Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Pergunta do ombudsman do NYT irrita leitores

Na semana passada, o ombudsman doNew York Times, Arthur Brisbane, fez uma pergunta polêmica aos leitores: “Estou buscando feedback dos leitores sobre se e quando os repórteres do New York Times devem questionar ‘fatos’ contados por pessoas públicas”.

Ele se referia a declarações como a do pré-candidato republicano Mitt Romney, que alegou que o presidente Barack Obama faz discursos “desculpando-se pelos EUA”. Brisbane perguntou se repórteres deveriam ter a liberdade de investigar e responder a estes comentários. A reação dos leitores foi imediata, negativa, incrédula e volumosa. “Se a proposta do NYTimes é ser um recipiente inofensivo para adicionar cópias, então continue a fazer nada mais do que parafrasear releases”, disse um leitor. “Espero que você me ajude, Brisbane, porque sou um editor desempregado: agora ineficácia é um requisito para emprego?”, indagou outro.

O ombudsman certamente não esperava uma reação unilateral e em tom tão acusatório. Depois do episódio, ele tentou por duas vezes esclarecer seu ponto de vista. A primeira no blog de mídia JimRomenesko.com: “O que eu estava tentando perguntar era se repórteres deveriam sempre refutar fatos dúbios no corpo das matérias que estão escrevendo. Eu esperava respostas mais diversificadas ao que eu considero uma questão difícil”. A segunda tentativa foi no site do NYTimes: “Minha pesquisa estava relacionada a se o jornal, no texto das matérias, deveria ser mais agressivo ao refutar ‘fatos’ quando estes em questão. Eu considero esta uma questão difícil e não óbvia”.

Perspectivas diferentes

As explicações só colocaram mais lenha na fogueira. Entretanto, vale considerar que, da perspectiva da redação, a pergunta de Brisbane faz sentido. A acusação de Romney de que Obama faz discursos “desculpando-se” pelos EUA não é acessível à checagem de fatos. O pré-candidato nunca mencionou qualquer citação do presidente que o levasse a fazer tal acusação. Para Brisbane, a questão aberta foi se um repórter de notícias factuais deve questionar este tipo de declaração ou simplesmente citar a fonte de maneira precisa. O ombudsman deve estar tão imerso na cultura da redação que não entende que, da perspectiva dos leitores, esta não é uma questão difícil. Leitores querem que jornais limitem a habilidade de políticos de fazer declarações dúbias sem penalidade.

O erro de Brisbane não foi levantar o tópico de quanto tempo, espaço e esforço os repórteres deveriam dedicar para verificar as declarações de políticos, mas trazer isto como questão – como se algum jornalista com alguma experiência não soubesse a resposta correta. O que ele estava querendo trazer à tona era a discussão de que ceticismo infinito é bom, mas requer checagem de fatos infinita, o que significa tempo e investimento. Com informações de Clay Shirky [The Guardian, 13/1/12] e de Jack Shafer [Reuters, 12/1/12].

***

Leia também

O repórter deve contestar um entrevistado que mente ou distorce fatos? – Carlos Castilho