Credibilidade é a arte de ser confiável; portanto, de bancos a pessoas, e principalmente a empresas jornalísticas, é o pilar mais robusto de um exercício profissional; algo que se leva às vezes anos para construir, mas que pode se esvair em instantes desde por macromotivos, como um surto psicótico, um roubo de gravata ou uma eleição; até micro-signos, como um pigarro, um engolir em seco, um rubor, uma gota de suor num depoimento à CPI.
Assistiu-se no último pleito a um verdadeiro strike de credibilidades, mas a mídia já possui anticorpos para derrocadas deste tipo: sempre que apóia ostensivamente um candidato – quando deveria, segundo seus próprios manuais, portar-se com isenção e objetividade – demite um editor ou um chefe de redação, que paga o pato pela opção feita pela empresa e salva sua pseudo-idoneidade.
Poses adiadas
Neste caso, não foi possível seguir os costumes porque a opção foi em massa, de articulistas a editores; então o estrago foi grande, de modo que salvou-se o pequeno setor da imprensa que apoiou o outro lado. Este agora se diz depositário da credibilidade que resta à mídia, denunciada por conluio; esta que permanece em busca do resgate da confiabilidade perdida, começa por tentar moralizar o Legislativo, decapitando-o.
O senador alvejado pela ex-amante negligenciada não larga a cadeira presidencial porque esta lhe confere… credibilidade. Fora dela, torna-se mais um senador sujeito a apartes, questionamentos e protestos. E provavelmente a ex-amante está adiando suas poses sensuais a pedido do hebdomadário atualmente mais carente de prestígio de toda a mídia, o que a lançou ao estrelato, pois a publicação lasciva, da mesma corporação, faria suas denúncias perderem pressão – e credibilidade.
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Jornalista, integrante da Rede Nacional de Observadores da Imprensa (Renoi)