Saturday, 28 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Editoriais comemoram o
2°  turno para Presidência


Leia abaixo os textos de terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 3 de outubro de 2006


ELEIÇÕES 2006
Arnaldo Jabor


A opinião pública ainda existe


‘São duas horas da manhã de segunda feira. Só agora vou escrever este artigo, pois tinha de esperar o resultado da votação.


Estou vagamente irritado, pois escreverei até as cinco da ‘matina’, mas estou contente, porque a resposta do País foi sensata. Se o Lula fosse eleito no primeiro turno, como ele apregoava aos berros no palanque em S. Bernardo, num show onde ele parecia um Mick Jagger metalúrgico, a vitória seria péssima até para ele.


Se Lula fosse eleito em primeiro turno, estaria consagrada a mentira, o cinismo, a ocultação de provas, a arrogância truculenta dos métodos de campanha. Se Lula fosse eleito no primeiro turno, o País não entenderia seu destino, depois daquela campanha turbulenta, com a gralha do agreste Heloísa berrando slogans dos anos 30, com o Cristovam falando coisas sérias mas inaudíveis. Se Lula fosse eleito de cara, ele começaria um governo do eu-sozinho, sem um programa que o segundo turno vai obrigá-lo a fazer; se eleito fosse, o PT e aliados se sentiriam num clima ‘revolucionário’, os cutistas e sindicalistas estariam legitimados em suas sabotagens. O sabor de uma vitória em primeiro turno, com tudo ocultado, seria a vitória da violência contra a razão, se consagraria a idéia de que não precisava nem programa de governo, de que bastam as juras de amor ao ‘povo’, as belezas do analfabetismo e a grandeza da ‘sagrada ignorância operária’ para justificar um presidente.


Tudo que intelectuais e artistas ignorantes disseram, desde a ‘condenação da competência’, desde a atribuição dos mensalões a ‘uma invenção da mídia’, desde os brados boçais de dizer que ‘tudo sempre foi assim e que tem mais é que meter a mão na merda’ , que democracia é uma ‘patranha burguesa para enganar o povo’, todas as besteiras impunes que ouvimos nos últimos meses estariam legitimadas, co-honestadas pelo voto bovino e consagrador. O segundo turno será uma psicanálise para o Lula, uma revisão crítica de seu deslumbramento milagreiro, como um Tiradentes ou um Cristo traído. O segundo turno será bom para o Lula voltar à humildade mínima.


Nos últimos meses, houve uma batalha feroz entre marketing e mídia, entre propaganda e imprensa. A democracia estava desmoralizada pelos métodos pós-modernos de escolha. O PT estava vencendo uma revolução ridícula, mas era uma revolução: bolchevistas tardios estavam realizando o sonho secreto dos comunas – desmoralizar a democracia. Tinham imposto à opinião pública a depressão da impotência. Os mensalões, a careca do Valério, os dólares na cueca, o sólido cinismo dos acusados, a inutilidade das provas, tudo estava amortecido na memória, enquanto o ‘comandante’ proclamava que as ‘elites de direita’ seriam vencidas. E as ‘elites’ (quem são?) estariam acoelhadas diante da eufórica vitória populista. Mas, nem precisaram despertar uma direita (quem, se Barbalho e Newtão são aliados? ). Os próprios petistas trapalhões mais uma vez deram uma rasteira em Lula e em si mesmos. A invenção sublime do ‘dossier’ contra o Serra foi um gol-contra espantoso. Aliás, essa fascinante propensão do PT para destruir as próprias vitórias está a pedir um estudo sério. Freud tem um texto, se não me engano, chamado O Fracasso do Êxito, em que o vitorioso acaba se consumindo de culpa diante do sucesso. Nunca uma hipotética direita foi tão auxiliada por uma ridícula esquerda.


O segundo turno será muito bom para a democracia, pois os candidatos serão obrigados a discutir programas, para além das baixarias inevitáveis.


Agora, o Lula e seus assessores terão de ser democráticos. Os programas serão discutidos e a oposição terá tempo e ânimo para explicar ao ‘povo’ a cartilha da subversão pela corrupção, explicar como se invocam idéias sérias de grande homens do passado para, hoje, no presente, justificar uma chanchada oportunista de pelegos e bolchevistas aposentados. Será claro como eles pretendiam desconstruir a democracia reconquistada em 1985 em nome de um cadáver desmembrado apelidado de ‘socialismo’ que, por ser impossível hoje, se degradaria num baixo populismo de direita sob o apelido ‘de esquerda’. Agora, o povo vai prestar atenção na disputa, como um Fla-Flu decisivo. Acaba a profusão de times e de caras, acaba a poluição visual dos ratos e toupeiras ganindo no horário eleitoral e teremos um confronto.


Agora, estamos diante do mistério de uma disputa, mas não estamos mais perante o inevitável fracasso dos que venceriam. Antes, eu tinha a certeza do desastre, pela lógica mais óbvia da ciência política, pela banal previsibilidade dos voluntaristas e sindicalistas truculentos. Agora, a racionalidade vai se impor de novo. Idéias vão surgir, provas e autocríticas terão de aparecer. Estamos diante de um momento histórico interessantíssimo. Sei que os chineses dizem: ‘Pobres daqueles que vivem um momento histórico interessante’… Talvez, pois os ‘grandes momentos’ são em geral massacrantes e sanguinários. Mas, não no nosso momento. Veremos um país na mesa posta. Veremos um país dividido sim, não pela irracionalidade, mas entre duas tendências políticas. Um segundo turno nos fez reviver, nos sentimos mais respeitados.


Nós, que andávamos cabisbaixos, não somos mais palhaços manipulados por uma ditadura mole, disfarçada de democrática. Descobrimos, maravilhados, que a opinião pública ainda existe.’



Editorial


Por que Lula não levou


‘O presidente Lula só tem a culpar a si mesmo e ao seu partido pela derrota de domingo. Derrota, sim. Não há outro nome a dar para um resultado que vaporizou mais de meio ano de previsões baseadas em pesquisas que até a terceira semana de setembro davam como líquida e certa a reeleição em primeiro turno. Além disso, não apenas Lula não chegou lá, mas, numa arrancada final surpreendente, Geraldo Alckmin obteve nas urnas mais do lhe davam as mesmas sondagens recentes que já não permitiam dizer se a sucessão se resolveria em uma ou duas disputas. Ao começar a última volta do circuito, era quase geral a certeza de que o ex-governador paulista não conseguiria forçar a realização do tira-teima de 29 de outubro pela quase absoluta impossibilidade de transferir para si uma parcela dos votos lulistas tidos como inamovíveis. Pois foi o que aconteceu: comparando as derradeiras prévias com os fatos consumados de anteontem, vê-se que, em duas semanas, algo como 5 milhões de sufrágios mudaram de lado.


