Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.
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Folha de S. Paulo
Segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
ACESSO À INFORMAÇÃO
De outro mundo
‘SÃO PAULO – Estou indignado: o governo brasileiro nega-se a fornecer informações sobre o caso do ET de Varginha! Conforme mostrou reportagem de Fernando Rodrigues publicada ontem nesta Folha, a CBU (Comissão Brasileira de Ufólogos), no exercício de seus direitos constitucionais, pediu acesso a documentos em poder de órgãos do Estado sobre objetos voadores não-identificados.
Em outubro passado, os ufólogos receberam 213 páginas confidenciais da Aeronáutica. Mas nada conseguiram sobre as investigações em torno da aparição na cidade mineira de seres supostamente oriundos do espaço sideral, um clássico da ufologia mundial.
Por ora, a CBU teve de se contentar com a insólita Operação Prato. Em 1977 e 1978, em defesa da segurança nacional, militares e agentes do SNI varreram os céus e apuraram relatos sobre luzes suspeitas na região litorânea entre o Pará e o Maranhão. Não era só Caetano Veloso que buscava ‘flying-saucers in the sky’. Não era só Raul Seixas, não eram só os ‘sugestionados’ que viam coisas.
Eu mesmo, devo confessar, no final dos anos 70, acompanhei amigos e uma multidão de malucos a uma fazenda no Estado do Rio onde desceria uma nave. Um ufólogo grego monitorava o contato com uma complexa aparelhagem montada num Opala preto. A Telerj instalou um orelhão provisório no local. No final, não aconteceu nada, só diversão.
Mas foi de Jorge Mautner o melhor relato que ouvi sobre contatos com extraterrestres. Não aconteceu com ele, mas com um conhecido, homem simples do Nordeste. Caminhava pelo sertão quando avistou uma nave de outro planeta. Ficou paralisado. Uma luz irresistível o arrastou para o interior do disco. ‘Estava muito assustado’, contou o homem. ‘Mas logo vi que só tinha um ET lá dentro. E era fêmea. Aí não tive dúvida: dei um chamego na bichinha e ela ainda me levou de carona até Mossoró’…’
CAMPANHA
Propaganda para 2010
‘BRASÍLIA – O espaço na mídia e a capacidade de se autopromover são duas formas de aferir a disputa presidencial de 2010.
Tome-se o caso dos tucanos José Serra e Aécio Neves. De janeiro a novembro de 2008, o governo de São Paulo (Serra) gastou R$ 110,3 milhões em propaganda. No mesmo período, o governo mineiro (Aécio) torrou R$ 34,7 milhões.
Esses números são calculados com base na presença das marcas ‘governo de São Paulo’ e ‘governo de Minas Gerais’ na mídia, estimando-se o valor gasto. Ou seja, é possível que os custos não tenham sido exatamente os do parágrafo anterior, mas as exposições das administrações de Serra e de Aécio são compatíveis com essas cifras.
A vantagem de Serra dispara ao se acrescentar os valores de certas autarquias e empresas públicas.
Além dos R$ 110,3 milhões investidos pelo governo Serra, a Sabesp (empresa de saneamento paulista) gastou outros R$ 28,3 milhões no ano passado com publicidade, até novembro -quase igualando-se ao governo de Minas Gerais inteiro.
A estatal serrista parece ter planos expansionistas de fazer inveja a Solano López. Os comerciais da Sabesp foram vistos em 2008 também em Salvador, Manaus e Teresina, entre outras capitais. Como se sabe, há (sic) imenso interesse público no Norte e no Nordeste a respeito do número de ligações de esgoto realizadas em São Paulo.
Mas, quando se considera o campo governista federal, Serra e Aécio somados não são páreo para o mais de R$ 1 bilhão gasto em propaganda pelo governo Lula em 2008. Sem contar a publicidade gratuita das inaugurações. Só neste ano, o petista programou entregar 157 obras do PAC. À tiracolo nas cerimônias, trará sempre sua pré-candidata a presidente, Dilma Rousseff.
