O Jornal Nacional exibiu na segunda-feira (24/3) a primeira reportagem da série ‘Educação no Brasil’, na qual apresentou projetos ‘bem sucedidos’ na área. Segundo a matéria, os projetos foram revelados em uma pesquisa do Ministério de Educação e Cultura (MEC) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), com o propósito de servir de modelo às escolas da rede pública do país.
A reportagem apresentou iniciativas de quatro municípios do país: Alto Alegre do Pindaré (MA), Arroio do Meio (RS), Formosa (GO) e Brazilândia (DF). Dentre as iniciativas apresentadas, duas merecem destaque: a primeira, no interior do Maranhão, com o projeto ‘livro jegue’, no qual um jegue enfeitado passeia pela cidade com duas cestas cheias de livros que, na praça central, são espalhados sobre lonas, formando uma biblioteca ao ar livre. A segunda, em Formosa, é um projeto para aproximar os pais da escola. Nesta, periodicamente a direção transforma o pátio em salão de beleza, tudo de graça para as mães.
Esse gênero de reportagem se tornou comum nos últimos anos na mídia brasileira, principalmente na televisiva. Acredito que a tendência é que esse tipo de matéria cresça cada vez mais, principalmente agora, com as atenções voltadas para os novos planos do governo federal e a proposta de reforma da educação que tramita no Congresso Nacional. Esse é, midiaticamente falando, o momento oportuno de reafirmar a parceria ‘Todos pela Educação!’
‘Caminho sólido’
É impossível o cidadão não ser sensibilizado com essas soluções mágicas de combate aos males que insistem em perseguir a educação brasileira. O que há em comum entre as experiências apresentadas? Seria porque são sempre concebidas como exemplos de sucesso? Mas a que sucesso estão se referindo? Sucesso de quem, se esses mesmos meios de comunicação apontam estatísticas alarmantes do fracasso educacional em nosso país? Ou seria por que todas vêem fundamentadas com discurso humanista cujo objetivo é ocultar graves problemas que cercam a educação e minimizar a responsabilidade do poder público?
Outro aspecto em comum é que as soluções devem partir sempre da escola. Ao governo, muitas vezes, com base em verdadeiros mitos sobre soluções pra os problemas educacionais, cabe apenas criar e recriar planos, planos e mais planos.
Para o Unicef, os exemplos de sucesso (como os divulgados pela Globo) devem ser ampliados para toda a rede publica, pois, ‘o que é útil para o Brasil, hoje em dia, é entender melhor o que esta dando certo, tentando replicar, colocar isso na escola e motivar as forças da sociedade’, como disse Marie Pierre, representante do Unicef. Mas, o que pode ser concebido como ‘forças da sociedade’? A comunidade, a comunidade escolar e/ou o poder público?
Para o presidente Lula, ‘a Educação é um caminho sólido para o Brasil crescer beneficiando todo o nosso povo e o PDE é um passo grandioso nesse sentido’ – conforme trecho da apresentação do livro PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação), Razões, Princípios, e Programas, produzido pelo Ministério da Educação.
Soluções mirabolantes
Percebe-se nas duas afirmações que a grande solução está nos ‘planos’. Entretanto, cabe à escola extrair o melhor deles. A prova disso é que o próprio PDE lançou um subplano: ‘Plano de Metas Compromisso `Todos pela Educação´’. Nele há um termo de adesão de caráter voluntário, no qual o município interessado assina uma proposta de adoção de um conjunto de diretrizes a serem seguidas por todos, visando melhorias educacionais.
E esse ‘todos’? Quem seria especificamente? O ‘simpático jegue’, que apareceu na reportagem, com a biblioteca itinerante, ou a cabeleireira que uma vez por semana ajuda a transformar o pátio da escola em um salão de beleza, no projeto que busca aproximar os pais da escola?
Cadê o Estado? Até quando temos que promover soluções mirabolantes para conviver e/ou driblar os males que perseguem a educação no Brasil?
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Professora, graduada em Letras e especialista em Comunicação; Maceió, AL