Mudaram, principalmente, no Brasil que é de desejar para todos os brasileiros – o menos distante das sociedades prósperas, educadas e modernas do mundo contemporâneo. Nos oito Estados com os melhores indicadores sociais, conforme o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, Alckmin só não venceu no Rio de Janeiro. E em nenhuma parte Lula chegou na frente com tão esmagadora vantagem como no Amazonas (12º mais baixo IDH do País) e no Maranhão (27º e último). Em resumo, pode-se dizer que Alckmin ganhou no Brasil que sustenta o governo federal e perdeu no Brasil que é sustentado pelo governo federal. No eleitorado do Brasil desenvolvido calaram fundo os dois eventos singulares que ao fim e ao cabo privaram o presidente do êxito definitivo que lhe parecia plenamente assegurado. Foram a sua ausência no debate da Rede Globo e o aparecimento na mídia das fotos do dinheiro que serviria para comprar o suposto dossiê antitucano, que a todo custo o Planalto tentou esconder.


No primeiro caso, Lula foi punido pela soberba. Contra o conselho dos mais próximos interlocutores, ele decidiu não enfrentar os seus adversários no grande momento da competição eleitoral. Confiando cegamente que, agisse como agisse, a maioria absoluta dos votos não lhe faltaria, ele subestimou o impacto da imagem da cadeira vazia, sobretudo nos telejornais do dia seguinte. Diziam os gregos que os deuses cegam aqueles a quem querem destruir. Mas a cegueira de Lula advém do fato de ele não conhecer os brasileiros tanto quanto imagina, notadamente os que não se deixam enganar pela sua retórica primária. Mesmo entre os seus correligionários e aliados, decerto não foram raros os que se decepcionaram com a sua recusa em participar de um evento político que a sociedade inteira considera essencial. A cadeira vazia simbolizou, assim, a arrogância que o fez garantir que iria ‘matar’ a eleição domingo.


No segundo caso, Lula foi atingido pela notória propensão de seus companheiros do PT para a delinqüência política. Nada tendo aprendido com o mensalão, talvez porque poucos pagaram pelo crime e o presidente recobrou a popularidade que parecia perdida em fins do ano passado, a ‘sofisticada organização criminosa’ petista imaginou que também sairia impune do golpe sujo contra o ex-ministro da Saúde e candidato ao governo paulista, José Serra, que armou em conluio com os chefes da máfia dos sanguessugas. Revelada a torpeza, Lula tentou em vão controlar os danos. Cobriu de impropérios os seus autores em público e tratou de impedir, nos bastidores, a veiculação das fotos da prova viva do escândalo. O fracasso da operação-abafa reavivou para muitos a já quase apagada memória do mensalão – ajudando a quebrar a safra reeleitoral do presidente. Agora, no que depender da oposição, a baixaria continuará assombrando a sua campanha até a enésima hora.


Um dos critérios para avaliar a robustez de uma democracia é a incerteza dos resultados eleitorais. A incerteza atesta a independência do eleitor e a diversidade de questões que ele leva em conta ao votar – geradora de surpresas, como o triunfo do petista Jaques Wagner na Bahia, em pleno feudo carlista, e a vitória de Yeda Crusius, com a exclusão do governador Germano Rigotto do segundo turno no Rio Grande do Sul. A cada eleição, o eleitorado dá provas de amadurecimento. Quanto mais vezes for chamado a se pronunciar, mais ele tenderá a usar a cabeça no dia D da digitação.’


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Eleição é notícia no mundo


‘A notícia do segundo turno na eleição presidencial correu ontem os principais jornais e sites de informação do mundo, da Argentina à China, passando pelos principais centros financeiros. Nos veículos, de modo unânime, a notícia da margem apertada de votos veio acompanhada de uma explicação: a pancada dos seguidos escândalos – e do dossiê Vedoin – na popularidade de Lula levou à sangria que provocou a realização de segundo turno com o candidato Geraldo Alckmin.


O jornal americano The New York Times registra uma votação ‘em clima sombrio’, num país abalado por um grave acidente aéreo. E explica que Lula ganhou no segundo turno há quatro anos, mas a administração petista ficou marcada por ‘um escândalo após o outro’. O diário destaca o crescimento de Alckmin, que ‘terminou em primeiro nos mais industrializados, modernos e prósperos Estados do Sul’. A capa do diário The Miami Herald tem fotos de Lula e Alckmin. The Washingnton Post e Wall Street Journal deram destaque à eleição.


Na Espanha, o jornal El País informou que Lula ‘ficou muito próximo’ de ser reeleito para um segundo mandato. Já o diário financeiro Expansion destacou o ‘entusiasmo’ de Alckmin e informou que Lula, ‘cuja candidatura sofreu as conseqüências dos escândalos de corrupção’, ainda não havia feito uma avaliação dos resultados que complicaram seu projeto de reeleição. O Le Monde, da França, abordou as dificuldades para o PT se manter no Planalto.


O britânico Guardian frisou que Lula ‘foi forçado a enfrentar um segundo turno após uma série de escândalos de corrupção e éticos que fizeram muitos eleitores se voltarem contra ele’. E prossegue com a avaliação de que as denúncias terminaram como ‘um tremendo revés para o presidente, que vinha sendo fortalecido por uma economia estável e sucessos em reduzir a pobreza’.O Guardian registrou a indefinição em primeiro turno e citou declaração do presidente Lula publicada ontem pelo Estado. ‘Estou com a alma machucada’, disse presidente, em reunião com a coordenação política de governo – declaração que foi traduzida para os britânicos. ‘Antes do ‘dossiêgate’, o senhor Alckmin era um outsider. Muitos acreditavam que ele só estava disputando porque rivais mais bem posicionados consideravam Lula muito popular para ser derrotado e preferiram esperar 2010.’


Também do Reino Unido, o site do Financial Times estampou a foto de Alckmin ao lado da manchete e criou uma página para detalhar as eleições no Brasil e a briga do segundo turno. O diário financeiro observou que a popularidade de Lula permaneceu forte durante boa parte da campanha, apesar da ‘série de escândalos’. E foi além, avaliando que ‘o governo tem sido criticado por não ter produzido o espetáculo de crescimento prometido por Lula’.


‘Brasil: ganhou Lula, mas haverá segundo turno’, diz o título estampado no alto da capa do Clarín, como principal manchete. Todos os jornais argentinos publicaram relatos, opiniões e números sobre a sucessão no Brasil. Classificada como ‘dramática eleição’, o Clarín tratou de explicar como o favorito a ganhar a eleição em primeiro turno deixou escapar a vitória no domingo, em quatro páginas de reportagens.