Falta muito para 2010. Mas a gastança de dinheiro (o meu, o seu, o nosso) já está de vento em popa.’
Fernando Barros de Mello
Rádios barram nova eleição, aponta estudo
‘As chances de reeleição de prefeitos que tiveram apontados indícios de corrupção ou irregularidades diminui mais quando há rádios locais na cidade.
A conclusão faz parte de um trabalho feito pelos economistas Claudio Ferraz, da PUC-RJ, e Frederico Finan, da UCLA (Universidade da Califórnia, em Los Angeles).
Os dois analisaram relatórios de fiscalização da CGU (Controladoria Geral da União) em 2003 e 2004. Segundo a análise, a queda é maior quanto mais irregularidades apontadas. A chance de reeleição caía seis pontos percentuais quando havia duas irregularidades apontadas. Quando havia uma rádio no local auditado, a chance caía mais -11 pontos.
Os professores lembram ainda que auditorias positivas para o prefeito e as negativas são exploradas no período eleitoral, seja pela situação, seja pela oposição.
Na média, a taxa de reeleição ficou 3,6 pontos percentuais menor quando houve auditorias apontando irregularidades. A taxa de reeleição básica era de cerca de 46%.
‘Se pegar a média dos municípios auditados, a queda na reeleição não é enorme, mas não é insignificante. Há dois elementos fundamentais: o que foi descoberto e a divulgação disso, especialmente pela presença de rádios locais’, diz Ferraz.
‘Outro ponto interessante é que, quando não tem nenhuma irregularidade, há um grande efeito positivo na reeleição. O eleitor não espera zero de corrupção. Por isso, quando não há nada de corrupção, a taxa de reeleição aumenta. É como se fosse um prêmio ao político.’
Depois de divulgar suas auditorias, a CGU as repassa para o TCU (Tribunal de Contas da União) – que pode pedir ressarcimentos-, para o Ministério Público e para as Câmaras Municipais. É a partir daí que podem ser pedidas punições para os prefeitos.’
TODA MÍDIA
De gigante a bode
‘O Citigroup, um de tantos símbolos americanos em derrocada, deve ser dividido em partes, por ordem do governo. Foi a manchete de ‘Wall Street Journal’ e ‘Financial Times’ no fim de semana, mas as fotos nas capas eram de outro ícone das finanças americanas, o ex-secretário do Tesouro de Bill Clinton, equivalente a ministro da Fazenda, Robert Rubin.
Nos perfis, ‘WSJ’ e Bloomberg não se contiveram: ‘Após coletar US$ 115 milhões em vencimentos, ele deixa o Citi com sua estrela apagada’ e ‘Sua carreira no Citi termina deixando US$ 20 bilhões de perdas’. Já o ‘FT’ apoiou Rubin, no texto ‘Gigante financeiro virou bode expiatório’. A Slate relembrou como ele ‘escapou de culpa’ pela crise, mesmo sendo, com Alan Greenspan, porta-bandeira dos derivativos.
RESENDE E A FESTA
André Lara Resende, que foi presidente do BNDES sob FHC, volta a escrever sobre a crise, no ‘Valor’. Diz que a ‘festa americana contagiou o mundo’ com derivativos. E se esforça para criticar Lula pelo ‘otimismo incompetente’.
OPORTUNIDADES
Já o presidente do BNDES de Lula, Luciano Coutinho, deu entrevista ao jornal ‘O Estado de S. Paulo’ e disse ter ‘muita tranquilidade quanto à capacidade de o Brasil obter capitais, pelas oportunidades amplas para investidores’.
