Os meios de comunicação ainda não pautam suficientemente o tema da terceira idade, apesar desse segmento de público ser um dos maiores ‘consumidores de informação’ do país, tanto na exposição à mídia eletrônica, como na leitura de jornais e revistas. Quando se referem aos idosos, os meios de comunicação falam para o idoso (tentando vender-lhes algum produto ou serviço), mas quase nunca sobre o idoso (isto é, sobre o seu modo de ver o mundo, suas aspirações, suas lutas, conquistas etc. Ele nunca é fonte).
Estas são as principais conclusões do ‘I Encontro de Comunicação e Cidadania – A Terceira Idade e os Meios de Comunicação, a imagem do idoso na sociedade’, realizado dia 19/08/2009, durante todo o dia, pela Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Unesp, campus de Bauru, com apoio da Fundunesp e da pró-reitoria de extensão-Proex, através do Grupo de Pesquisa Idosomídia.
Papel da Uuniversidade
O evento foi aberto pelo professor Francisco Sierra Caballero, decano da Faculdade de Comunicação da Universidade de Sevilha (Espanha), que falou sobre a experiência daquela universidade com o atendimento à terceira idade. Segundo o professor, não tem mais sentido o conceito de universidade que se fecha em si mesma como um museu. Por toda a Europa, segundo ele, o que se procura é levar a universidade para as ruas, ao encontro da sociedade, ou trazer os grupos minoritários para dentro do campus. Por isto, o atendimento aos alunos da terceira idade, na Universidade de Sevilha, não é feito só no campus, mas em nove centros do interior da Andaluzia, para facilitar o acesso do idoso o mais perto possível de sua cidade ou povoado, atendendo a quase três mil alunos, número equivalente ao de alunos matriculados na graduação em cursos de Comunicação.
Outra característica é que lá a Universidade Aberta à Terceira Idade está vinculada à Faculdade de Comunicação e os alunos cumprem carga regular, em cursos específicos, seguindo uma rotina igual à da graduação. Terminado o curso, de quatro ou cinco anos, eles escolhem a faculdade onde pretendem seguir até o final da vida como alunos especiais. A idéia é que a universidade pública tem a obrigação moral de retribuir à sociedade o apoio que dela recebe para seu funcionamento, através dos impostos.
Falando em seguida, a professora Beltrina Corte, do Programa de Gerontologia da PUC-SP, também disse que é papel da Universidade propor uma leitura crítica dos meios no que se refere ao tratamento da notícia voltada para a terceira idade. Ela mostrou que na PUC-SP já existem muitas pesquisas nessa área e tem sido comprovado que muitas vezes o idoso é tratado com algum tipo de preconceito, ou com palavras que revelam compaixão, dó, piedade, sempre reafirmando o estereótipo de pessoa frágil, doente, dependente como se o envelhecimento não fosse um processo inerente à própria vida e como se fosse possível reduzir todo o variado segmento dos idosos a uma massa anônima e igual. Ela chamou atenção para a necessidade de se considerar a complexidade do fenômeno do envelhecimento demográfico que atinge todo o planeta, lembrando que o envelhecimento é um processo diferenciado para cada pessoa, para cada cultura, para cada região.
No período da tarde, foram apresentados depoimentos sobre as atividades das Universidades Abertas à Terceira Idade da própria Unesp, da USP/Bauru e da Universidade do Sagrado Coração – USC/Bauru, esta uma escola particular. Ficou claro que os projetos desenvolvidos pelas Unatis da Unesp, em todos os campi, poderiam apresentar melhor resultado para a sociedade se houvesse mais diálogo e integração no trabalho desenvolvido. No programa da USC, o que chama a atenção é que alunos idosos com determinadas especialidades são aproveitados como monitores de disciplinas da graduação regular, como no caso de um aluno de Língua Portuguesa do programa da Terceira Idade que é alemão, recém-chegado ao país, e ajuda os professores que ensinam alemão aos alunos da graduação. Isto para mostrar que muitas expertises dos alunos da terceira idade podem ser aproveitadas na própria universidade ou na comunidade, contribuindo com uma maior integração social da pessoa idosa.
Na programação da noite, a secretária municipal do Bem Estar Social de Bauru, Darlene Martin Tendolo, lamentou o que ocorre no interior de muitas famílias brasileiras, onde o idoso é espoliado até mesmo de sua minguada pensão previdenciária por membros inescrupulosos da própria família. Ela disse que Bauru tem cerca de 40 mil idosos, atualmente, e que essa população crescerá cerca de 17% nos próximos quatro anos, o que tem levado o poder público municipal a discutir estratégias para atender às necessidades desse segmento.
Em seguida foi apresentado um levantamento feito pelos alunos de jornalismo do grupo Idosomídia, revelando que há pouquíssima cobertura de mídia, no país, voltada para a terceira idade, destacando-se um programa de TV e de rádio da Rede Vida. A aluna Carla Meassi, líder do grupo, lamentou essa situação, tendo em vista que o Estatuto do Idoso determina que todos os meios de comunicação deveriam ter um percentual de espaço destinado ao noticiário sobre as pessoas idosas, tendo em vista o crescimento desse segmento populacional que dentro de quatro décadas terá cerca de 30 milhões de pessoas no Brasil e 2 bilhões no mundo (equivalendo a um terço da população mundial).
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Jornalista