O La Nación também estampou em sua capa a principal manchete dessa edição: ‘Ganhou Lula, mas não conseguiu evitar o segundo turno.’ O jornal afirma que o resultado ‘desperta um suspense enorme sobre uma definição que, depois da recuperação da oposição, torna-se imprevisível’. A ‘precisão e rapidez’ do sistema eletrônico de votação mereceram elogios.’


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Analistas: Lula terá de se expor


‘Pesquisadores da área política ouvidos pelo Estado avaliaram ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição, deve fazer mudanças profundas em sua campanha, no segundo turno, se quiser ter chance de derrotar Geraldo Alckmin (PSDB-PFL). As sugestões têm em comum a recomendação para que o presidente tente reconquistar a classe média urbana, aparentemente perdida para os tucanos no fim da campanha, sob o fogo das denúncias envolvendo a tentativa de compra do dossiê Vedoin para tentar atingir o PSDB. Outra proposta é que o presidente saia para a campanha, forçando comparações e assumindo o discurso social.


‘Acho que a dúvida cruel de Lula é a seguinte: investir no Sul e Centro Oeste, onde foi profundamente derrotado, ou no Sudeste, onde a disputa esta mais equilibrada’, disse o cientista político Octavio Amorim Neto, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). ‘No Norte e no Nordeste, onde venceu, o presidente chegou a seu teto. A questão é tentar recuperar votos no Sul e no Sudeste.’


Amorim Neto afirmou que Lula precisa se mostrar disposto ‘a conciliar os dois Brasis’ revelados na eleição. Sua estratégia eleitoral, declarou, deveria apontar para o que pretende fazer no segundo governo, com gestos em direção às regiões mais industrializadas do País, onde se concentram a classe média e o antigo eleitorado petista.


‘O Sul está se sentindo abandonado, está em recessão, sofrendo com a valorização do câmbio’, afirmou. ‘Alguma coisa tem de ser prometida para o eleitorado do Sul.’ Segundo ele, para Lula é possível ganhar. ‘A grande questão é ter um bom segundo mandato.’


Outro cientista político, Geraldo Tadeu Moreira Monteiro, do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), também disse que o presidente Lula terá de recuperar os votos que perdeu entre os eleitores de classe média. ‘O presidente vai ter de se expor, sair da toca, ir aos debates, colocar em jogo a sua história.’


Mais: para Monteiro, Lula terá de ‘reunir seu grupo’ e assumir uma posição de esquerda. Deverá apresentar-se como homem de esquerda, preocupado com as questões sociais, e acusar Alckmin, que trabalha a imagem de competência gerencial, como um tecnocrata frio, sem sensibilidade.


‘Lula também vai ter de apelar para os movimentos sociais, MST, sindicatos, CUT, coisa que não fez’, disse. ‘E deverá assumir os erros, se expor. A estratégia escapista não deu certo.’


Para ele, a comparação com o governo Fernando Henrique Cardoso, anunciada por Lula como estratégia, pode ser usada, mas não deve ser ‘o norte’ da campanha. ‘Se fizer campanha mesmo, como candidato de esquerda, com história, ligado aos movimentos, como único capaz de fazer transformações, pode vencer.’’


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Tucanos são ‘lacerdistas sem brilho’, ataca Ciro


‘Ciro Gomes, ex-ministro da Integração Nacional e deputado eleito pelo Ceará, chamou ontem a oposição de ‘lacerdistas sem brilho’, que seriam responsáveis pelos mais graves escândalos da história republicana do Brasil. Ao sair de reunião do comando político da campanha de Lula, Ciro criticou a imprensa e arrolou o que considera escândalos dos governos tucanos.


Ao falar da imprensa, Ciro disse considerar parte dela de facciosa, irresponsável, indecente e alinhada. ‘O presidente Lula tomou uma estratégia de apresentar o seu governo e fazer uma prestação de contas, mas os seus adversários fizeram essa opção lacerdista, sem o brilho de Carlos Lacerda, de aviltar o debate brasileiro e nisso tiveram o papel coadjuvante de uma parcela interessada da imprensa’, afirmou.


Ao deixar o Palácio da Alvorada, o ex-ministro deixou claro que vai assumir o papel de tropa de choque da campanha de Lula no segundo turno. ‘Nós não ficaremos mais, se depender da minha opinião, sem resposta’, relatou. Ele reconheceu que essa estratégia pode abafar o debate de idéias, mas afirmou que a ‘política com calor’ revela mais. ‘Se a discussão ética tomou o relevo que tomou, vamos tratar dela.’’


Clarissa Oliveira


‘Votação só surpreendeu os institutos de pesquisa’


‘Apesar de ter se transformado em uma das principais ‘zebras’ da eleição deste ano, o empresário Guilherme Afif Domingos (PFL) garante que ele próprio não se surpreendeu com o resultado das urnas. Ex-deputado federal e ex-candidato à Presidência da República, o empresário atingiu a marca de 43,7% dos votos no domingo. Com isso, acabou perdendo para o favorito Eduardo Suplicy (PT) por pequena margem, de pouco mais de 700 mil votos, contrariando todas as previsões.


A avaliação que Afif faz desse cenário é que os institutos de pesquisa foram incapazes de demonstrar o real cenário que havia se formado na eleição para o Senado. ‘Não foi surpresa para mim’, disse. ‘O que foi surpresa foi o que os institutos de pesquisa fizeram.’ O empresário, que caracterizou as previsões feitas para a eleição no Senado como um ‘verdadeiro desastre’, contou que na manhã do dia da eleição tinha apenas 23% das intenções de voto.


Pouco mais de uma semana antes da ida às urnas, a diferença entre ele e Suplicy era ainda maior, segundo as pesquisas, ajudando a alimentar a expectativa de que o petista venceria a disputa com ampla margem sobre qualquer adversário. No dia 22 de setembro, dados divulgados pelo Ibope mostravam Afif com apenas 16% das intenções de voto. Suplicy, por sua vez, acumulava 42% da preferência do eleitorado paulista.


DIFICULDADE


Mas Afif não se restringiu a negar a surpresa com o resultado. Ele disse acreditar que poderia inclusive ter se saído melhor ainda nas urnas, se não fosse pelo fato de utilizar um número diferente dos demais membros da coligação à qual pertence.


‘Eu só não tive mais votos por causa do problema do número’, argumentou. Por pertencer ao PFL, o empresário tinha na urna o número 252, na disputa para o Senado. Enquanto isso, o governador eleito, José Serra, e o candidato à Presidência da República, Geraldo Alckmin, disputaram com o número 45, do PSDB. Afif disse acreditar que, provavelmente, uma quantidade relevante de eleitores anulou o voto por engano, ao digitar 45 na hora de indicar sua escolha para o Senado, na tentativa de apoiar o candidato da coligação.


