“Transparência e imparcialidade, dois pilares do bom jornalismo, são esquecidos sempre que se escreve sobre circulação de jornais. A Folha e o ‘Estado’ brindaram recentemente seus leitores com pseudorreportagens sobre os números de 2011.
Em 29 de janeiro, o ‘Estado’ alardeou a sua dianteira no mercado paulista: ‘‘Estado’ cresce e amplia liderança em São Paulo’. No domingo seguinte, foi a vez de a Folha destacar seu primeiro lugar em todo o país (‘Folha lidera na edição impressa e digital’).
Basta uma comparação entre os gráficos publicados pelos dois jornais para notar que a última preocupação era informar corretamente. O ‘Estado’ fez apenas o quadro ‘Mercado Paulista’, com as cifras da capital, da Grande São Paulo e do Estado, justamente os três campos em que bate o concorrente.
A Folha também deu só os números favoráveis: a circulação no país, no interior de São Paulo e nos outros Estados. Omitiu a capital e o total do território paulista. Contou que vende mais assinaturas digitais do que o concorrente, mas se esqueceu de dizer que o crescimento total dele no ano passado foi superior ao seu (7,5% contra 0,9%).
Excluídos os jornais populares (vendidos por até R$ 0,99), um resumo justo apontaria a liderança da Folha no país, o segundo lugar do ‘Globo’, mas ressaltaria a força que o ‘Estado’ mantém entre os paulistanos.
A Folha tem uma influência nacional muito superior à do concorrente direto, mas não consegue vencê-lo na sua cidade de origem, onde está o principal foco do mercado publicitário.
O único ponto de concordância entre os competidores é comemorar o crescimento do meio jornal: ambos citaram o aumento de 3,5% de exemplares vendidos no país no ano passado (4,4 milhões por dia), o que é um alento no cenário apocalíptico desenhado para os impressos.
O ‘modus operandi’ dos dois jornais é igual nesse tipo de texto. Ambos pinçam dados do IVC (Instituto Verificador de Circulação), responsável por auditar jornais e revistas do Brasil, buscam uma boa declaração do presidente do órgão, entrevistam os seus próprios executivos, que elogiam a Redação, e publicam as ‘reportagens’ nos cadernos de economia, com menção na Primeira Página.
Se não há isenção suficiente para abordar o próprio negócio, como se faz com os outros setores da economia, a Redação deveria ficar fora desse processo. Os informes sobre quem vende mais deveriam ser feitos por publicitários. Em anúncios, não é pecado seguir aquela máxima de um ex-ministro da Fazenda: ‘o que é bom a gente fatura; o que é ruim a gente esconde’.
O ASSUNTO DA SEMANA
Alguns leitores reclamaram do ‘destaque excessivo’ dado à greve de policiais na Bahia. Argumentam que o ‘estardalhaço’ dá mais motivação aos que promovem a ‘bagunça’. Discordo. O país assiste perplexo ao desenrolar dessa greve -ou motim- e cabe à imprensa noticiar bem, ouvindo governo e policiais. A Folha fez isso até agora.
A REVOLTA DOS CALVOS
Uma nota que chamava o ator Jude Law de ‘ex-gato’ porque ele está ficando careca, publicada no ‘F5’, site da Folha, deixou alguns internautas furiosos. ‘Gays exigem seus direitos, mas ninguém fala sobre o preconceito contra carecas. Temos que criar o termo ‘carecofobia’’, sugeriu o professor Daniel Rodrigues, 49, que raspa o cabelo, mas admite que, se deixasse crescer, ‘não teria a cabeleira do Neymar’. Para o escrevente Denilson Hackmann, 41, careca igual ‘à do Bruce Willis’, o texto instigava o preconceito. Em tempo: a enquete que perguntava se Jude Law continua ‘gato’, mesmo com entradas, deu 82% de ‘sim’ (de um total de 3.024 votos).”