Desde a campanha presidencial de 2006, o tema ‘educação’ ganhou destaque recorrente na mídia, não tanto como pedra de toque das promessas dos candidatos, mas como realidade calamitosa a ser transformada (seja quem for o governante).
Calamitosa, sim, para lembrar o livro de Darcy Ribeiro – Nossa escola é uma calamidade (1984). De todos os candidatos, Cristovam Buarque, ex-ministro da Educação, foi o único a abordar a questão com ênfase: ‘Precisamos trazer para o colo do presidente e da União a preocupação com a educação das crianças.’
Em 22 de julho de 2006, O Globo publicou um caderno – ‘Escola Brasil’ – em que expunha o retrato da educação: mazelas (‘no país, a cada dois minutos, um aluno entre 15 e 19 anos deixa a escola sem concluir os 11 anos de escolaridade’), iniciativas heróicas, testemunhos desiludidos, opinião de especialistas e as propostas dos presidenciáveis (Lula, Alckmin, Heloísa Helena…) e dos que disputavam o governo do Rio (Sérgio Cabral, Marcelo Crivella, Denise Frossard…).
‘Modelo não dá conta’
Uma rápida pesquisa mostra que, ao longo de 2007, a educação ganhou matérias, entrevistas e análises cujo intuito era mais ou menos o mesmo: provocar perplexidade e despertar alguma esperança. Em pelo menos duas ocasiões a capa da revista Época centrou-se no tema. Em abril (nº 466), Ana Aranha assina ‘O que as escolas precisam aprender’, alertando para a defasagem entre a escola e o mundo ‘globalizado, dinâmico e conectado’.
Em outubro (n° 492), a mensagem é que os livros didáticos ‘emburrecem’ nosso aluno ao apresentarem conteúdos ideologicamente marcados: glorifica-se a Revolução cubana, condena-se a sociedade de consumo, critica-se a economia capitalista. Os pais de ’42 milhões de estudantes do ensino fundamental e médio no Brasil, nas redes pública e privada’ deveriam estar atentos!
Em outubro também, a revista Veja (n° 2030) entrevista em suas páginas amarelas o ministro Fernando Haddad. E agora, na primeira edição de novembro (n° 2033), denuncia ‘a péssima qualidade dos professores’ (Ronaldo França) e o equívoco de fundo: ‘o modelo educacional brasileiro já não dá mais conta do recado’ (Gustavo Ioschpe).
Informados e preocupados
E agora, outra notícia. Boa ou má, dependendo de como se interprete. Graças ao Educacenso (sistema online), o MEC detectou um erro grave: ‘Resultados preliminares do censo escolar de 2007 […] apontam para uma queda de 2,8 milhões no total de matrículas do sistema público de ensino básico e confirmam que, por muito tempo, Estados e municípios incharam o número de alunos declarados ao governo federal. (Estado de S. Paulo, 14/11/2007).
Notícia má: a calamidade é calamitosa, e muitos dos que deveriam contribuir para solucioná-la são aqueles que mais atrapalham. Boa notícia: estamos cada vez mais bem informados, e mais preocupados.
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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br