Dizer que as mulheres ganham menos que os homens que exercem e mesma função e enfrentam outros preconceitos na carreira profissional não é novidade. As feministas estão sempre chamando atenção para isso, as jornalistas falam do assunto sempre que há oportunidade e os institutos de pesquisa, quando estudam o tema, acabam destacando essa má notícia. A novidade é que, recentemente, o assunto foi destaque em artigos assinados por homens. A pergunta que isso sugere é se temos que agradecer a Dilma Rousseff essa nova postura dos jornalistas. Se o assunto, até agora, era “área exclusiva” das mulheres, parece estar migrando para os comentaristas masculinos.
O primeiro comentário sobre o tema está na revista Veja, assinado por José Roberto Guzzo, que chama atenção para o fato da Fiesp ter acabado de eleger sua nova diretoria e, entre 113 escolhidos, não haver uma única mulher. A verdade é que uma pesquisa sobre mulheres capitãs de indústrias fica quase sem resultado na web, tão pródiga em todas as áreas. As mulheres empresárias se destacam apenas na indústria da mídia e entretenimento. Ou então aparecem como mão de obra menos qualificada, na indústria como um todo.
O segundo artigo sobre o assunto foi publicado no jornal O Estado de S. Paulo (23/05/2011), assinado por José Roberto de Toledo:
“Para as mulheres brasileiras, o elevador profissional não chega à cobertura. Elas estudam cada vez mais do que os homens, preenchem mais vagas no mercado de trabalho que requer melhor qualificação, mas são barradas antes de chegarem ao topo salarial e ao comando. Dilma Rousseff é a exceção que confirma a regra. A mesma eleição que colocou uma mulher na Presidência da República manteve uma baixa ocupação feminina no Congresso, nas assembleias e nos governos estaduais. A culpa é do machismo das cúpulas partidárias, é certo. Mas o problema se estende a toda a sociedade. As mulheres são 42% dos 44 milhões de trabalhadores formais do país e ganham, em média, 17% menos do que os homens (Rais, 2010). Em dinheiro, a diferença mensal é de R$ 305,00. Dito assim, o problema parece enganosamente menor. A média escamoteia a crueldade da discriminação.”
Não resolve, mas ajuda
A discriminação, no entanto, não fica apenas no aspecto salarial. Além de ganharem menos, as mulheres sofrem com a intimidação sexual, como mostrou a matéria do Estadão sobre a mudança de regras na conduta sexual para os funcionários do Fundo Monetário Internacional (FMI). Uma matéria, traduzida do New York Times, revela que antes da prisão do seu diretor geral, o FMI ignorava reclamações das funcionárias vítimas de abuso sexual. Com a prisão de Dominique Strauss-Kahn, um novo código está sendo usado. Um código que avisa seus executivos que “relacionamentos íntimos com subordinados provavelmente resultarão em conflitos de interesse e precisam ser comunicados ao alto escalão”.
Embora essas notícias só sirvam para confirmar o fato de que as mulheres ainda estão longe de conquistar a igualdade plena no mundo trabalho, a boa nova é que o assunto começa a ser levado a sério pela mídia. Na hora em que articulistas da Veja e do Estadão reservam espaço para tratar do assunto, podemos ter esperança de que a situação da mulher que trabalha – principalmente as que ocupam posições de menor destaque nas empresas – comece a ter mais visibilidade na imprensa. Não resolve, mas ajuda. E muito.