Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ficam proibidos os furos de reportagem

Bons tempos quando era permitido à imprensa estadunidense dar furos no jornalismo investigativo. Dois destes tornaram-se emblemáticos: o primeiro mudou os rumos da Guerra do Vietnam, quando o jornalista Seymour M. Hersh, do New Yorker, em 1968, denunciou o massacre de My Lai, onde soldados dos Estados Unidos massacraram uma
inteira aldeia. O outro derrubou o presidente americano Richard Nixon, quando os jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, em 1972, pelo Washington Post fizeram as denúncias do que ficou conhecido como Caso Watergate.

Atualmente os jornalistas investigativos parecem ser portadores de uma doença contagiosa, ninguém pode aproximar-se deles. O governo dos EUA, valendo-se das leis antiterrorismo, está colocando em xeque uma das maiores instituições americanas que tem já 175 anos: a liberdade de imprensa (ver ‘Liberdade de Imprensa – Um marco histórico‘).

Agentes da NSA (National Security Agency), da CIA (Central Intelligence Agency), Departamento de Justiça e do FBI (Federal Bureau of Investigation) receberam cartas ameaçadoras com as quais são intimados a não discutir também os assuntos ‘não
classificados’, isto é, não secretos. Mais: um grupo de parlamentares propôs uma lei que impõe pesadas sanções a quem favorecer o vazamento de notícias.

O número 1 da CIA, Porter J. Gross, é o primeiro a dar partida à censura, enviando memorando a todos os funcionários para lembrá-los que é proibido não só divulgar informações, mas também ter contato com a mídia. E o Departamento de
Justiça sugeriu a um tribunal usar o Espionage Act, de 1917, destinado a perseguir os jornalistas que publiquem informações ‘reservadas’.

Guerra aos valores

Por divulgar notícias ‘passadas’ por funcionários do governo sobre erros cometidos na guerra do Iraque, a jornalista do New York Times Judith Miller acabou na cadeia e o chefe de gabinete do vice-presidente Dick Cheney, Lewis ‘Scooter’ Libby, está sendo investigado, já que existem fortes indícios que as informações tenham partido da
Casa Branca.

A vontade de amordaçar a imprensa vem tomando vulto especialmente depois do formidável furo do Washington Post, assinado pela jornalista Dana Priest, denunciando cárceres secretos da CIA na Europa Oriental.

Por outro lado, os profissionais do jornalismo também usam meios poucos ortodoxos, como a própria Judith Miller, que tinha um relacionamento de cumplicidade com suas fontes, recompensado com notícias privilegiadas.

O que preocupa o mundo jornalístico é a vontade férrea do governo dos EUA em controlar a imprensa. Sobre o assunto, diz com toda a proficiência Bill Keller, diretor do New York Times: ‘Parece que a administração quer declarar guerra em casa àqueles valores que quer exportar’.

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Jornalista