Com ou sem a perda de votos, Afif não se mostrou desconfortável com a derrota De acordo com ele, a performance da coligação PSDB-PFL na disputa foi um sucesso. O motivo disso está em um único fator, na sua avaliação: o esforço conjunto de todos os partidos envolvidos e de seus integrantes. O resultado disso, segundo Afif, foi uma ‘campanha solidária’. ‘O trabalho que todos nós fizemos foi realmente impecável’, afirmou.


PLANOS


Mesmo tendo perdido a eleição, Afif garantiu que seu plano imediato não envolve qualquer tipo de afastamento da política no momento. O empresário explicou que, por enquanto, vai dedicar todo o tempo disponível para ajudar Geraldo Alckmin na disputa do segundo turno das eleições contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


‘A partir de já, o único projeto que tenho é ajudar o Geraldo’, afirmou. ‘Todos nós vamos ajudá-lo’, emendou.


E o empenho na política deve continuar depois de terminada a eleição, quando Afif pretende retornar à presidência da Associação Comercial do Estado de São Paulo (ACSP). A idéia, segundo ele, é dar início a uma ‘ampla mobilização em favor do voto distrital’.


Em uma referência à discussão em torno da necessidade de uma reforma política, Afif disse que o Brasil corre o risco de o Congresso Nacional ser invadido pelo ‘crime organizado’. ‘É mobilização pelo voto distrital urgente’, afirmou o empresário. ‘Senão, nós corremos um sério risco de o PCC fazer maioria no Congresso Nacional.’’


Keila Jimenez


Presidente vai ao debate. O primeiro será domingo


‘A TV Bandeirantes realiza o primeiro debate entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin no próximo domingo, a partir das 20 horas. Na Globo, o encontro está agendado para o dia 27, às 22h30, antevéspera da votação.


Ainda são poucos os detalhes do embate na Globo. A rede, que não contou com a presença do presidente no primeiro debate, realizado na quinta-feira passada, já obteve a confirmação da participação de Lula neste segundo turno.


No encontro do último dia 28, o presidente Lula manteve o suspense sobre sua participação até as 19 horas, quando, por comunicado oficial, avisou que não compareceria. No entanto, fez manifestações públicas de que iria a debates caso as eleições fossem levadas para o segundo turno.


Alckmin também confirmou presença no novo debate da Globo. Uma das poucas certezas da casa é a presença de William Bonner novamente no papel de mediador. Segundo a Central Globo de Comunicação (CGCom), as regras devem ser muito parecidas com as definidas na quinta-feira.


Nos debates de segundo turno realizados pela TV Globo em eleições anteriores, a emissora contou com a presença de uma platéia de eleitores indecisos selecionados pelo Ibope, que tinham direito a fazer perguntas aos candidatos. Até o momento, a Globo não menciona que será esse o modelo do encontro do dia 27.


Na Record só existe, por enquanto, a intenção de realizar um debate no dia 16, o que depende exclusivamente da confirmação da presença dos participantes. Os jornalistas Paulo Henrique Amorim, Celso Freitas e Adriana Araújo estão escalados para apresentar e mediar um eventual encontro.


No primeiro turno, a emissora chegou a iniciar negociações para um debate, mas desistiu diante da hipótese do não comparecimento dos candidatos que lideravam as pesquisas – para governos estaduais e Presidência.


NA BAND


Já na Bandeirantes as definições estão em estágio avançado. Segundo o diretor de Jornalismo do canal, Fernando Mitre, tanto Alckmin como Lula fizeram questão de confirmar ontem presença no debate, que será no próximo domingo, às 20 horas. A emissora chegou a marcar o programa para as 21 horas, mas antecipou o encontro em uma hora para não concorrer com o sono do público. Afinal, serão cerca de duas horas de confronto e o número de televisores ligados cai consideravelmente após as 22 horas. Comandado por Ricardo Boechat, o debate será dividido em cinco blocos.


Na primeira parte, os dois candidatos responderão a perguntas feitas pelo mediador e, mais adiante, terão direito a fazer uma pergunta ao adversário.


No segundo e terceiro blocos, candidato faz pergunta para candidato. Serão seis perguntas por bloco, com duração de 45 segundos cada e 2 minutos para resposta. Cada um terá direito a 1 minuto para réplica e o mesmo tempo para tréplica. No quarto bloco, só os três jornalistas da bancada – ainda não definidos – fazem perguntas.


No quinto e último bloco cada candidato terá direito a mais uma pergunta ao seu concorrente e serão abertos 3 minutos a cada um para as considerações finais.


O evento provavelmente terá platéia, com convidados de cada candidato. A Band não sabe ainda se abrirá vagas para outros convidados.


As emissoras também realizarão debates entre candidatos a governos estaduais nos dez Estados onde a definição se arrastou para o segundo turno. Na Bandeirantes, os encontros estão marcados para segunda-feira próxima, dia 9, às 21 horas.’


TELECOMUNICAÇÕES
Renato Cruz


Teles brigam pela independência da Anatel


‘O setor de telecomunicações prepara um documento com propostas para o novo governo, que deve ser encaminhado aos candidatos à presidência na próxima semana, pelos deputados Jorge Bittar (PT-RJ) e Julio Semeghini (PSDB-SP), que fazem parte da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara e foram reeleitos.


A versão preliminar da proposta defende mudanças na política de telecomunicações, como a redução de impostos para baixa renda, garantia de independência da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), universalização da banda larga e interatividade na TV digital.


‘O poder público precisa tornar claras as suas diretrizes, para evitar problemas como os conflitos surgidos na licitação de 3,5 GHz’, afirmou Jorge Bittar, referindo-se à licitação de freqüências para banda larga sem fio, com tecnologia WiMax. A concorrência foi paralisada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) no mês passado, depois de o ministro das Comunicações, Hélio Costa, ameaçar suspendê-la, para permitir que as operadoras de telefonia fixa comprassem licenças para sua área de concessão, o que havia sido proibido pela Anatel.


A independência da Anatel tem sido constantemente ameaçada pelo governo. O documento propõe ‘que sejam asseguradas autonomia e independência regulatória e fiscalizadora para a Anatel, fortalecendo-a administrativa e financeiramente, conforme disposição da Lei Geral de Telecomunicações (LGT)’. Ou seja, o setor pede que se cumpra a lei.


Newton Scartezini, da Abinee, foi mais longe: ‘Gostaríamos que o projeto de lei das agências reguladoras não existisse. O assunto já é tratado de forma satisfatória pela Lei Geral de Telecomunicações.’


A proposta, intitulada ‘As telecomunicações e o próximo governo’, já foi endossada pela Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil), Associação Brasileira de Concessionárias de Serviço Telefônico Fixo Comutado (Abrafix) e pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). A Associação Nacional das Operadoras Celulares (Acel), a Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (Telcomp) e a Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA) ainda avaliam o texto, apresentado ontem em versão preliminar antes da abertura da Futurecom, evento de telecomunicações que acontece em Florianópolis.