DESCOLAMENTO, DE NOVO
Fechando seu texto sobre o Brasil, a ‘Economist’ desta semana escreve com esperança que, ao contrário de crises anteriores, quando a reafirmação da ortodoxia pelo país acalmava os mercados, desta vez pode ser diferente por aqui -com a calma chegando junto com a intervenção do Estado, como no resto do mundo.
‘Ninguém mais fala em descolamento’, nota a revista em outra reportagem, que questiona os economistas que exageram a ‘dependência dos emergentes da economia americana’. Avalia que vários emergentes vão ‘tropeçar’, mas não ‘cair’. Cita o Brasil, por exemplo, e prevê que ‘podem tirar o pó daquela palavra, descolamento’.
INDEPENDÊNCIA?
Robert Fisk, célebre correspondente no Oriente Médio, lamentou sábado no ‘Independent’ como as ideias sobre a região não mudam. Descrevendo debate na BBC com profissionais de ‘Jerusalem Post’ e Al Jazeera, cita como seu ‘momento favorito’ o momento em que defendeu que os jornalistas ‘devem estar do lado dos que sofrem’ e comparou à eventual cobertura do comércio de escravos no século 18. Foi questionado pelos demais.
O texto já ganhou tradução na blogosfera brasileira, que vem postando traduções em ritmo cada vez maior.
APARTHEID 2
Também na blogosfera engajada, em sites como O Biscoito Fino e a Massa, avança a campanha de boicote a Israel, estimulada por sites como ‘The Nation’. É o movimento Boicote, Desinvestimento, Sanções, apoiado por ativistas como Naomi Klein, em busca de uma resposta ‘global como a que pôs fim ao apartheid na África do Sul’
CELEB
Sob ironia geral, o ‘New York Times’ publicou ontem a estreia do colunista eventual Bono, do U2. Com a ilustração ao lado, ele costura três notas sobre Frank Sinatra. Antes, no ‘press release’, o cantor havia avisado: ‘Que honra. Eu nunca fui bom em pontos e vírgulas. Vamos ver até onde conseguimos chegar’
FIM DOS TEMPOS?
A nova ‘Atlantic’ já estraga o ano. Notando que ‘todas as previsões’ são de longo declínio até o fim da imprensa, pergunta: ‘Mas e se o ‘NYT’ deixar de existir, digamos, em maio?’. Especula sobre o jornal só on-line, seguindo o HuffPost, e conclui que não seria ‘um desastre’.
O site Poynter reagiu, ressaltando que o autor do texto é produtor de entretenimento e erra nos números. Diz que o futuro não vai ceder à cobertura ‘hype’ do HuffPost e já segue o ‘padrão’ do ‘NYT’ em sites como o Politico.’
TELEVISÃO
Em casa
‘A Assembleia Legislativa de SP renovou contrato com a Fundação Padre Anchieta para produzir e gerenciar a programação da TV Assembleia. O contrato é de R$ 18 milhões.’
Folha de S. Paulo
‘Fantástico’ cai 10 pontos em 4 anos
‘O ‘Fantástico’, que sempre foi o programa principal para a estreia das maiores campanhas publicitárias do país, perdeu dez pontos de média de audiência nos últimos quatro anos.
Em 2004, o programa dominical da Globo marcava 36 no Ibope. Em 2008, obteve 26. A queda foi gradual. Em 2005 baixou para 33, em 2006 para 32 e em 2007 para 28.
Foi em 2004 que a Record estreou sua versão do ‘Fantástico’, o ‘Domingo Espetacular’. A revista eletrônica da emissora de Edir Macedo começou com sete pontos de média naquele ano e foi subindo: oito em 2005, nove em 2006, 11 em 2007 e 12 no ano passado.
A queda de audiência do ‘Fantástico’ diante da concorrência é um dos motivos apontados para a troca de apresentadores, especialmente para a substituição de Glória Maria por Patrícia Poeta. Glória Maria e a Globo negam.
A Globo também tem tentado emplacar diferentes quadros a fim de reverter a queda.
