Na semana passada, tornou-se pública a decisão da Fundação Cásper Líbero, de São Paulo – uma das mais antigas escolas de jornalismo do país –, de demitir o professor Edson Flosi, após 16 anos de contribuição à faculdade. Independente das qualidades profissionais de Flosi, a principal causa de revolta foi o fato de a demissão ter ocorrido enquanto o docente passa por um tratamento de câncer. A decisão foi revertida pela Cásper Líbero na segunda-feira (19/3), mas Flosi não aceitou o "convite" para voltar à instituição [ver abaixo].
Em solidariedade, na quarta-feira (14/3) o professor Caio Tulio Costa apresentou publicamente sua demissão voluntária da fundação, alertando também para outras deficiências que assolam uma das mais tradicionais faculdades de jornalismo do país: falta de investimento em infraestrutura e desvalorização dos professores são apenas alguns dos pontos citados.
Diante desses acontecimentos, ex-alunos da Cásper Líbero, grupo no qual me incluo, uniram-se na tentativa de dar visibilidade e frear essa prática antiética e autoritária. Mais do que um ato isolado, a demissão revela a postura mercantilista da administração, que compromete a qualidade de ensino da faculdade.
Repúdio pela demissão do professor Edson Flosi
“Foi com decepção e embaraço que nós, ex-alunos de jornalismo da Cásper Líbero, recebemos a notícia de que o professor Edson Flosi foi demitido da faculdade em meio a um tratamento de câncer, após 16 anos de contribuição à fundação. É lamentável que uma instituição de ensino tradicional estampe manchetes midiáticas como exemplo de insensibilidade e mercantilismo hostil.
Aplaudimos a postura do professor Caio Tulio Costa, que deu visibilidade não só a esse ato covarde, mas às inúmeras, e nossas velhas conhecidas, falhas da faculdade. Apesar do aumento exponencial das mensalidades pagas pelos alunos, parece-nos que a Cásper ainda opera na base da sucata. Triste saber que supostamente um dos melhores cursos de Jornalismo do país declina dia a dia.
Seja por crise financeira ou incompetência administrativa, nada justifica desassistir um funcionário dedicado em um momento de fragilidade. Se não há orçamento para oferecer laboratórios, estúdios, instrumentos de ensino adequados, que ao menos se ensine ética, respeito e hombridade.
Sentimos a obrigação de manifestar nosso repúdio à demissão. Ressaltamos nossa admiração e respeito pelo profissional e mestre Edson Flosi – hoje, um ser humano vítima de uma decisão imoral.”
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Professor demitido se recusa a voltar para a Cásper Líbero
Paulo Saldaña # reproduzido do Estadao.com, 19/3/2012
O professor e jornalista Edson Flosi se recusou a voltar para a Faculdade Cásper Líbero – de onde fora demitido, mesmo doente, na semana passada. Após a repercussão do caso, a faculdade divulgou nota na tarde desta segunda-feira em que convidava Flosi a reassumir suas funções. “Se eles não têm dignidade, eu tenho”, disse Flosi ao Estadão.edu.
O professor também divulgou nota em que repudia “qualquer manobra para esvaziar o movimento dos estudantes”. Diz a nota: “Minha resposta: não volto, não posso e não devo voltar”. Após a decisão da Cásper, o professor Caio Túlio Costa pediu demissão e os alunos fizeram manifestações. Os estudantes se colocaram contra a direção e pedem melhorias na estrutura da faculdade e no curso. Hoje [segunda, 19/3], houve assembleia pela manhã e uma outra estava marcada para a noite.
Na nota da Cásper, Caio Túlio não foi convidado a voltar. Procurado, disse que seu pedido de demissão é irrevogável.
Leia a íntegra da nota do professor Edson Flosi:
“Tomei conhecimento pela Imprensa do convite da Fundação Cásper Líbero e da Faculdade Cásper Líbero para reeassumir minhas funções naquela instituição de ensino, onde lecionei por 16 anos, até ser demitido em meio a grave doença que me acometeu. Minha resposta: não volto, não posso e não devo voltar.
“Não volto porque a manifestação estudantil não acontece apenas pela minha volta ou pela volta do Prof. Caio Túlio Costa, que se demitiu solidário à injustiça que sofri. Não volto porque a manifestação estudantil, conduzida pelo Centro Acadêmico Vladimir Herzog, tem o objetivo maior de lutar por melhores condições de ensino na Faculdade Cásper Líbero.
“Comigo e o Prof. Caio Túlio dentro ou fora da Faculdade, a luta dos estudantes deve continuar até que a Mantenedora e a Faculdade se dignem a atender suas reivindicações, principalmente a transparência entre a receita das mensalidades pagas pelos alunos e outras taxas, e o valor investido no ensino. Além da solidariedade que me emprestou, a falta de estrutura na Faculdade, que reflete no ensino deficiente, foi a bandeira levantada pelo Prof. Caio Túlio na sua carta de demissão.
“Os estudantes devem continuar lutando até conquistarem o que lhes é de direito. Agradeço comovido a manifestação estudantil que também acontece a meu favor e a favor do Prof. Caio Túlio. Mas o objetivo maior dessa juventude que paga mais de mil reais por mês para estudar deve ser perseguido até o fim. Qualquer manobra para esvaziar o movimento dos estudantes deve ser repudiada energicamente. A luta continua. Todo poder aos estudantes.”
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[Renata Dias é jornalista]