Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Leveson e Murdoch

Nesta semana, o inquérito da Comissão Leveson, criada em 2011 pelo premiê britânico e presidida pelo juiz Brian Leveson, ouviu depoimentos explosivos. A comissão de inquérito tem o poder de convocar testemunhas, que depõem sob juramento. Desde novembro, ouviu uma sucessão de importantes jornalistas e vítimas de escutas telefônicas. Também ouviu o pai e a mãe de Milly Dowler. A revelação de que o jornal sensacionalista News of the World havia instalado uma escuta no celular da estudante assassinada causou forte indignação pública e forçou o premiê a dar início ao inquérito.

Agora foi a vez da polícia. Sue Akers, vice-comissária-assistente da Scotland Yard, disse a Leveson que pagamentos “regulares, frequentes e ocasionalmente significativos” eram feitos pelo jornal The Sun a militares e funcionários da polícia e dos departamentos de saúde e penitenciário do governo. Há provas de que funcionários públicos recebiam remuneração regular do jornal. Os envolvidos nesse tipo de atividade sabiam estar agindo ilegalmente e ocultaram a identidade dos beneficiados, um dos quais recebeu £ 80 mil. Outro jornalista dispunha de £ 150 mil para pagar seus contatos. A informação obtida “não era de interesse público” e, em muitos casos, consistia em “fofocas lúbricas”. Akers disse que “as provas revelam uma rede de funcionários públicos corruptos”.

O inquérito da Comissão Leveson lembra uma novela britânica. No fim de semana passado, Rupert Murdoch lançou, em Londres, o jornal Sun on Sunday, que substituiu o News of the World, fechado devido ao escândalo. O novo jornal vendeu 3,26 milhões de cópias. O componente britânico do vasto império de mídia de Murdoch é pequeno. Mas nos EUA ele ocupa posição importante. Seu canal de notícias a cabo Fox News dita o tom da direita republicana.

WikiLeaks divulga milhões de e-mails sigilosos

As notícias sobre subornos no Reino Unido serão observadas com interesse pelo New York Times, que há muito concorre ferozmente com o Wall Street Journal, controlado por Murdoch.

No Reino Unido, os jornais de Murdoch tomaram a ofensiva. Kelvin MacKenzie, ex-editor do jornal The Sun, argumentou que, “se alguém que faz uma denúncia pede dinheiro, que mal há?” O editor-associado do The Sun queixou-se de “uma caça às bruxas em estilo soviético”. Akers respondeu em seu depoimento que “nosso objetivo é revelar crimes, não revelar fontes legítimas”.

Enquanto isso, o WikiLeaks começou a divulgar outros milhões de e-mails sigilosos, e Bradley Manning continua detido num presídio militar norte-americano por fazer o mesmo. Nenhum desses documentos foi obtido com suborno.

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[Kenneth Maxwell é colunista da Folha de S.Paulo]