamento das instituições do país. De outro lado, existem grupos minoritários, formados por homens e mulheres, que lutam pela igualdade. Contudo, não têm voz e pouco podem fazer para mudar essa dura e triste realidade.
Desde a mais tenra infância, em casa, as meninas são instruídas para serem submissas aos homens. É por isso, também, que há tanta discriminação e maus-tratos com as mulheres. Na verdade, não se pode negar que o objetivo desses conservadores é impedir a emancipação feminina, mantê-las em posição social inferior e negar-lhes o sagrado direito de serem cidadãs. Afinal de contas, ser cidadão é estar no gozo pleno dos direitos civis e políticos. É ter liberdade de escolha.
Cidadania, liberdade e tolerância religiosa
A ausência de direitos políticos mais o silêncio imposto pelo abaya, na realidade, são formas de se garantir submissão e tutela feminina num mundo masculino. Aliás, não é exagero afirmar que essa mentalidade vigente é muito semelhante à época histórica denominada Idade Média, que vigorou entre os séculos 5 e 15 na Europa. Os absurdos são muitos: para ir ao médico as mulheres necessitam da chancela masculina e em casos de estupro, normalmente, a lei fecha os olhos.
Nem tudo está perdido. Recentemente, o rei Abdullah resolveu garantir as mulheres o direito ao voto. Isso se deu em função da preocupação do monarca com a “'Primavera Árabe”', ou melhor, com uma onda revolucionária de insatisfações, protestos e levantes populares que atinge os países vizinhos, Egito, Tunísia, Marrocos e Líbia. Essa mudança é a ponta de um imenso iceberg de direitos dos quais elas [mulheres] são excluídas, mas que no futuro há de trazer mudanças reais e duradouras no tocante à liberdade e o direito à cidadania. O que querem as sauditas? Querem cidadania, democracia, liberdade e tolerância religiosa. Em uma palavra: querem auto-determinar o seu destino, serem felizes e a diminuição das desigualdades em relação ao sexo masculino.
***
[Ricardo Santos é professor de História e jornalista, São Paulo, SP]