A polícia do estado americano da Virginia criticou a decisão da rede de TV NBC de divulgar partes do vídeo com o depoimento do estudante Cho Seung-Hui, identificado como o assassino de 32 pessoas na universidade Virginia Tech. A emissora exibiu na noite de quarta-feira (18/4), dois dias após o massacre, trechos do vídeo e do texto do jovem de 23 anos, que cometeu suicídio.
O pacote com uma carta, fotos e um vídeo do estudante causou alerta no edifício da NBC, em Nova York. A correspondência foi imediatamente classificada como suspeita por ter sido postada na segunda-feira, dia do massacre, da cidade de Blacksburg, local do campus.
Executivos da NBC não sabem explicar a razão para que Seung-Hui tenha escolhido enviar o pacote apenas para a emissora. Nada na correspondência sugere algum motivo ou cita algum indivíduo da NBC. Segundo o presidente da NBC News, Steve Capus, foi tomado muito cuidado com o pacote. Um funcionário do departamento de segurança da rede foi o responsável pela abertura do grande envelope, e todos os que o manejaram usaram luvas. Foram feitas cópias do conteúdo e o FBI e a polícia da Virginia foram chamados para recolher os documentos originais.
Columbine e Jesus Cristo
Dentro do envelope havia um DVD e 23 páginas de texto, além de algumas fotografias – onde o estudante posa com armas de fogo, uma faca e um martelo. O presidente da NBC News afirmou que o material escrito era dominado por ‘ameaças e incoerências’. ‘Foi muito difícil de compreender’, ressaltou. O depoimento em vídeo, segundo ele, também era bastante confuso. Em determinado momento, Seung-Hui se refere aos adolescentes responsáveis pelo massacre na escola Columbine, no Colorado, em 1999, como ‘mártires’. O estudante dirige seu ódio aos jovens ricos e diz que morreu como Jesus Cristo.
O pacote foi postado em uma agência de correio de Blacksburg às nove horas da manhã de segunda, ou seja, no intervalo entre os primeiros assassinatos, em uma residência estudantil, e os segundos, no prédio da faculdade de ciências e engenharia. Provavelmente, a intenção do estudante era que a correspondência chegasse à emissora em um dia, mas como o endereço não estava correto, houve atraso. Em vez de ‘Rockefeller Plaza’, estava escrito no envelope ‘Rockefeller Ave.’, com erro também no código postal.
Questão ética
Em uma coletiva de imprensa na quinta-feira (19/4), o chefe de polícia da Virginia, Steve Flaherty, elogiou o cuidado inicial da NBC com o material, mas afirmou ter ficado desapontado ‘com a decisão deles de exibir esta correspondência bastante perturbadora’. A exibição de trechos do vídeo do estudante também levou alguns parentes de vítimas do massacre a cancelar sua participação em programas da emissora.
O apresentador Matt Lauer afirmou que houve conflito de opiniões dentro da própria NBC sobre a exibição do material. ‘Nós tomamos esta decisão porque, ao mostrar este material, talvez consigamos entender ou responder à questão ‘por que isso aconteceu?’’, explicou. Informações de Bill Carter [The New York Times, 19/4/07] e de James Sturcke e Peter Walker [The Guardian, 19/4/07].
Jornalistas asiáticos temem represália
Um dia após o ataque que deixou 33 mortos na universidade Virginia Tech, nos EUA, a Associação de Jornalistas Asiáticos-Americanos divulgou um apelo para que a imprensa evite fazer referência à nacionalidade do assassino. O estudante Cho Seung-Hui, identificado como responsável pelo massacre, era sul-coreano.
‘Não há provas, neste momento, de que a nacionalidade do suposto atirador tenha algo a ver com o incidente, e mencionar esta informação serve apenas para representar de maneira injusta todo um povo’, dizia a declaração, completando que o resultado de se insistir nisso pode ser desastroso. ‘Pode levar pessoas a um tratamento injusto com base simplesmente em cor da pele ou ascendência’.
O grupo de jornalistas também afirmou que gostaria de lembrar à mídia que ‘os padrões jornalísticos deveriam ser universais e aplicados igualmente, não importa em que meio, incluindo os blogs’.
Aluno de inglês na Virginia Tech, Cho Seung-Hui tinha 23 anos e morava legalmente nos EUA desde 1992. Logo após o tiroteio, alguns veículos de comunicação reportaram erroneamente, com base em testemunhas, que o assassino era chinês e havia chegado aos EUA há um ano com visto ilegal. Informações da Editor & Publisher [17/4/07].