A última notícia que aparece no site do Sindicato dos Jornalistas do Pará é de 13 de março do ano passado. Anuncia o início da campanha salarial de 2012, quase um ano atrás. Jornalismo é isso?
Fui presidente e vice-presidente desse sindicato, assim como meu irmão, Raimundo José. Já me desliguei da entidade. Certamente quem manda por lá não quer que eu volte. As notas de “solidariedade” que eventualmente emitiam (já não divulgam mais) só me faziam dar razão àquela sabedoria popular, que pede a Deus para cuidar dos amigos (dos inimigos, cuidamos nós mesmos).
A – digamos assim – inibição da direção sindical não é só por ter que terçar armas com grandes inimigos do setor, os patrões, donos dos empregos nas redações: é também porque sou mal visto pelos militantes corporativos, que dominam sindicatos e a federação nacional da categoria.
Meu pecado mortal, ainda que sempre confessado de público, sem o menor peso na consciência (muito pelo contrário), exposto aos debates dos que de mim divergem, é ser contra o monopólio do diploma do curso superior de comunicação social para o exercício da profissão de jornalista.
Os formados, formandos e candidatos ao canudo acreditam que ele é seu passaporte para o ingresso na carreira, o que, do ponto de vista estritamente burocrático, é verdade. Mas não garante a permanência nem é elemento de convicção quanto à qualidade do produto. Se fosse, o mundo inteiro estaria imitando o Brasil, que é lobo solitário quanto a essa exigência.
Ela foi instituída pelo mesmo governo que, seis meses antes, baixou as trevas do Ato Institucional número 5 sobre o pais e espalhou chumbo quente sobre a liberdade de expressão. A regulamentação da profissão de jornalista é coerente com o AI-5, não com a liberdade. Seus efeitos corporativistas persistem até hoje.
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[Lúcio Flávio Pinto é jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)]