O jornalista Rodrigo Neto, conhecido por denunciar crimes praticados por grupos de extermínio no Vale do Aço, leste de Minas, foi assassinado a tiros, na madrugada de sexta-feira (8/3), em Ipatinga (a 223 quilômetros de Belo Horizonte). Ele foi surpreendido por dois pistoleiros quando deixava, à 0h32m, o bar Churrasquinho do Baiano, no bairro Canaã. Os assassinos chegaram de moto e, sem tirar os capacetes, fizeram cinco disparos. Dois deles atingiram o jornalista na cabeça e no tórax.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas, deputado Durval Ângelo (PT), disse que, há uma semana, Rodrigo Neto o procurou para denunciar o assassinato de um idoso em Santana do Paraíso (Vale do Aço). O jornalista suspeitava de vingança, pois a vítima era pai de um dos suspeitos da morte, duas semanas antes, de um cabo da PM supostamente envolvido com grupos de extermínio.
Durval Ângelo, que estará em Ipatinga na semana que vem, revelou também que, em conversa com Rodrigo Neto, soube que o jornalista estava escrevendo com um colega, cujo nome mantém em segredo, um livro chamado “Crimes perfeitos”, sobre assassinatos em série na região envolvendo quadrilhas formadas por policiais militares e civis.
Cobrança de providências
Radialista e bacharel em Direito, Rodrigo Neto, de 38 anos, trabalhava na editoria de Polícia do Vale do Aço e era apresentador do programa Plantão Policial, da Rádio Vanguarda. O delegado responsável pelas investigações, Ricardo Cesari, disse que a hipótese de latrocínio (roubo com morte da vítima) está praticamente descartada, já que os assassinos não levaram carteira, notebook, máquina fotográfica e celular que estavam com o jornalista.
Ricardo Cesari disse que a polícia apura se, recentemente, Rodrigo procurou autoridades do Judiciário local para comunicar ameaças de morte. Duas equipes também levantam se os criminosos foram filmados por câmeras próximas do local do crime.
Repórter investigativo, Rodrigo apurou, há sete anos, a chacina de Belo Oriente, como ficou conhecido o assassinato de quatro pessoas da mesma família na zona rural de Belo Oriente, no Vale do Aço. As vítimas eram parentes do suspeito pela morte de um policial militar. Um ano depois, o jornalista voltou à carga ao denunciar o grupo de extermínio da “moto verde”, referência à cor da moto envolvida em crimes de extermínio e que pertenceria a um cabo da PM.
A Associação Nacional dos Jornais (ANJ), a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em notas, lamentaram o crime e cobraram providências para a punição dos culpados. O corpo de Rodrigo, que deixa mulher e filha, foi enterrado no sábado (9) em Ipatinga.
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Chico Otavio é repórter do Globo