O governo do Equador está reticente. Deve decidir nesta semana se concede ou não asilo político ao ciberativista Julian Assange, o criador do site WikiLeaks.
O caso ainda vai se arrastar. Se obtiver o asilo, Assange dependerá de um salvo-conduto do Reino Unido para ir até o aeroporto, pois está refugiado na embaixada equatoriana em Londres. É um desfecho melancólico para o voluntarismo quase épico mostrado pelo grupo liderado pelo australiano.
Nada impede que amanhã os seguidores de Assange apareçam com um novo lote de documentos secretos e abalem vários países. Mas a probabilidade é pequena.
O WikiLeaks foi uma ideia certa e no lugar exato. Neste início de século 21, muita gente trabalha para governos ou grandes corporações e tem acesso facilitado a informações secretas. No passado, era arriscado vazar tais dados. Seriam milhares de fotocópias. Agora, milhões de páginas cabem em um pen drive.
Fonte seca
A melhor fonte de Assange teria sido o recruta norte-americano Bradley Manning. Aos 22 anos e baseado em Bagdá, ele teria copiado 250 mil telegramas da diplomacia dos EUA. Tudo foi parar no WikiLeaks.
A partir daí, Assange assistiu aos EUA sufocarem as finanças do WikiLeaks. Para piorar, o australiano se envolveu em um caso obscuro de abuso sexual de duas mulheres na Suécia. Está preso no Reino Unido. Já Manning possivelmente passará o resto de seus dias detido em algum presídio militar.
As fontes do WikiLeaks secaram. Os meios de comunicação tradicionais aprenderam o caminho. Vários já usam sistemas on-line, recebem dados e preservam as fontes. A vida segue. Diferentemente do que alguns disseram, o WikiLeaks não mudou para sempre a forma de fazer jornalismo. Assange ajudou a iluminar mais um caminho. OK. Mas é possível andar nessa estrada sem precisar de asilo no Equador.
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[Fernando Rodrigues é colunista da Folha de S.Paulo]