Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Google aceita cada vez mais as pressões

O top 10 dos países que mais pedem derrubada de conteúdo ao Google só traz democracias. Também uma democracia, a Itália, não está entre os primeiros, mas foi a sua Justiça que julgou e condenou à prisão depois dispensada três executivos do Google, por não retirarem do YouTube o vídeo de uma criança autista sendo agredida. Não chega assim a ser novidade a solicitação, agora no Brasil, da retirada de um vídeo que acusava uma pessoa de violência contra menor de idade – e o pedido de prisão, depois dispensada, de um executivo do Google que o manteve no ar.

Mas a prisão é um choque, em se tratando de liberdade de expressão, e até o Supremo se pronunciou ontem (27/9), com o ministro Marco Aurélio Mello cobrando do Congresso a aprovação do Marco Civil – que determinaria uma ação civil, não criminal, contra o executivo. Apesar das exceções pontuais, como no caso brasileiro, a novidade maior hoje é que o Google vem cedendo celeremente e sem maior resistência aos pedidos de censura apresentados não só por democracias, mais por quaisquer governos.

No caso da Alemanha, uma das líderes nos pedidos de derrubada, 77% das 103 solicitações feitas por órgãos governamentais, no segundo semestre do ano passado, foram atendidas pelo Google. Nos EUA, de 187, 42%. No Brasil, de 194, 54%. No episódio recente do vídeo contra o profeta Maomé, o Google até divulgou ter resistido à pressão do governo americano para tirá-lo do ar, mas na verdade derrubou no Egito, supostamente por conta própria, e aceitou decisão judicial em países como Índia e Paquistão.

De mãos dadas com Hollywood

Uma organização não governamental até então próxima do Google, a Electronic Frontier Foundation, questionou publicamente que a empresa “cedeu à pressão”, no que vê como mais um passo na restrição à liberdade de expressão pelas gigantes de tecnologia.

A mudança do Google resulta de um novo modelo de negócios. Antes voltada fundamentalmente a pesquisas, que lucram mais quanto maior é a liberdade de acesso na internet, a empresa agora também investe em serviços fechados, como sua loja no sistema Android e a rede social Google+.

Desde o ano passado sob o comando de Larry Page, o Google passou até a defender copyright, de mãos dadas com Hollywood, derrubando vídeos piratas no YouTube.

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[Nelson de Sá é colunista da Folha de S.Paulo]