Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Existe vida no jornalismo

A revista alternativa catarinense Pobres e Nojentas caminha para seu terceiro ano de vida, sempre apresentando uma nova possibilidade de aprendizagem no campo do jornalismo. Nojenta mesmo, querendo falar desde a periferia da periferia… Afinal, quem pode inventar algo se não está no eixo Rio-São Paulo? Pois a gente faz isso. Por isso, outro dia, numa das reuniões de discussão das editoras, falávamos sobre a dificuldade de vender a bichinha. Muitos são os comentários e um deles – além do fato de estarmos em Santa Catarina – é bastante recorrente. ‘O nome não ajuda. As pessoas não entendem bem o `nojentas´ e não gostam de ser identificadas com o `pobres´.’ Nessa hora, sempre surge a idéia de mudar o nome para, quem sabe assim, atender aos apelos do ‘marquetim’. É aí que eu gosto sempre de entrar com os argumentos que, na verdade, são a alma desta revista.

Ocorre que a Pobres e Nojentas não é uma revista qualquer, feita para vender de maneira fácil, como por exemplo a Caras ou a Tititi. Estas são revistas óbvias. Caras é o retrato da superficialidade, já o diz seu nome, é a aparência, o fugaz. Tititi é o reino da fofoca, do boato, do maldizer, e assim por diante. O nome das revistas diz tudo. É óbvio, seguro, ululante. A Pobres e Nojentas, não. Ela é uma revista difícil. Ela provoca, de cara, um estranhamento. A pessoa pode até achar que entendeu a proposta pelo nome, mas se olhar a revista vai ver que é outra coisa. E aí é que ela se diferencia de todos esses títulos que aí estão.

A P&N é um convite ao pensar. É pedagógica desde o primeiro olhar. Ela requer do leitor um movimento de mergulho, de busca, de deciframentos. Ela não é óbvia. E ela precisa ser conhecida assim, devagar, tateando, como todas as coisas que realmente se conhece e, depois, se ama.

Um salto no abismo

É por isso que o nome Pobres e Nojentas não é ‘vendável’, não é ‘comercial’. Porque a própria idéia da revista nasceu de uma outra forma de se relacionar com o mundo. O pequeno feixe de papel que as pessoas compram não é só uma mercadoria e seu irrisório preço não expressa só seu valor de troca. A P&N está, para nós, dentro do reino da ‘necessidade’, e não do consumo ritual. As vidas que se revelam nas páginas ‘nojentas’ não são narradas para entreter. Elas se mostram ali pedagogicamente. Cada história mostra como as gentes ditas comuns – de uma América Latina e um Brasil reais – vão construindo este mundo com suas lutas, dores e alegria. É como uma grande roda ancestral em volta da fogueira onde contamos histórias para não esquecer de nossas belezas. Mulheres e homens que se reconhecem sujeitos, que enfrentam a vida com garra e seguem rompendo auroras.

Com essa pretensão, a Pobres e Nojentas adentra em seu terceiro ano enfrentando as mesmas caras torcidas dos donos de banca, dos leitores preguiçosos, dos pseudo-intelectuais e segue seu caminho lento na construção de uma proposta que chamo de ‘jornalismo libertador’. Ou seja, um jornalismo absolutamente comprometido com o outro, mas não um outro qualquer – é o outro oprimido, a comunidade das vítimas do capital. Aqueles que, a despeito do massacre capitalista – que incentiva o egoísmo, a individualidade exacerbada, o hedonismo barato –, vivenciam coisas antigas e belas como a solidariedade, a partilha, a cooperação e o amor-compromisso.

Pobres e Nojentas convida a pensar, sem elucubrações teóricas ou notas de rodapé, mas no corpo-a-corpo com a vida, como diria o mestre João Antônio. Ela é sempre uma aventura, nunca óbvia, sempre um salto no abismo! E está bem ali, nas duas bancas mais corajosas da ilha: a da UFSC e a da Catedral. Ou então, de mão em mão, por aí, nos caminhos… Atreva-se para além do estranhamento e descubra…

A Pobres pode ser comprada via correio eletrônico: eteia@gmx.net

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Editora de Pobres & Nojentas