A educação é tema crucial em qualquer reflexão séria sobre os destinos do país. Nos últimos meses, fatos novos demonstram que a questão (complexa, polêmica, estratégica) tornar-se-á imprescindível nas futuras discussões políticas.
O MEC em evidência, basta ler sites e jornais.
Por exemplo, com relação ao novo acordo ortográfico. O trema que se vai, a incorporação das letras K, Y e W ao alfabeto e outros detalhes são o de menos. Relevante é o que está no bojo disso: o papel de liderança cultural do Brasil na comunidade lusófona, maior aproximação com os países africanos de fala portuguesa, as possibilidades comerciais no campo editorial.
Outro fato digno de nota. No final de julho, o MEC conseguiu firmar acordo com as entidades do Sistema S com respeito ao uso dos recursos arrecadados pelas empresas. Foram dois meses de tensão. O que o MEC desejava era ampliar as vagas gratuitas no ensino profissionalizante do Senai, Senac etc. Pressionou, gerou desconforto, obteve o que pretendia.
Também em julho, o MEC anunciou o projeto ‘Computador Portátil para Professores’. A inclusão digital dos docentes ativos das redes pública e privada de educação básica, profissional e superior. Estamos na Idade Mídia e ainda há professores agarrados ao tempo do mimeógrafo. Mesmo com salários baixos ou modestos, os professores conseguirão ingressar na contemporaneidade. Pelo menos é o que se espera.
‘Passou o recibo’
Ainda em julho (quem disse que era mês de férias?), com a ajuda dos senadores Cristovam Buarque (PDT) e Ideli Salvatti (PT), aprovou-se o piso nacional dos professores, no valor inicial de R$ 950,00 para 40 horas semanais de trabalho. Muitos prefeitos e governadores, distraídos, acostumados a tratar os professores como profissionais de segunda categoria, não viram o que aconteceu e agora resistem à idéia de obedecer à lei.
Em suma, apesar de sua tradicional burocracia, de sua lentidão, o MEC tem trabalhado.
Início de agosto. Ao comentar novos resultados de avaliação do ensino superior, o ministro Fernando Haddad aproveitou a oportunidade para avisar que a ‘festa’ das aprovações fáceis pelo Inep (órgão de avaliação do MEC) acabara. Sintomaticamente, o ex-ministro da Educação, Paulo Renato Souza (PSDB), sentindo-se atacado, veio a público afirmar que Haddad é um oportunista e que o atual sistema de avaliação ‘não significa nada’.
Sócio-presidente da PRS Consultores, empresa de consultoria especializada na ‘indústria do conhecimento’, criada em 2003, Paulo Renato ‘passou o recibo’, como se costuma dizer, porque a referência à festa inclui o próprio período da atual gestão Haddad. Não se tratava, portanto, de uma crítica específica ao modo tucano de conduzir a educação.
Agora, se é verdade que a festa acabou mesmo, vamos festejar!
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Doutor em Educação pela USP e escritor www.perisse.com.br