A Justiça de São Paulo vai analisar a gravação da entrevista que Eduardo Jorge Caldas Pereira concedeu à revista IstoÉ em 2010 e que serviu de apoio à reportagem que apontou Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, como responsável por suposto desvio de R$ 4 milhões da campanha de José Serra à Presidência naquele ano.
Publicada no dia 13 de agosto de 2010, ”Um tucano bom de bico“, a primeira de uma série de três reportagens, afirmava que Vieira de Souza era acusado por líderes do PSDB de ter arrecadado dinheiro de empresários em nome do partido e não entregá-lo para o caixa da campanha. Entre os citados pela revista está Eduardo Jorge, vice-presidente do PSDB.
Na reportagem, a IstoÉ publicou que Eduardo Jorge disse que “ele [Paulo Preto] arrecadou por conta própria, sem autorização do partido. Não autorizamos ninguém a receber dinheiro de caixa 2. As únicas pessoas autorizadas a atuar em nome do partido na arrecadação são o José Gregori e o Sérgio Freitas”.
A declaração é o pivô de dois processos, um cível e um criminal, que Paulo Vieira move contra Eduardo Jorge. Paulo Preto propôs Ação Penal contra o líder tucano por crime contra a honra e Ação Cível em que pede indenização de R$ 1 milhão por danos morais. Desde que o caso veio à tona, Eduardo Jorge afirma que sua declaração à IstoÉ foi distorcida. No decorrer dos processos, ele pediu à Justiça que ordenasse à Editora Três a entrega da gravação original. Em cumprimento a ordem do juiz Rodrigo Garcia Martinez, da 29ª Vara Cível, o arquivo foi enviado no dia 17 de dezembro do ano passado.
Suspeitas infundadas
Em um trecho de seus 2 minutos e 54 segundos, há o seguinte diálogo:
IstoÉ–É sobre essa história de um arrecadador que supostamente teria sumido com o dinheiro que seria da campanha do Serra. A gente recebeu uma informação, chegou aqui pra gente, que o nome dessa pessoa é Paulo Vieira de Souza. Foi diretor da Dersa. A gente queria saber o seguinte: o partido, vão tomar alguma providência, o que tá sendo discutido, se esse dinheiro foi arrecadado com autorização, sem autorização.
Eduardo Jorge– Eu posso dizer pra você o seguinte: o Paulo de Souza não tem nenhuma ligação com o PSDB e não tem nenhuma ligação com o PSDB nacional e não faz parte da campanha do Serra. Com absoluta certeza. Eu nem sequer o conheço pessoalmente.
IstoÉ– Se ele porventura arrecadou, foi por conta própria e sem autorização do partido, é isso?
Eduardo Jorge– Sem autorização do partido, é claro.
IstoÉ– Se isso foi feito, o partido não ficou sabendo, né?
Eduardo Jorge– Não ficou sabendo, não tem conhecimento, não participou, não autorizou ninguém a receber dinheiro de caixa 2. As únicas pessoas autorizadas a atuar em nome do partido em arrecadação são as que estão no Comitê Financeiro, claramente identificados.
IstoÉ– Que é o Gregori e o…
Eduardo Jorge – …o Sergio Freitas
Ouça aqui a gravação da conversa.
“A gravação que eles juntaram já prova que eles mentiram”, disse Eduardo Jorge à ConJursobre sua conversa com o repórter da IstoÉ. “A gravação comprova integralmente o que eu sempre disse. A IstoÉ fraudou as minhas declarações”, continuou o líder tucano. Segundo ele, há outra gravação, mas que não foi entregue à Justiça pela Editora Três. Nesta segunda entrevista sobre Paulo Vieira, Eduardo Jorge diz que declarou à IstoÉ que hão houve desvio ou caixa 2.
Ele diz ver duas razões para o que classifica de “fraude” da revista: “A primeira razão é que eles estavam a serviço da candidatura do PT. Foi matéria de cunho eleitoral pra tentar atingir o José Serra. A segunda razão é que eles perderam um processo de indenização contra mim e achavam que podiam tirar uma vingançazinha. Em vez disso vão pagar mais outra indenização”. O caso em questão refere-se a reportagens publicadas no início dos anos 2000, quando ele foi investigado pela Receita Federal por suspeita de enriquecimento ilícito e de participar do desvio de dinheiro do Fórum Trabalhista de São Paulo. As suspeitas não foram comprovadas e Eduardo Jorge tem vencido as disputas judiciais sobre esse caso com a imprensa.
Sem respostas
Sobre a reportagem de 2010, o líder do PSDB move ação contra a Editora Três na Justiça do Distrito Federal na qual pede indenização de R$ 10 mil e retificação. “A IstoÉ me jogou no fogo mentindo, então pedi uma indenização.” Ele afirmou que pretende utilizar a gravação no processo. No último dia 30 de abril, o juiz Giordano Resende Costa, da 4ª Vara Cível do Distrito Federal, mandou a IstoÉ apresentar no prazo de dez dias cópia da gravação. “A mera análise da gravação da entrevista concedida pelo autor à requerida poderá comprovar se houve deturpação das informações fornecidas,” afirma o juiz.
A ConJur tentou contato com os advogados da IstoÉ, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.
** Ação Cível no TJ-SP 583.00.2010.177083
** Ação Penal no TJ-SP 0018564-69.2010.8.26.0004 (004.10.018564-2)
** Processo no TJ-DF 2012.01.1.142599-9
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Elton Bezerra é repórter da revista Consultor Jurídico