Oscilação
A emissora falou à Folha a respeito do resultado de audiência do programa dominical nos últimos quatro anos por meio da Central Globo de Comunicação.
Por e-mail, a CGCom enviou o seguinte comentário: ‘A principal característica do ‘Fantástico’ é que nestes anos todos tem sido um programa em constante renovação e, mesmo com as oscilações típicas de todos os veículos de comunicação, é um dos maiores destaques da televisão sendo líder absoluto e uma das maiores audiências do Brasil.’’
Globo estreia ‘BBB’ e Record, ‘Troca de Família’
Sorte de quem gosta de ‘reality show’. Amanhã, a Globo estreia a nona edição de ‘Big Brother Brasil’, depois de ‘A Favorita’. De 18 pré-selecionados, quatro serão barrados na porta e já seguem amanhã mesmo para uma bolha de vidro num shopping do Rio para disputar uma vaga. Já a Record leva ao ar, a partir das 23h15, a terceira temporada do ‘Troca de Família’, com duas famílias do exterior, de Portugal e da Argentina.
Fernanda Ezabella
‘Roda Viva’ entrevista diretora da BBC
‘Uma das mulheres mais poderosas da TV britânica é a entrevistada de hoje do ‘Roda Viva’, na TV Cultura. Jana Bennett, 51, é diretora geral de TV e internet da BBC e cuida de um orçamento anual equivalente a R$ 3,6 bilhões, segundo a apresentadora Lillian Witte Fibe. O programa dá um breve histórico da BBC, enorme conglomerado público de rádio, TV e internet, criado há 86 anos e com serviços em 33 idiomas, incluindo o português.
Bennett, que desistiu de ser cantora profissional para se formar em economia, entrou na BBC em 1979 e trabalhou em diversos programas de notícias, atualidades e ciências. Em 2000, foi condecorada pela rainha Elizabeth com a Ordem do Império Britânico por seu trabalho com ciência na TV. Ela conversa com os jornalistas convidados sobre independência política e comercial na BBC, um assunto polêmico dentro da própria TV Cultura.
Apenas este mês a emissora brasileira parou de levar ao ar anúncios de produtos durante a programação para crianças. A executiva também fala sobre estratégias para chamar atenção de novas gerações de espectadores através de novas mídias. E, para burlar a crise econômica, ela conta que a saída são parcerias com outras emissoras para partilhar desenvolvimentos tecnológicos.
RODA VIDA – JANA BENNETT
Quando: hoje, às 22h10
Onde: na Cultura
Classificação: livre’
Folha de S. Paulo
Eles estão entre nós
‘No cinema, nos livros ou na TV, os vampiros voltam a atacar. Na nova série da HBO, ‘True Blood’, que estreia neste domingo, eles passam a conviver com os humanos graças ao desenvolvimento de um sangue sintético capaz de alimentar os mortos-vivos sem que eles precisem atacar a população.
Com isso, eles tentam se integrar à sociedade e passam a lutar por direitos civis iguais.
Sookie Stackhouse (Anna Paquin) é a personagem que conduz a trama. Ela é garçonete em um bar em Bon Temps, na Louisianna, e tem uma certa fascinação por vampiros. Quando o galã Bill (Stephen Moyers) chega à cidade, ela logo se apaixona por ele.
Jovem e bonita, Sookie é capaz de ler a mente das pessoas, o que a torna alvo de muitas gozações na cidadezinha.
Indicado a dois Globos de Ouro, de melhor série dramática e melhor atriz (Anna Paquin), o programa é uma adaptação da série de livros ‘Southern Vampire Tales’, de Charlaine Harris, e fez grande sucesso nos Estados Unidos.
Quatro meses antes da estreia, a emissora deu início a uma campanha de marketing baseada essencialmente na internet. Foi criado um site (www.bloodcopy.com) sobre o universo da série, que começou a divulgar vídeos sobre a descoberta do sangue sintético e a existência de vampiros.
