Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Primeiro Jornal, apologia à violência policial

Criminalizar a pobreza é uma prática corriqueira das grandes emissoras de televisão do Brasil. Entretanto, nos últimos anos, apoiar a violência policial contra as classes menos abastadas parece ter se tornado uma obsessão para a Rede Bandeirantes. Entre os noticiários da emissora, o Primeiro Jornal, telejornal matutino apresentado por Luciano Ribeiro Faccioli, tem se destacado pelo seu caráter ultraconservador. Na segunda-feira (23/1), ao cobrir uma ação de reintegração de posse da Polícia Militar na comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP),Faccioli,mais uma vez, deixou transparecer suas ideias reacionárias.

O terreno onde se localiza a comunidade do Pinheirinho pertence à massa falida da empresa Selecta, do especulador Naji Nahas(que chegou a ser preso, em 2008, por suspeita de corrupção). Em fevereiro de 2004, a área foi ocupada por um grupo de pessoas que foram expulsas violentamente de um terreno em um bairro vizinho. Nesse mesmo ano, Naji Nahas recorreu à justiça para a retirada das famílias que habitavam a sua propriedade. “A gente está lutando por uma moradia, a gente só está aqui porque a gente precisa, se não precisasse, ninguém estava aqui”, afirmou uma moradora do Pinheirinho à TV Vanguarda (afiliada da Rede Globo na região do Vale do Paraíba).

No domingo (22/11), por volta das seis horas da manhã, contrariando a orientação do Tribunal Regional Federal (que havia suspendido a ação de reintegração de posse pleiteada por Nahas), a PM, cumprindo ordens da justiça paulista, invadiu o Pinheirinho e expulsou brutalmente as cerca de 1.600 famílias que habitavam a comunidade (cerca de 5.000 pessoas).

O apoio da emissora

Apesar de a ação policial ter sido condenada por vários setores da sociedade civil, Faccioli, como era de se esperar, apoiou incondicionalmente a violência promovida pela PM na comunidade paulista. A cobertura de seu telejornal foi absolutamente tendenciosa: ressaltou os danos a propriedades realizados (supostamente) pelos moradores do Pinheirinho e escamoteou a truculência da polícia militar. “Infelizmente a situação aqui no Pinheirinho não é nada agradável. A madrugada foi tensa. […] Desde o início da ocupação, trinta pessoas já foram presas. A casa do prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury, foi apedrejada. Uma casa lotérica e duas padarias foram roubadas. Dez carros foram incendiados em bairros no entorno [da região do Pinheirinho]”, fez questão de frisar a repórter Brisa Albuquerque.

Ao constatar que um carro de reportagem da TV Bandeirantes havia sido apedrejado, Faccioli foi irônico: “Fomos nós quem expulsamos os moradores, por isso nos atacam.” Evidentemente, não foi a TV Bandeirantes quem retirou os moradores, porém a conivência e o apoio da emissora a certas ações da polícia têm contribuído significativamente para corroborar a barbárie estatal contra a população pobre.

Resquícios da ditadura

Em última instância, segundo o apresentador, o direito de propriedade deve ser incondicionalmente preservado, independente do fato de milhares de pessoas ficarem sem ter onde morar. “O que ele [o proprietário] vai fazer com o terreno é problema dele, o importante é a desocupação”, afirmou. Curiosamente, em nenhum momento do programa foi mencionado o nome do proprietário do terreno e tampouco foram apresentadas informações sobre as atividades ilícitas de Naji Nahas.

Não foi a primeira vez (e provavelmente não será a última) que Luciano Faccioli demonstra todo o seu ódio às pessoas que não concordam com as ações policiais. Em outra ocasião, o apresentador chegou a chamar os estudantes que protestavam contra a presença da PM na USP de “vagabundos”, “vagabundas”, “dementes”, “bandidos”, “doentes” e “cafajestes”.

Infelizmente, pessoas reacionárias como Faccioli fazem com que alguns resquícios da ditadura militar ainda atormentem a sociedade brasileira.

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[Francisco Fernandes Ladeira é especialista em Ciências Humanas, Brasil: Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e professor de História e Geografia em Barbacena, MG]