TV DIGITAL


A TV digital é um dos pontos importantes do documento. Não foi descartada a possibilidade de os primeiros equipamentos virem sem canal de retorno, que permite a comunicação entre a casa do cliente e a emissora. Isso limitaria muito a interatividade. O setor propõe ‘que a política de TV digital tenha, na interatividade, a ferramenta para a inclusão social e democratização dos serviços de governo e que se estimule a sua disseminação, com a utilização complementar das redes de telecomunicações existentes’. As emissoras de TV aberta temem que as operadoras de telecomunicações entrem no seu mercado, roubando audiência, o que causaria queda de receitas publicitárias.


Ainda sobre a distribuição de conteúdo, o setor pede que seja elaborada uma Lei Geral de Comunicação Eletrônica de Massa, que deveria prever, entre outros itens, o aproveitamento da ‘infra-estrutura de rede existente para democratizar, de fato, a oferta de conteúdo’. As operadoras querem derrubar as barreiras que hoje impedem, ou tornam mais fácil de contestar, sua entrada na oferta de vídeo. As empresas também pedem incentivos à produção de conteúdo nacional e regional.’


TELEVISÃO
Patrícia Cançado


Claro lança pacote com 10 canais de TV para celular


‘Enquanto a BenQ Siemens encolhia no Brasil, vendo sua participação de mercado despencar em apenas um ano, a Gradiente ganhava espaço na telefonia celular. A empresa brasileira foi uma das que mais lucraram com o enfraquecimento da concorrente no País.


No final de 2005, a Gradiente tinha 6% do mercado de celulares. Agora, a participação da empresa subiu para 10%. Ela ocupa o quinto lugar no ranking de vendas e se aproxima cada vez mais da coreana Samsung, hoje na quarta posição, segundo dados de mercado.’A Gradiente renovou seu portfólio, baixou preços e conseguiu ser uma alternativa à falta de produtos da BenQ no mercado’, diz Lúcio Domênico, gerente-geral da Gradiente Telecom.


O número chama atenção porque a Gradiente só voltou ao mercado de celulares no final de 2004, depois de cumprir a quarentena exigida pela venda de participação na sociedade com a Nokia, em julho de 2000. ‘A Siemens já foi muito forte no passado, mas depois que a BenQ entrou no negócio deixamos de ver ofertas da Siemens com as operadoras’, diz José Luís de Souza, consultor da Teleco. ‘Ela era forte na venda de aparelhos baratos.’


A empresa também se beneficiou de uma outra mudança importante no mercado, na opinião do diretor do Yankee Group para a América Latina, Luís Minoru Shibata. ‘As vendas de celulares neste ano migraram das operadoras para o varejo. E a Gradiente saiu ganhando, porque é uma empresa com muito traquejo nesse mundo.’ Atualmente, 7 em cada 10 celulares da Gradiente são vendidos no varejo tradicional.


REVIRAVOLTA


Além de Gradiente, Nokia e LG também avançaram nos últimos meses. A LG ocupa hoje a terceira posição no ranking e, segundo dados do mercado, se afasta mais da Samsung. ‘A LG ficou mais agressiva nos aparelhos GSM e fez uma mudança importante no seu portfólio’, diz um executivo do mercado.


O fracasso da operação da BenQ Siemens é sintomática de uma nova era. A disputa entre os fabricantes de aparelhos nunca foi tão intensa agora. Nokia e Motorola são os principais protagonistas dessa guerra.


A finlandesa Nokia, que havia perdido a liderança no Brasil para a Motorola no ano passado, recuperou o primeiro lugar em julho deste ano, depois de baixar preços e fazer uma renovação no seu portfólio.


A grande mudança ocorreu com a introdução de aparelhos dobráveis. ‘A Nokia demorou para se adaptar às mudanças. Ela acreditou que o mercado brasileiro fosse eternamente dominado por celulares de barra. Mas nas Américas, o dobrável é que faz sucesso’, reconhece Almir Narcizo, vice-presidente da Nokia Brasil. Hoje, 60% dos aparelhos da Nokia no País são dobráveis.


A Motorola tem um plano mundial agressivo. A companhia quer atingir a liderança até 2008. No Brasil, a distância entre Nokia e Motorola é pequena, inferior a dois pontos porcentuais. No mundo, ela é de cerca de 10 pontos. A reviravolta da Motorola começou com o Razr V3, o celular mais vendido de todos os tempos – em dois anos, foram mais de 50 milhões de unidades no mundo. Em agosto, a companhia fez lançamento de dois novos modelos e aposta nessa dupla para continuar crescendo. Resta saber se eles provocarão o mesmo impacto do aparelho anterior.’



Cristina Padiglione


Record quer debate


‘No primeiro turno das eleições, apenas Bandeirantes, Gazeta e Globo tiveram disposição para bancar debates, arcando com as possíveis ausências de quem liderava pesquisas – caso de Lula e de Aécio Neves em Minas, e de José Serra na Band e na Gazeta, em São Paulo. SBT e Record desistiram de correr esse risco. Agora, para segundo turno, o embate para a presidência da República deve ocorrer somente na Band e na Globo. A Record, por exemplo, só agora começa a correr atrás de Luiz Inácio Lula da Silva e de Geraldo Alckmin.


Ambos confirmam presença na Band para o próximo domingo, às 9 da noite. Na Globo, o encontro está marcado para o dia 27, antevéspera da votação.


Diga-se que todos os canais prometem cobertura intensiva de eleições, mas a Band continua a honrar a promessa como ninguém. A Globo deu conta do recado à base de boletins; Cultura e Gazeta bancaram a interrupção da programação após as 17 horas e o SBT se resumiu aos intervalos comerciais.


Não é um tema que atraia ibope, daí a ousadia de quem pára tudo para priorizar a informação. A Band ficou no patamar dos 4 pontos entre 17 e 22 horas. É mais do que o horário costuma registrar em São Paulo e representa 220 mil domicílios.


entre- linhas


Quem diria, João Gordo, da MTV, agora é procurado por empresas de licenciamento para lançar produtos com a marca dele. Um dos projetos já fechados é o lançamento de um tênis. Em pesquisas do mercado com o público jovem, ele aparece como modelo de personalidade ‘descolada’.


A vida imita a arte. Ana Furtado, que viveu há pouco uma grávida em Páginas da Vida, está grávida na vida real. Manoel Carlos deve inventar outra gravidez para sua personagem, Lívia, na novela.


E por falar em Páginas, no capítulo de sexta-feira, Sônia Braga parecia estar vivendo ela mesma em cena com cara de ‘presente’ do autor. Sua personagem, Tônia, explicava por que tinha voltado ao Brasil, declarava seu amor pelo País e dizia que ficaria onde o público quisesse que ela ficasse.