A iniciativa causou frisson na comunidade gótica e gerou novos sites, comunidades virtuais e blogs para debater a história do sangue sintético. Muito exagero para algo que nem existe.’
PREMIAÇÃO
Travolta cancela participação na cerimônia do Globo de Ouro
‘O ator americano John Travolta, 54, cancelou a sua participação na 66ª edição do Globo de Ouro, considerada uma das principais prévias do Oscar. O motivo do cancelamento é a morte recente de Jett Travolta, 16, um dos filhos do ator, nas Bahamas, no último dia 2.
Travolta (‘Pulp Fiction – Tempo de Violência’) faria dueto com Miley Cyrus para cantar ‘I Thought I Lost You’, que concorre a melhor canção original e está na animação ‘Bolt – Supercão’.
Organizada pela Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood, a cerimônia de entrega das estatuetas, que aconteceria ontem à noite em Los Angeles, no hotel Beverly Hilton, recuperou um pouco do luxo perdido na última edição. No ano passado, a greve dos roteiristas fez com que os ganhadores fossem divulgados em uma seca entrevista coletiva. As estatuetas também ganharam um novo design.
Na premiação, ‘O Curioso Caso de Benjamin Button’, de David Fincher, e ‘Slumdog Millionaire’, de Danny Boyle, são os favoritos na principal categoria, a de drama. ‘Frost/Nixon’, de Ron Howard, pode surpreender.’
Ledger ganha Globo de Ouro por ‘Batman – O Cavaleiro das Trevas’
‘Na 66ª edição do Globo de Ouro, considerada uma das principais prévias do Oscar, o ator australiano Heath Ledger -que morreu em janeiro do ano passado- ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante por sua atuação em ‘Batman – O Caveleiro das Trevas’.
O diretor do longa, Christopher Nolan, recebeu a estatueta. Quando foi anunciado o prêmio, o público presente no auditório do hotel Beverly Hilton aplaudiu de pé o resultado.
A atriz britânica Kate Winslet ganhou o prêmio de melhor atriz coadjuvante por ‘The Reader’.
‘Slumdog Millionaire’, de Danny Boyle, ganhou o prêmio de melhor roteiro. ‘Wall-E’ levou a estatueta de melhor animação. O israelense ‘Waltz with Bashir’ foi o premiado como melhor filme estrangeiro. Bruce Springsteen ganhou o prêmio de melhor canção original -’The Wrestler’, do filme homônimo.
Em TV, até o fechamento desta edição, a minissérie ‘John Adams’ foi o maior destaque -ganhou quatro prêmios. ‘30 Rock’ ganhou como melhor série em comédia ou musical.’
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O Estado de S. Paulo
Segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
PUBLICIDADE
Publicidade pega carona com consumidores
‘A forma como a publicidade é consumida mudou radicalmente nos últimos anos. As novas tecnologias digitais provocaram uma fragmentação das mídias e deram ao consumidor uma participação muito mais direta e interativa na publicidade. Por isso mesmo, a grande busca de agências e anunciantes é por iniciativas que consigam envolver os consumidores com determinada marca ou produto.
Para Alexandre Peralta, sócio da agência PeraltaStrawberryFrog, a mudança é definitiva. ‘No passado, o consumidor vivia em um mundo de poucas escolhas e baixa tecnologia, onde a mídia era concentrada e o consumo de mídia era passivo’, diz. ‘Hoje, ao contrário, ele vive em um mundo de muitas escolhas e de uma mídia fragmentada, que é consumida de maneira seletiva e interativa. Numa era de seleção, contratação e criação compartilhada de conteúdo, o consumidor se tornou imune às mensagens que chegam por interrupção e repetição, como se dá na mídia tradicional.’
