Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Fim de ano em clima de escândalo

Dia 30 de novembro, a principal manchete da Folha de S.Paulo: ‘Brasil é um dos piores em ciências’, motivada pelos últimos resultados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), ao testar o desempenho de alunos de 15 anos em 57 países – o Brasil em humilhante 52º lugar. O MEC não se surpreendeu, o que é bom sinal. Não há como enganar ou enganar-se. A situação é crítica mesmo!

Aproveitando o embalo, na mesma edição publica-se quase um ‘atestado de óbito’ da educação nacional, assinado pela psicóloga Rosely Sayão. Diz ela que o atual modelo de ensino no Brasil está falido. ‘Pior que está, não fica. É preciso encontrar alternativas ao ensino falido existente em 98% das escolas privadas e públicas.’ Levando a sério a afirmação, deveríamos perguntar como foi possível descer tão fundo para, quem sabe, descobrirmos o caminho de volta.

No Estado de S. Paulo (30/11), a humilhação também ganhou espaço, e lemos a declaração incisiva do professor Luís Carlos Meneses (USP): ‘A escola brasileira não está preparada para o aluno brasileiro, principalmente depois do processo de universalização do ensino fundamental e expansão do médio’. No mesmo Estadão, em 3/12, Claudia Costin, ex-ministra, professora do Ibmec, expressa com simplicidade o que de mais simples ansiamos: educação de qualidade. Mas a ‘histórica má gestão da educação brasileira’ levou-nos a este momento de perplexidade e desânimo.

‘Uso político’

Os esforços do ministro Fernando Haddad e sua equipe apontam para uma ruptura dessa má gestão. O PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação) foi divulgado em todo o Brasil desde 9 de maio deste ano. Expectativa: que em 2008 projetos propostos pelas autoridades municipais e estaduais apliquem os recursos do MEC em transformações palpáveis. A sorte está lançada… mais uma vez.

Também ‘gritante e histórico’, tem repetido Haddad, é o descaso com o magistério. Sem um professorado bem formado, bem remunerado, bem avaliado e bem orientado, continuaremos contando com atos de heroísmo e boa vontade de muitos docentes, sim, o que, na prática, traz apenas soluções locais e episódicas. De vez em quando, histórias de professores abnegados e criativos aparecem nas páginas de jornais e revistas, ou na TV, como exemplos de uma esperança moribunda…

O governador paulista José Serra já entendeu o que está em jogo. Se o MEC reencaminhar positivamente a educação brasileira nos próximos dois anos, terá surgido um novo nome forte dentro do PT. A educação como tema decisivo (e pauta imprescindível). Serra queixa-se, simulando indignação, de que Haddad faz ‘uso político dos dados do Pisa’ (Folha de S.Paulo, 6/12/2007). E faz mesmo.

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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br