A novela Bicho do Mato, da Record, terá em breve uma passagem de tempo. Para tanto, os personagens sofrerão uma mudança no visual.


Não foi só no You Tube que o vídeo de Daniella Cicarelli fez sucesso. Nos sites sobre celebridades, as notícias relacionadas à modelo lideraram o ranking das mais acessadas nas últimas duas semanas.


O canal pago Cartoon Network está realizando uma votação em seu site www.cartoonnetwork.com.br para a criançada escolher seu desenho preferido. Os mais votados serão exibidos no Dia da Criança.’


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 3 de outubro de 2006


ELEIÇÕES 2006
Editorial


Punição pelo voto


‘UMA DAS boas notícias desta eleição é que muitos parlamentares acusados de comprometimento em escândalos foram rechaçados nas urnas. Houve exceções, mas, de um modo geral, o eleitor foi implacável com os envolvidos em denúncias.


Dos 69 deputados federais listados pela CPI dos Sanguessugas, apenas cinco se reelegeram. Dito de outra maneira, 93% dos deputados sanguessugas não estarão de volta na legislatura que se inicia no ano que vem, a maioria porque foi formalmente rejeitada pelos eleitores.


Dos três senadores cujos nomes apareceram relacionados ao superfaturamento de ambulâncias, apenas Ney Suassuna (PMDB-PB) enfrentou a reeleição. Fracassou.


Em relação aos mensaleiros, o eleitor foi mais brando. Dos 11 deputados que foram absolvidos pelo plenário da Câmara, cinco obtiveram novo mandato na eleição de anteontem. Como consolo fica a constatação de que os partidos mais flagrantemente implicados no escândalo viram suas bancadas encolher. É o caso do PTB, do PP e do PL.


Outra baixa ilustre foi a deputada Ângela Guadagnin (PT-SP), que não foi reeleita. A parlamentar atraiu sobre si a ira popular ao ensaiar passos de balé para comemorar a absolvição de um companheiro mensaleiro.


Também é digno de nota o caso do ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE), que renunciou ao mandato para fugir do processo de cassação, depois de ter sido apanhado numa história de extorsão. Severino não foi reeleito, numa demonstração de que informações chegam a todas as regiões do país.


A taxa de renovação da Câmara permaneceu próxima de seus patamares históricos. Dos atuais 513 deputados, 46% não voltarão à Casa na próxima legislatura. Nas últimas três eleições, os índices foram de 55%, (1994), 41,9% (1998) e 41,6% (2002).


Outro ponto positivo é que os próximos parlamentares assumirão seus mandatos num ambiente que, ao que tudo indica, será institucionalmente melhor. O voto secreto em plenário para cassações, que facilitou as absolvições de deputados, está com seus dias contados. A emenda constitucional que o extingue deverá ser aprovada em breve.


Ainda que a um passo muito mais lento do que o desejável, medidas saneadoras têm sido introduzidas no Congresso Nacional. Até poucos anos atrás, a imunidade parlamentar, por exemplo, abarcava não apenas os chamados delitos de opinião, mas também crimes comuns. É preciso insistir nessa rota.


É alvissareiro o fato de o eleitor ter escorraçado a maioria dos sanguessugas e boa parte dos mensaleiros. Resta esperar que os novos representantes se mostrem à altura do cargo. Alguns dos nomes das listas de mais votados recomendam ceticismo.’


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Primeiro debate presidencial será no domingo


‘Um eventual acordo entre as campanhas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) poderá adiar para a próxima semana o recomeço do horário eleitoral gratuito do segundo turno. Antes disso, os dois podem se encontrar no primeiro debate entre presidenciáveis na TV, que será realizado pela Band, no domingo.


Segundo o calendário eleitoral do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a propaganda política permanecerá no ar até o dia 27 de outubro, antevéspera do segundo turno. Também haverá horário eleitoral de candidatos a governador em dez Estados onde haverá nova votação.


A Lei Eleitoral prevê o reinício dos programas de rádio e de TV pelo menos 48 horas depois da proclamação do resultado oficial das eleições. O TSE pretendia proclamar o resultado da eleição presidencial ontem à noite e já tinha praticamente pronto o novo plano de mídia.


Entretanto o reinício do horário eleitoral deverá depender principalmente da conveniência das campanhas de Alckmin e de Lula, que terão de planejar a produção das novas peças. O reinício da propaganda na TV tem de ocorrer, segundo o TSE, até a próxima segunda-feira.


A eleição presidencial foi encerrada com a destinação de 48,61% dos votos válidos a Lula e 41,64% a Alckmin, entre os 104,820 milhões de eleitores.


A propaganda da eleição presidencial terá dois blocos diários de 20 minutos cada, além de inserções ao longo da programação das emissoras, inclusive aos domingos. O tempo será distribuído igualitariamente entre Lula e Alckmin.


Nos dez Estados em que haverá segundo turno, os candidatos a governador também terão dois blocos de 20 minutos, que seguirão os programas dos presidenciáveis, e inserções.


Debates


Já estão definidas as datas de três debates presidenciais na TV, onde Lula e Alckmin deverão se enfrentar. O primeiro deles está marcado para domingo, às 21h, na Band.


Segundo a emissora, os dois candidatos confirmaram a participação. Em seguida, no dia 17, está marcado para acontecer o da TV Gazeta.


O mais próximo do dia de votação será o evento da Rede Globo, no dia 27, na antevéspera do segundo turno. A Record afirmou ontem que fará o debate, mas não definiu ainda a data.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Na Globo, na Globo


‘Lula deu entrevista coletiva, enfim. A Globo News transmitiu ao vivo, passando em seguida uma outra coletiva, de Geraldo Alckmin, gravada pouco antes.


Fim de tarde e Fátima Bernardes noticia que o petista ‘chamou de bandidos os autores do dossiê contra candidatos do PSDB’. E mostrou trecho com Lula falando por que agora vai aos debates. Em seguida, cenas de Alckmin almoçando em bandejão e dizendo que quer o crescimento, ‘o que interessa pro povo’.


No ‘JN’, mais entrevistas com os dois, curtas, 1min20s. Agendadas às pressas, erraram até enquadramento. Lula soou tenso -e confuso diante da única pergunta. Alckmin, com a mesma, passeou sobre crescimento e ética. William Bonner achou por bem explicar que a ordem dos dois foi tirada em sorteio.


SEM BONDADE


Após vencer até correntes de internet, Alexandre Garcia, como tantos políticos, deu a volta por cima e passa os dias como estrela global -de novo.


Ontem era entrevistado na emissora e dizia que Lula achou ‘que pacotes governamentais de bondade seriam suficientes para liqüidar no primeiro turno’. Previu campanha ‘temperada pelas investigações, como no dossiê’.