Iniciativas que tentam mobilizar os consumidores, de uma forma mais sutil, em torno de determinada marca ganham cada vez mais espaço nas ações de marketing das empresas. A agência Young & Rubicam, por exemplo, fez uma parceria com a Microsoft e lançou em novembro uma ‘webserie’, chamada ‘Control C Control V’, com conteúdo gerado pelos consumidores e patrocinada por três anunciantes. A ideia era aproveitar a audiência dos usuários de mensagens instantâneas pela internet – que já somam 42 milhões de pessoas no País. A novelinha, que tem seus capítulos veiculados no canal I Love Messenger, do portal MSN, já obteve 525 mil visitantes únicos.
A marca de achocolatados Toddy, por meio de uma ação articulada pela PeraltaStrawberryFrog, aproveitou a ajuda dos próprios consumidores para potencializar ‘um movimento pela verdade’. A ação ganhou militantes por meio das redes sociais e canais de comunicação online, como o YouTube e o próprio MSN, por onde espalhou uma vaia bem humorada à enrolação e à mentira: ‘Muuu!’, protagonizada pelas vaquinhas da marca. Quando o comercial entrou no ar, já contava com a cumplicidade dos jovens que participavam do movimento na web.
Um dos primeiros profissionais a detectar que as atuais condições de comunicação pediam uma nova forma de atuação para o negócio da publicidade foi o canadense Scott Goodson, fundador da StrawberryFrog em 1999, em Amsterdã. Goodson começou a incentivar o uso do conceito de ‘movimento cultural’ para vender campanhas publicitárias. A proposta é incentivar plataformas e comunidades nas quais as pessoas se engajam. Se apropria de ideias relevantes para as pessoas, fazendo com que elas se juntem em torno de uma causa mobilizadora e se tornem militantes dela.
‘O movimento cultural começa junto ao consumidor e envolve o produto’, explica Peralta, sócio brasileiro da StrawberryFrog . ‘Enquanto a publicidade tradicional tenta criar uma onda própria a partir do produto, um movimento cultural identifica uma onda já em formação e cria uma conexão entre essa onda e o produto, para que este possa ser empurrado por ela.’ O resultado prático disso, para as empresas, é o maior aproveitamento de suas mensagens com menor gasto em veiculação de mídia.
Os dez capítulos da novelinha ‘Control C Control V’, que, pelas projeções de Fernando Taralli, vice-presidente da área digital da Young & Rubicam, deverá atingir cinco milhões de visitantes, custou menos do que uma campanha convencional, apesar de envolver gastos com a produção da novela em si, além de roteiristas que adaptam os diálogos enviados pelos próprios consumidores.
‘Já há fornecedores que trabalham só com canais digitais e com custos bem menores ‘, conta Taralli. ‘Afinal, todas as agências estão buscando comunicação inteligente com menor custo. A questão está em arriscar, surfando nas ondas escolhidas pelo consumidor, o que dá um certo frio na barriga pelo caráter inovador. Ao mesmo tempo, pode surpreender ao trazer novos horizontes para o nosso trabalho’.
ÍCONES POP
O publicitário PJ Pereira, sócio da agência Pereira & O?Dell, em São Francisco, nos Estados Unidos, insiste, porém, que o que está mesmo mudando a maneira de se montar as estratégias de comunicação para os clientes é a fragmentação das mídias.
‘A essência do trabalho da propaganda sempre foi a de se inserir nas forças sociais e criar impacto cultural’, diz. ‘Aliás, no caso brasileiro, acredito que ela seja mesmo uma das mais bem sucedidas nessa categoria. São inúmeros os exemplos de campanhas que viraram ícones pop. E esse é sempre o sonho de todo anunciante.’’
