O presidente do Equador, Rafael Correa, recebeu o colega iraniano Mahmoud Ahmadinejad na semana passada. Ahmadinejad chegou ao Equador após passar por Venezuela, Nicarágua e Cuba. O encontro dos dois presidentes – com troca de mensagens afetuosas – ganhou repercussão internacional. No entanto, como protesta em editorial o Washington Post [11/1/12], Correa deveria ser conhecido no mundo pelo ataque mais abrangente e sem escrúpulos à imprensa livre no Hemisfério Ocidental.
Depois da saída de Ahmadinejad, a Corte Nacional de Justiça, em Quito, iria examinar uma apelação aberta por três diretores de um dos mais respeitados jornais da América Latina, o El Universo, que Correa está prestes a destruir. No entanto, a audiência foi suspensa até segunda ordem, segundo informou o jornalLa Hora [14/1/12]. Em julho passado, os três – os irmãos Carlos, Cesar e Nicolas Perez – e o editor Emilio Palacio foram condenados a três anos de prisão, resultado de uma ação por difamação aberta pelo presidente. Os editores e o jornal também receberam uma multa equivalente a R$ 71 milhões – o suficiente para forçar o fechamento do diário.
Não às mentiras
O “crime” que levou o governo de Correa a abrir uma ação foi uma coluna assinada por Palacio com o título “Não às mentiras”, que criticava duramente o comportamento provocativo do presidente durante uma revolta policial. O caso passou por quatro mudanças de juiz, até que um juiz “temporário” assumiu e, depois de apenas uma audiência, emitiu uma determinação de 156 páginas. Uma investigação independente subsequente alegou que o juiz não era o autor da determinação; o verdadeiro autor seria um procurador de Correa.
O El Universo foi fundado em 1921 na capital econômica do Equador, Guayaquil, e é amplamente respeitado na região. A tentativa de Correa de controlar a mídia é abrangente: desde que assumiu o cargo, passou a controlar cinco canais de TV, duas emissoras de rádio, dois jornais e quatro revistas.
Jornalistas que ousam criticar o governo são alvo de ações por difamação abertas pelo presidente, que vai às audiências e algumas vezes tuíta sobre as determinações antes mesmo de elas serem publicadas. No mês passado, o editor de um outro jornal, o Hoy, foi condenado a três meses de prisão por ter se recusado a nomear o autor de artigos sobre a influência de um diretor do banco central que é primo de segundo grau de Correa. Dois outros jornalistas enfrentam um pedido presidencial de R$ 18 milhões em danos por um livro documentando milhões de dólares em contratos governamentais com o irmão de Correa.