AMIGOS, SEMPRE


Fernando Collor estava ontem diante de um microfone da Globo -de novo- mas o ‘JN’ só registrou seu voto de domingo. Foi na Globo News que ele declarou, sobre o que encontrará em Brasília, ‘amigos, sempre, hoje sou homem que só quero fazer amigos’.


Na Band, defendeu ‘reforma política para coibir esse tipo de abusos que vêm sendo praticados por todo o Brasil’.


ACM, A DERROTA


O ‘Jornal Nacional’ ouviu Paulo Souto, mostrou ACM ao lado dele e falou em ‘fim de uma hegemonia de 16 anos do PFL’. Mas a imagem do dia -ou das últimas décadas, na Bahia- estava na primeira página do jornal ‘A Tarde’, com ACM de cabeça baixa, ao receber à noite a notícia da derrota de Souto para o petista Jaques Wagner.


Segundo o Terra, no texto intitulado ‘ACM, a derrota’, ‘Luciano da Matta, fotógrafo do jornal ‘A Tarde’, teve poucos segundos para flagrar o momento histórico’.


CASAL PARTIDO


Do ‘Times’ de Londres ao ‘Washington Post’, a cobertura pelo mundo foi reproduzida ontem no ‘JN’, apresentada por Fátima Bernardes.


Resta acrescentar, talvez, que o correspondente do ‘New York Times’ no Rio, Larry Rohter, seguiu a votação num ‘bairro de classe média’ e ouviu um casal ‘dividido’ como a cidade e o país.


NO MELHOR MUNDO


Do dia, o despacho mais esclarecedor nos sites de jornais estrangeiros era da agência AP, sob o título ‘Resultado surpreendente no Brasil leva os investidores a festejar’.


– É o melhor de dois mundos: um segundo turno entre um esquerdista que governa como conservador fiscal e um amigo-dos-negócios e ex-governador do Estado mais rico.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Rede católica boicota filme de Paulo Betti


‘Uma das três redes católicas, a TV Século 21 (canal 59 na Grande SP) cancelou entrevista com Paulo Betti após descobrir que ‘Cafundó’, filme que marca a estréia do ator como diretor, retrata a vida de um negro, João Camargo, que fundou no século 19 uma religião que fundia catolicismo, candomblé, umbanda e espiritismo.


A entrevista estava marcada para a tarde da última quinta, nos estúdios da Século 21, em Vinhedo (SP). Naquele dia, Betti deu entrevistas em Campinas. João Camargo viveu em Sorocaba, cidade vizinha.


Após receber um texto detalhando o filme, uma funcionária da Século 21 desmarcou a entrevista com Betti. Enviou à assessoria do ator um e-mail em que informava: ‘Pelo conteúdo do filme, não podemos fazer a divulgação, pois a história se baseia em outras religiões além da católica. Como você deve saber, a TV Século 21 é uma TV educativa católica, por isso não podemos mostrar nada de outras religiões’.


Paulo Betti reagiu indignado. ‘Isso é um reflexo do nosso país. Nosso país é hipócrita. A gente se recusa a perceber o racismo. E há também discriminação religiosa’, disse.


Claudio Ferrari, advogado da Século 21, diz que houve um ‘engano’ de uma estagiária, ‘que confundiu o filme com o teor dos programas’ da emissora _que cobre 147 municípios por sinal aberto e 15 milhões de domicílios via parabólicas.


ARENA POLÍTICA 1A Globo anuncia para o próximo dia 27 o debate entre Lula e Geraldo Alckmin. O formato será o de arena, com os dois candidatos em pé no estúdio.


ARENA POLÍTICA 2Como em 2002, a Globo quer que um grupo de eleitores indecisos faça perguntas, além de outras novidades que pretende inserir na dinâmica do debate. Mas isso ainda depende de conversações com os partidos.


PRÉ-ESTRÉIA A Band também fará debate neste segundo turno. Agendou o evento para o próximo domingo, a partir das 21h.


RASANTE A Record liderou o Ibope sábado à tarde, durante 29 minutos, com um programa sobre a queda do avião da Gol.


INDIFERENÇA 1Foi irrelevante o impacto das eleições na audiência anteontem. Durante a tarde, o número de televisores ligados foi menor em relação ao domingo anterior (49% contra 55%). À noite (18h/0h), 70% dos aparelhos da Grande SP estiveram ligados _foram 66% no dia 24.


INDIFERENÇA 2Na média de todo o dia (7h/ 0h), o total de televisores ligados foi um ponto percentual menor do que no domingo anterior (51% a 52%).


TRUQUEFoi gravado horas antes da exibição o material com o grupo RBD mostrado anteontem pelo ‘Domingo Legal’. Apesar disso, o SBT não disparou no Ibope. Durante a apresentação do RBD, o programa deu 15 pontos, e a Globo, 26.’


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Fazendo Media (www.fazendomedia.com.br)


Terça-feira, 3 de outubro de 2006


ELEIÇÕES 2006
Mário Augusto Jakobskind


Mídia conservadora evita aprofundar o debate político


‘É isso aí. Estamos de ressaca eleitoral. Os institutos de pesquisa e a mídia conservadora desempenharam o seu papel no primeiro turno. O dossiê com a história mal contada foi o ‘fato novo’ que apareceu e, sem dúvida, contribuiu para que a eleição presidencial se estendesse para o segundo turno. Uma nova eleição, como dizem os colunistas de sempre, que se posicionaram contra o candidato Luiz Inácio Lula da Silva.


Agora, quando começa a primeira semana de campanha eleitoral, onde se espera que finalmente os projetos sejam debatidos, o conservadorismo gênero casa grande está a toda. Para ter os apoios que necessitam, tanto Lula como Alckmin precisam dizer a que vieram. Ou seja, precisam se definir em inúmeras questões.


O candidato tucano precisaria ser questionado, o que será difícil acontecer em debate do gênero televisão, sobretudo na Globo. O tal debate da emissora de TV de maior audiência do país, que os colunistas de sempre preferiram não analisar com mais profundidade e foram unânimes em criticar Lula pela ausência, faz parte do esquema neoliberal de despolitizar a política. É isso que as elites tupiniquins querem, pois desta forma contam em seguir adiante o esquema de dominação. Vamos ver o que acontecerá com dois candidatos apenas.


Perigo do retrocesso


O Brasil, neste momento, está numa encruzilhada. Na verdade, tanto Lula como Alckmin são de agrado do sistema. O segundo ainda mais, pois representa o esquema de dominação tradicional, sem possibilidade alguma de o país avançar em alguns pontos, como, por exemplo, na política externa. Se eleito, Alckmin colocará nos trilhos da subserviência, ao estilo FHC, a política do Itamaraty. Com Lula, pelo menos em matéria de política externa e de integração latino-americana, o Brasil avança.


