Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Eles aumentam. Mas, não inventam?

“Eu aumento, mas não invento!” é um bordão conhecido do colunista social Nelson Rubens. Essa frase bem que podia ser usada por alguns grandes meios de comunicação do Brasil no último domingo, 12 de abril. Explico: a grande mídia se desdobrou para dar ampla repercussão às minguadas manifestações contra o governo federal, que aconteceram em algumas cidades do país. Foi a verdadeira arte de noticiar a “não notícia”.

Claro que os protestos em si mereciam ser cobertos e até debatidos, mas não na proporção percebida. As primeiras páginas de grandes portais, por exemplo, deram tanto destaque às manifestações que parecia que o Brasil estava fervendo com os protestos, quando na verdade foi o contrário disso o que aconteceu.

Na televisão, chegou a dar vergonha alheia as entradas ao vivo para mostrar nada e depois mostrar nada de novo. Ao acompanhar a cobertura desses meios de comunicação, o que ficava parecendo é que eles estavam convocando as pessoas para as manifestações, como se estivessem dizendo: “Venham que ainda tem pouca gente… Vamos encher para as imagens ficarem boas…”

Não questiono a legitimidade dos protestos. As pessoas têm o direito de se juntar e gritar contra o que bem entenderem, desde que não ultrapassem o direito do próximo. Acredito, inclusive, que a mídia pode se posicionar, desde que abra o jogo com o público e mostre de que lado está. Isso, com raras exceções, não acontece no Brasil. A questão é que esses meios posam de imparciais, quando, na verdade, agem como o verdadeiro partido de oposição. A cobertura excessiva por parte deles é o que garante a repercussão dessas manifestações.

Perda de credibilidade

A pergunta que faço é: mobilizações de forças antagônicas receberão a mesma cobertura? Quarta-feira, 15 de abril, haverá manifestações em todo o país contra o Projeto de Lei 4330 que libera de vez a terceirização do trabalho no Brasil. Como será a atenção dada pelos meios de comunicação a esses protestos? Arrisco que será bem menor do que a deste domingo.

Em 12 de abril, o trabalho de aumentar ao máximo a dimensão dos atos foi executado, porém, sem muita maestria, pois o público percebeu e se posicionou. Nas redes sociais essas manobras ilusionistas viraram piada. E, muitas vezes, deu para observar e perguntar se eles realmente não estavam inventando, tamanho era o malabarismo para dizer que algo acontecia, sem (impressionantemente) acontecer.

Por essas e outras, a grande mídia vai perdendo credibilidade e formas alternativas de disseminação de notícias vão se proliferando. Ou os meios de comunicação tradicionais dizem a que vieram mesmo ou vão perder mais espaço ainda, numa realidade em que as mudanças são frequentes e o público possui condições de obter e comparar as informações que lhe são repassadas pelas diversas plataformas existentes.

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Raul Ramalho é jornalista