PERSONAGENS
Biografia de Hearst contesta Orson Welles
‘O magnata da imprensa William Randolph Hearst, retratado por Orson Welles em seu mais célebre filme, Cidadão Kane, não foi o demônio que pintou o cineasta, diz sua nova biografia, The Uncrowned King (Counterpoint, 546 págs., US$ 30), de Kenneth Whyte. Criador de um grupo que ainda hoje tem 16 jornais diários, 16 revistas e uma emissora de televisão, Hearst foi reduzido a uma caricatura por Welles, segundo seu biógrafo. Assim como outro biógrafo do empresário, David Nasaw, que lançou há nove anos a biografia The Chief (Houghton Mifflin, US$ 16), Whyte diz que Hearst não incitou tantas guerras como o acusam.’
TELEVISÃO
Sem novela até 2011
‘Um seriado sobre três viúvas de um mesmo homem, a beira de um ataque de nervos, pode ser o último projeto de Aguinaldo Silva na Globo. Bom, pelo menos nos próximos 3 anos.
O autor conta que espera a resposta da rede para a série Cinquentinha, encaminhado à direção por Wolf Maya. O projeto colocaria Aguinaldo no ar antes do vencimento de seu contrato com a emissora, em 2011. Não há novela prevista na Globo para ele até lá.
‘Até o final do meu contrato não vai dar mais para fazer novela. Tem Manoel Carlos, Silvio de Abreu, depois Gilberto Braga…’, fala Aguinaldo. ‘ Se eu fizer um novo contrato – ?se? – será então a minha vez.’
O autor conta que Cinquentinha pretende reunir Renata Sorrah, Marília Gabriela e Suzana Vieira como protagonistas. Elas seriam todas ex-mulheres que recebem pensão do mesmo homem. Quando o sujeito morre, elas são obrigadas a trabalharem juntas para poder ficar com a fortuna dele. Detalhe: o trio se odeia.
‘Suzana (Vieira) e Marília (Gabriela) já toparam, falta falar com a Renata (Sorrah)’, conta o autor, que agora finaliza o roteiro do filme Roque Santeiro.’
Alline Dauroiz
Nova trama das 7 terá atriz cega
‘Com a promessa de ser uma inovação na teledramaturgia, a jornalista paranaense Danieli Haloten, que é deficiente visual, integrará o elenco da próxima novela das 7 da Globo, Caras&Bocas. Como uma vendedora de flores de um restaurante, ela despertará a paixão de um garçom e terá vida independente. ‘É a primeira novela no mundo com uma atriz cega em um dos papéis principais’, diz o autor Walcyr Carrasco. Em 2006, Danieli foi repórter por um dia no Profissão Repórter, da Globo. O vídeo está no YouTube.’
Patrícia Villalba
As sedas e os brocados de Maysa
‘Em apenas nove episódios da minissérie Maysa – Quando Fala o Coração, da Globo, a atriz Larissa Maciel desfilará mais de cem figurinos. A tarefa de contar a vida da cantora – sob o comando das figurinistas Marília Carneiro e Lúcia Dadário – acaba contendo uma aula sobre a moda dos anos 50, 60 e 70, dos vestidos de bolinhas das moças sonhadoras às túnicas de inspiração oriental dos tempos do amor livre.
Linda e forte, Maysa não chegou a ser ícone da moda. Da maquiagem, com certeza foi – porque era impossível ver aqueles olhos enormes, marcados, e não querer copiar. Mas ainda que não tenha lançado tendências, a cantora manteve guarda-roupa impecável. ‘Ela era muito elegante e ligada à moda, sim, mas muito mais clássica do que moderna’, explica Marília. ‘Todo mundo fala sobre a personalidade forte dela, doida, mas, externamente, nas roupas, ela não mostrava essa loucura.’
Há 35 anos na Globo e notória lançadora de moda em novelas – foi ela que pôs Sônia Braga de sandálias de salto e meias de lurex em Dancin? Days, em 1978 -, Marília teve dois meses para reconstruir Maysa como personagem por meio das roupas. ‘E o Jayme (Monjardim, o diretor) disse que estava bom demais, acredita?’, brinca ela, que conversou com o Estado por telefone na sexta-feira, ao mesmo tempo em que fazia testes no figurino da atriz Flávia Alessandra, para a próxima novela das 7 da emissora, Caras&Bocas.