Em matéria de política econômica, o projeto neoliberal tenta seguir adiante. Seus defensores, entre eles Alckmin, querem levar adiante as tais reformas sindical e trabalhista que representariam o retrocesso. E isto poderá acontecer até mesmo com Lula, caso o movimento social não saia da letargia dos últimos tempos. Lula, ao menos, até pelo seu passado, tem maiores propensões a ouvir o ronco das ruas. Coisa que não acontece com o esquema tucano-pefelista, que é guiado pela velha filosofia do ‘choque de capitalismo’, que significa na prática maior arrocho para os trabalhadores e a continuidade do Consenso de Washington.


A mídia conservadora, praticamente sem exceção, vai jogar tudo no sentido de evitar que as eventuais diferenças fiquem claras. Faz parte do jogo da dominação. Afinal, na politicalha pós-moderna em que tentam transformar o Brasil, para que discutir os nefastos leilões do petróleo, o fortalecimento do Estado, a distribuição de renda, a privataria promovida na era FHC e que poderá voltar com Alckmin, entre outros pontos?


Será que aí tem truta?


Vem dossiê para tudo que é canto. Ou melhor, o dossiê continuará na ordem do dia como forma de impedir o debate das grandes questões que colocam em xeque o esquema neoliberal.


Ou seja, os colunistas de sempre vão forçar a barra no sentido de continuar as ‘cobranças’, mas de forma alguma questionar que o episódio dossiê em si é mal contado. Pergunta-se: serão os trapalhões do PT que correram atrás do dossiê apenas trapalhões? O que se esconde atrás do episódio? Alguém já imaginou a possibilidade de alguma armação sob a orientação de serviços de inteligência, nacional ou estrangeiro, fazendo o jogo da direita? É claro que a armação, como parece indicar, só foi possível acontecer porque teve um grupo que correu atrás, seduzido pelo canto da sereia do dossiê… E porque não se questionar se no interior do PT existem os muy amigos a serviço sabe-se lá de quem?…


E o dossiê em si? Parece que caiu no esquecimento. Á mídia conservadora não cobrou, nem vai cobrar, o esclarecimento das denúncias. O principal, para eles e Alckmin, é apenas a origem do dinheiro. A opinião pública quer que tudo seja esclarecido, não apenas a origem do dinheiro. E o tal agente da Polícia Federal que tornou pública as fotos da grana? Agiu por dinheiro? Edmlson Bruno, nome da peça, diz que não etc. e tal.


Enquanto isso, o Wall Street Journal, uma espécie de porta-voz do mundo financeiro, garante que tanto Alckmin como Lula vão manter os compromissos do mercado. Ou seja, a turma que vive do cassino mundial das finanças confia que o Brasil não ‘sairá dos trilhos’. E sair do trilhos significa não aceitar o jogo que mais cedo ou mais tarde levará o Brasil para dias ainda piores.


Mas, moral da história, existe o ainda pior, ou até muito pior, que circula com o apoio da mídia conservadora. Este ainda muito pior significa Geraldo Alckmin. A mídia conservadora, Veja, Época, Folha, O Globo, Estadão, JB, TV Globo, Bandeirantes e rádios como a CBN e outros regionais tentam esconder o jogo, se é que possível, na base do ouvir o ‘outro lado’.


A palavra está agora com os eleitores de Heloísa Helena, Cristovam Buarque e os que votaram nulo. Eles poderão ser o fiel da balança para decretar o não ao retrocesso que representaria para o Brasil, leia-se trabalhadores e povo brasileiros, o retorno do esquema PSDB-PFL ao governo.


E, na Bahia, Jacques Wagner acabou com 16 anos de hegemonia do conservadorismo de Antonio Carlos Magalhães. Este senador que recentemente até pediu a volta dos militares julgava-se o senhor de todos os anéis… Espera-se que a derrota do PFL signifique em definitivo o ocaso desta figura nefasta da política brasileira chamada Antonio Carlos Magalhães.


Seis anos de intifada


Ao mesmo tempo em que os 105 milhões de brasileiros iam às urnas, ou se preparavam para ir às urnas, em uma outra parte do planeta, mais precisamente na área palestina, acontecia no último dia 28 de setembro o sexto aniversário da ida de Ariel Sharon a uma mesquita em Jerusalém, fato que serviu de estopim para o início da segunda Intifada, a revolta palestina contra a ocupação israelense.


O saldo é trágico. Soma-se a isso o constrangedor silêncio da mídia e pode-se imaginar o que está acontecendo por aquelas bandas. Para se ter uma idéia, desde aquele dia do ano 2000 já foram presos 50 mil palestinos, sendo o número atual de encarcerados nas masmorras israelenses de 10.100 pessoas. Desse total, segundo dados fornecidos pela Autoridade Palestina, 104 são mulheres, sendo que quatro delas têm menos de 18 anos. Outras três, grávidas, deram à luz na prisão.


Tem ainda mais: nessa segunda Intifada foram presas mais de cinco mil crianças palestinas, encontrando-se ainda em cárceres de Israel 335 menores de idade, sendo que 99 estão doentes e não recebem assistência médica. Dois deles têm menos de 13 anos, outros seis são menores de 14 e trinta e quatro menores de 15 anos. As estatísticas mostram que 57 menores de 16 anos estão também presos, 145 com menos de 17 anos e 91 com menos de 18 anos de idade mofam em 30 cárceres israelenses.


Também sob quase total silêncio da mídia ocidental, 41 Deputados do novo Conselho Legislativo encontram-se encarcerados.


Por estas e muitas outras incursões israelenses quase diárias, a paz na região está cada vez mais distante. Deve-se desconfiar, portanto, quando Condoleezza, Bush ou algum outro falcão da Casa Branca falam em paz no Oriente Médio. E a direita israelense, cada vez mais apoplética, de vez em quando repete o discurso dos seus protetores.


O que os governos dos Estados Unidos e Israel querem implantar é apenas a paz dos cemitérios. E, claro, com a ajuda a mídia conservadora mundial para fazer as cabeças.


Mário Augusto Jakobskind é jornalista e escritor. Foi colaborador dos jornais alternativos Pasquim e Versus, repórter da Folha de S. Paulo (1975 a 1981) e correspondente da Rádio Centenária de Montevideo, além de editor de Internacional da Tribuna da Imprensa (1989 a 2004) e editor em português da revista cubana Prisma (1988 a 1989). Atualmente é correspondente do semanário uruguaio Brecha e membro do conselho editorial do Brasil de Fato. É autor, entre outros, dos livros Dossiê Tim Lopes – Fantástico/Ibope (Europa, 2004), A Hora do Terceiro Mundo (Achiamê, 1982), América Latina – Histórias de Dominação e Libertação (Papirus, 1985) e Cuba – apesar do bloqueio, um repórter carioca em Cuba (Ato Editorial, 1986).’


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