Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O imbróglio Assange

A concessão de asilo a Julian Assange por parte do governo do Equador criou um impasse diplomático e jurídico que poderá durar longo tempo, com o risco remoto de ser concluído de maneira traumática.

Assange, de origem australiana, fundou em 2006 a organização WikiLeaks, página na internet que congrega ativistas empenhados em obter e vazar dados confidenciais de governos ou organizações privadas.

O WikiLeaks mantém-se por meio de doações e seu alvo preferencial são os Estados Unidos. Não por acaso, Assange tornou-se celebridade internacional com a divulgação, em 2010, de informações sigilosas sobre a diplomacia americana contidas num acervo de 250 mil telegramas confidenciais.

Para divulgar o material, a organização fez acordos com cinco publicações de prestígio internacional. A Folha foi o sexto veículo a obter com exclusividade os dados.

Embora não pratique um jornalismo isento, mas engajado em determinadas causas, a atuação do WikiLeaks é legítima do ponto de vista da liberdade de informação e expressão. Despertou forte reação do governo dos EUA, que considerou o vazamento um ato de espionagem.

Em agosto de 2010, Assange viajou à Suécia, onde manteve relações com duas mulheres, fato que deu origem a um inquérito em que é acusado de estupro e assédio sexual. A Suécia requereu sua extradição, concedida em maio pelo Reino Unido, onde vive.

Assange alega que os relacionamentos foram consentidos. Considera-se vítima de perseguição política e teme que os suecos venham a entregá-lo a Washington. Por isso refugiou-se na embaixada equatoriana em junho e pediu asilo.

Posando de paladino da liberdade de imprensa -que não é-, o governo autocrático e antiamericano de Rafael Correa anunciou a concessão do asilo. Antes, os britânicos haviam ameaçado usar uma lei nacional que permitiria a invasão da embaixada -desatino que parece, por ora, descartado.

O Reino Unido decidiu não conceder salvo-conduto para que o australiano deixe o país. Baseia-se no argumento, razoável, de que o caso não caracteriza perseguição política. Assange diz que vai à Corte Internacional de Justiça, em Haia.

Caso análogo envolveu Colômbia e Peru em 1949. Temendo ser preso após levante contra o governo peruano, o ativista Raúl Haya de la Torre refugiou-se na embaixada da Colômbia, que lhe deu asilo.

O Peru, contudo, negou o salvo-conduto. O caso foi à Corte de Haia, que deixou aos dois países a busca de uma solução. Só em 1954 De la Torre saiu da embaixada e do Peru.