Estudo sobre a parcialidade na mídia americana liderado pelo cientista político Tim Groseclose, da Universidade da Califórnia, classificou e identificou as tendências políticas observadas em diversas organizações de mídia nos EUA, como informa a University of California News [14/12/05].
Segundo os resultados da pesquisa, disponíveis na edição mais recente do Quaterly Journal of Economics, editado pela Universidade de Harvard, a mídia americana é tendenciosa: a página editorial do Wall Street Journal é conservadora, mas a seção de notícias é mais liberal que a do New York Times; apesar da revista online Drudge Report ter uma reputação de direitista, ela tende mais para a esquerda; a cobertura da rádio e televisão públicas nos EUA é conservadora se comparada ao resto da mídia; de maneira geral, a maioria das organizações de mídia mais importantes do país tende à esquerda.
‘Eu suspeitava que muitas organizações de mídia tenderiam para a esquerda porque as pesquisas mostraram que jornalistas tendem a votar mais em democratas do que em republicanos. Mas eu fiquei surpreso como são evidentes estas inclinações’, afirmou Groseclose. ‘De maneira geral, as maiores empresas de mídia são moderadas, comparadas aos membros do Congresso; mesmo assim, há uma tendência identificável e significante em quase todas que indica que elas tendem para a esquerda’, informou o co-autor da pesquisa, Jeffrey Milyo, economista e estudante de política pública da Universidade do Missouri.
Votação de legisladores
Gloseclose e Milyo basearam seu estudo em uma cotação de registros da votação no Congresso americano emitida pela organização Americans for Democratic Action (ADA), que monitora a porcentagem de vezes que cada legislador vota do lado liberal de uma lei em discussão. Baseada nestes votos, a ADA estabelece um placar numérico para cada legislador, que vai do mais liberal ao mais conservador.
Groseclose e Milyo destinaram, então, 21 assistentes de pesquisa para explorar a cobertura da mídia americana nos últimos dez anos. Eles contaram o número de vezes que cada veículo se referiu a think tanks (grupos de pensadores) e aos discursos de legisladores. A pesquisa também comparou a orientação política de cada veículo com legisladores, associando cada jornal ou programa a um legislador em especial. ‘As pesquisas anteriores revelaram se uma organização de mídia era conservadora ou liberal, mas nenhuma as comparou com os legisladores’, afirmou Groseclose. ‘Um acadêmico de comunicação nunca teria feito este estudo. É preciso um estudioso do Congresso para pensar em usar os índices da ADA como medida. E eu não acho que nenhum estudioso da mídia consideraria comparar matérias com discursos do Congresso’, opina.
Das 20 maiores empresas de mídia estudadas, 18 tenderam para a posição de centro-esquerda. Em primeiro lugar, ficou a seção de notícias do Wall Street Journal; em segundo, o programa Evening News, da CBS; em terceiro, o jornal New York Times, e em quarto, o jornal Los Angeles Times. Apenas o programa Special Report With Brit Hume, da Fox News, e o jornal Washington Times foram considerados conservadores.
Os programas NewsHour With Jim Lehrer (PBS), Good Morning America (ABC), NewsNight With Aaron Brown (CNN) e a revista online Drudge Report foram considerados os mais de centro. Na mídia impressa, o USA Today foi o mais de centro.
Como Groseclose e Milyo estão mais focados em classificar a parcialidade em seções de notícias do que nas de opinião, que em geral têm uma posição política determinada, eles não consideraram para a pesquisa os editoriais e as páginas de opinião. Esta é uma das razões que explica a classificação do Wall Street Journal como liberal. Um outro resultado que surpreendeu foi o Drudge Report tender para a esquerda. ‘Nos baseamos inteiramente nos artigos que o Drudge Report lista em outros sítios. Muito pouco foi baseado nas matérias que Matt Drudge escreve’, explicou Groseclose.
Segundo os autores, para evitar que a própria pesquisa – que levou três anos para ficar pronta – fosse tendenciosa, houve a preocupação em contratar a mesma quantidade de pesquisadores que apoiou o presidente George Bush e o candidato democrata Al Gore nas eleições presidenciais de 2000. Nenhum financiamento externo foi aceito, o que é raro em pesquisas acadêmicas.
Dow Jones questiona resultados
O jornalista americano Jim Romenesko, divulgou em seu blog, hospedado no sítio do Instituto Poynter, declaração de um porta voz da Dow Jones & Co., que publica o Wall Street Journal, sobre o estudo de Groseclose. ‘A cobertura de notícias do Wall Street Journal é implacavelmente neutra. Ao contrário da técnica usada neste estudo, que não inspira credibilidade’, dizia a declaração.
De acordo com o porta-voz, a lógica de medir a parcialidade baseada apenas no número de menções ou citações de grupos políticos que os pesquisadores determinam liberal ou conservador não é representativa. ‘Se mencionarmos al-Qaeda em uma matéria, não significa que o jornal apóie as visões do grupo terrorista’, explica o porta-voz.
Além disso, prossegue a declaração, o universo de think tanks e grupos políticos do estudo não cobre o universo de todas as instituições com que os repórteres do jornal entram em contato. ‘O leitor da pesquisa tem que ir até a página 57 para descobrir que o ‘estudo’ do conteúdo do Wall Street Journal cobre exatamente quatro meses de 2002, enquanto o período examinado para a CBS News cobre mais de 12 anos’.