Um escândalo político tem ajudado a indústria de jornais na França, como informa Celestine Bohlen [Bloomberg, 6/6/06]. As vendas do Le Monde aumentaram 13,8% nas bancas de Paris no período de três semanas que terminou no dia 18/5, comparado ao mesmo período do ano passado. Em todo o país, as vendas do jornal subiram 6,6%, de acordo com Olivier Biffaud, executivo do Le Monde. O jornal foi o primeiro a divulgar, no dia 28/4, o caso Clearstream.
As acusações de que o dinheiro da venda de navios de guerra a Taiwan, realizada pela França em 1991, estaria em contas bancárias secretas da Clearstream, uma sociedade bancária de Luxemburgo, começaram a ser investigadas em 2004. A Clearstream coopera com as investigações.
O caso teve início com uma carta anônima, contendo uma lista com nomes de pessoas que supostamente teriam recebido o dinheiro ilegal em contas da Clearstream. A lista, posteriormente revelada como falsa, incluía o nome de Nicolas Sarkozy, ministro do Interior da França e candidato às eleições presidenciais do próximo ano. Os jornais relataram que o presidente francês, Jacques Chirac, e o primeiro-ministro, Dominique de Villepin, pediram uma investigação do caso com o objetivo de prejudicar Sarkozy, rival político de ambos – acusação negada por eles.
Este foi o pior escândalo político do primeiro ano de Villepin como primeiro-ministro e também ameaça prejudicar a imagem do segundo mandato de Chirac. Duas pesquisas divulgadas em junho revelam que os eleitores não confiam em Villepin.
Aumento das vendas
Não foi apenas o Le Monde – que deu o furo – que viu suas vendas subirem com o escândalo. As vendas em conjunto dos maiores jornais do país –Le Monde, Libération e Le Figaro – subiram uma média de 5.777 cópias por dia de 24/4 a 22/5, comparado ao mesmo período do ano passado. Até mesmo o Le Canard Enchainé, jornal semanal satírico, observou suas vendas subirem 8% na semana do dia 3/5, comparadas às da semana anterior – mesmo com grande parte dos leitores não tendo interesse em entender o caso.
‘Está claro que o caso Clearstream foi responsável pelo aumento da venda de jornais’, afirmou Nathalie Guthmann, diretora de comunicações do Le Figaro. ‘Nós observamos que, nestas semanas, as vendas aumentaram de 7 a 8%, comparadas ao mesmo período no ano passado’. ‘Histórias políticas têm efeito nas vendas’, afirmou Denis Bouchez, diretor do Sindicato de Imprensa Parisiense, grupo que representa os jornais franceses.
O escândalo veio em boa hora. Desde os anos 90, a tiragem dos jornais na França vem caindo. O Libération teve um prejuízo de US$ 9 milhões em 2005, enquanto a tiragem do Le Monde caiu 3%. O Le Figaro investiu oito milhões de euros, no ano passado, em uma reformulação.