Ela explica que o resultado é uma mistura de pesquisa com, principalmente, o vasto acervo que Jayme Monjardim guardava sobre a mãe. ‘Normalmente, quando vou começar um trabalho, eu saio para fazer uma pesquisa. Mas, desta vez, o Jayme era a pesquisa em pessoa. Ele me deu fotos, filmes, bilhetes, revistas – estava armadérrimo de material.’
Assim, a Maysa da TV veste modelos que poderiam ter sido usados pela Maysa de verdade e, também, cópias de peças do guarda-roupa original dela. Uma dessas cópias é um tailleur Chanel preto com debrum branco, que Maysa usa numa cena de viagem de avião, que ainda não foi ao ar. Outra, é um vestido com estampa de zebra, que ela usou numa cena de gravação, no capítulo de quinta-feira. Há também adaptações, como o vestido de cetim curto na frente e comprido atrás, que a cantora usou na entrega de um prêmio, também no capítulo de quinta-feira (veja abaixo o croqui de Adriano Pitangui). ‘Ela teve um vestido daquele, mas de outra cor. Botei aquela cor (vinho), porque amo e porque combina com o clima da minissérie’, justifica Marília.
Para ela, as estrelas do figurino são as diversas túnicas que a personagem passa a usar a partir dos anos 70. Quem gosta de moda não vai deixar de reparar no modelo que Maysa veste na cena do show no Olympia de Paris, executada pela grife carioca Corporeum a partir de uma modelagem Dior. Vai ao ar na quarta-feira.
Mas em meio aos cento e tantos modelos, o biscoitinho: uma túnica marroquina, bordada a ouro, que foi usada por Maysa no antológico show no Canecão, em 1969. As cenas devem ir ao ar nos capítulos finais, de quinta e sexta-feira. ‘O Jayme me entregou essa túnica quando as gravações estavam pela metade. O forro estava destruído pelo tempo, mas só tivemos que substituí-lo’, detalha Marília. ‘Eu achava que a Larissa era mais alta que a Maysa ou que a túnica poderia não servir, mas foi como se tivesse sido feita sob medida.’’
Lauro Lisboa Garcia
Duas biografias são relançadas na esteira do programa
‘Além de material de arquivo pessoal (cartas, diários, bilhetes etc.), a minissérie Maysa – Quando Fala o Coração, de Manoel Carlos, tem como base de consulta a biografia de Lira Neto, Maysa – Só Numa Multidão de Amores. Na esteira do programa, outros dois livros sobre a cantora acabam de ser relançados: Maysa (edição independente, 202 págs., R$ 35), de José Roberto Santos Neves, e Meu Mundo Caiu – A Bossa e a Fossa de Maysa, de Eduardo Logullo (Novo Século Editora, 248 págs., R$ 29,90).
Publicado pela primeira vez em 2005, o livro do capixaba Santos Neves foi pautado pela ligação de Maysa (1936-1977) com o Espírito Santo, por causa da família. Mas como ela ‘transcendeu todos os limites artísticos e territoriais’, o autor ampliou seu enfoque para o Brasil e o mundo. Além dos familiares, entrevistou gente importante da música próxima a ela, como Roberto Menescal, Tito Madi e Ricardo Cravo Albin. O livro tem belas fotos da cantora na infância, no casamento com André Matarazzo, no palco e num encontro com Edith Piaf (1915-1963), entre outras.
A biografia de Logullo também reúne imagens raras e procura fazer ‘um retrato onírico’ da cantora, contextualizando a trajetória da grande cantora e compositora na história do País durante cinco décadas. São duas boas fontes de informações para quem quer se aprofundar no entendimento dessa personalidade fascinante, diante da qual ninguém fica indiferente.’
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