Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Folha de S. Paulo


TV DIGITAL
Editorial


Impressões Digitais


‘Está próximo , ao que tudo indica, aquele que será o marco zero da TV
digital no Brasil: o decreto do presidente da República definindo a tecnologia
de modulação do sistema que promete revolucionar as comunicações. A decisão do
governo Luiz Inácio Lula da Silva está tomada em favor do padrão japonês.


Em si mesma, a opção por conduzir a toque de caixa a escolha da tecnologia
que norteará o Sistema Brasileiro de TV Digital já demarca os interesses
derrotados. Ficou em segundo plano a tarefa fundamental: elaborar um novo modelo
de dispor de um bem público -a banda de transmissão- no contexto em que a
digitalização vai multiplicar as oportunidades de uso desse espaço.


Não pode passar sem crítica a atuação do ministro das Comunicações ao longo
do processo. Hélio Costa (PMDB-MG) não escondeu sua preferência por um dos
padrões, quando seu papel teria de ser o de árbitro da disputa, a fim de
maximizar concessões a favor do país, de seus cidadãos e de suas indústrias.
Distanciando-se da sua condição de autoridade pública e aproximando-se do lobby,
comportou-se como defensor dos interesses das redes de TV.


Surgiram dúvidas acerca da informação -que o ministério de Costa se contenta
em repassar- de que uma contrapartida da escolha do padrão japonês seria o
compromisso do país asiático de investir U$ 2 bilhões em uma fábrica de
semicondutores no Brasil. Consultados, produtores do Japão não confirmaram o
investimento. Dizem que se comprometeram a ‘estudar’ o assunto.


Uma nova fábrica decerto amenizaria a expectativa de que os consumidores
brasileiros devem pagar mais caro para converter seus televisores à nova
tecnologia. O modelo não foi adotado em nenhum outro país a não ser no próprio
Japão, o que limita a escala de produção e, por conseqüência, a queda de
custos.


No futuro, a chamada convergência de mídias -o fim das fronteiras entre
radiodifusão, telefonia e internet- vai impor-se de modo inexorável, levando de
roldão todas as barreiras legais que hoje dificultam seu desenvolvimento no
Brasil. As redes de TVs sabem que terão concorrência pesada quando isso
acontecer. Portanto, não é pequena a vantagem que as emissoras conquistam nessa
disputa estratégica com a escolha do padrão japonês. De saída, afastam a
concorrência das companhias telefônicas, pois poderão transmitir conteúdo
diretamente para celulares.


Disputas empresariais, porém, não deveriam ser o foco principal da atuação do
poder público. Para a população, pouco importa se os interesses das telefônicas
prevalecerão sobre os das emissoras ou vice-versa -como pouco relevante é a
tecnologia escolhida.


A TV digital -seja no padrão europeu, seja no japonês- compacta a taxas
altíssimas a informação a ser emitida e aumenta exponencialmente a capacidade de
difusão de dados pelo ar. A faixa em que hoje trafega uma transmissão televisiva
poderá ser ocupada por seis emissoras. Ainda que a maior parte do potencial
extra seja usada para melhorar a qualidade da imagem (TV de alta definição),
restará espaço para outros fins.


Abre-se uma oportunidade de democratizar a radiodifusão. O modelo de
exploração da TV digital não pode partir do pressuposto de que a concessão que
as redes detêm para transmitir imagens significa monopólio de uma faixa de
freqüência. Essa é a discussão que mais interessa à sociedade. Ela transcende
disputas circunstanciais entre padrões tecnológicos ou setores
empresariais.’


Luís Nassif


Questão de estatura


‘Se de fato sair o resultado do novo padrão de TV digital amanhã, será a
desmoralização do papel do governo. Por isso, é possível que o governo Lula
pense três vezes antes de se curvar a imposições políticas.


Pela primeira vez, em muitos anos, o sistema de escolha parecia ter obedecido
a um ritual sério. Primeiro, o ex-ministro das Comunicações Miro Teixeira
encomendou a duas dezenas de institutos de pesquisa brasileiros o
desenvolvimento de um padrão nacional. O trabalho foi fundamental para formar
competências e agregar conhecimento ao sistema científico e tecnológico
brasileiro, inclusive para poder fundamentar melhor a escolha do padrão. Depois,
encomendou-se um estudo ao CPqD (o antigo centro de pesquisas da Telebrás).


O discurso desenvolvido, desde o começo, apontava para um conjunto de
prioridades que teriam de ser analisadas em conjunto. A esse conjunto, os
especialistas batizaram de ‘modelo de negócio’. Ou seja, o que se quer fazer com
a TV digital? Discussão sobre padrões é sopa de letrinhas. Todos os padrões que
se candidataram -o japonês, o europeu e o americano- têm suas vantagens e
desvantagens entre si, mas são consistentes, funcionam.


O ministro Hélio Costa faz lobby do padrão japonês, apresentando algumas de
suas vantagens. Poderia fazer o mesmo com os padrões europeu e americano.
Bastaria selecionar os pontos fortes do sistema e deixar de lado os pontos
fracos.


A questão central é que, para fugir de um tema político, apelou-se para uma
discussão falsamente técnica ou a falsos conflitos entre emissoras e operadoras
de celular.


Qualquer política de disseminação da TV móvel digital exigirá a participação
das companhias de celulares, seja no subsídio ao aparelho, seja na exploração
dos serviços sob demanda. A TV aberta é broadcasting, seu sinal é aberto, vai
para todos os telespectadores indistintamente. Qualquer que seja o padrão
adotado, o resultado final será um acordo entre emissoras e operadoras de
celular, cada qual com sua função. A própria associação das operadoras, Acel,
aliás, já colocou claramente que elas não pretendem ganhar em cima do sinal
aberto, mas da venda sob demanda e do canal de retorno (o uso do celular para
atender à interatividade).


Portanto essa é uma falsa questão, que acaba por jogar para segundo plano os
três pontos que interessam: a política industrial (o Brasil como plataforma
exportadora), a política tecnológica (o Brasil como produtor de tecnologia
associada) e a inclusão digital.


Em relação às exportações, os japoneses sustentam que podem ser fabricados
televisores no Brasil para qualquer padrão, já que a única diferença seria um
chip. Especialistas afirmam que essa integração só funciona na teoria. Na
prática, tirará completamente os ganhos de escala, já que, diferentemente dos
microcomputadores, TV digital perde performance e preço quando montada com
componentes diversos.


Em relação à questão tecnológica, centrou-se nessa promessa de investir em
fábrica de chips, o chamado ‘foundry’. Faria sentido se fosse uma fábrica que
fornecesse para vários ramos da indústria. E isso exigiria um planejamento de
política industrial que inexiste até o momento.


Mais que isso. No governo Fernando Henrique Cardoso, ocorreu discussão sobre
a relevância ou não de haver uma fábrica de chips no Brasil -um pouco rescaldo
do trauma de ter perdido um investimento da Intel para a Costa Rica. Chip é
commodity. Cada vez mais, o valor agregado está na arquitetura do sistema -na
inteligência que se coloca no chip. Como lembra o especialista Gustavo Giandre,
o desenvolvimento de uma indústria de microeletrônica não passa pela fabricação
de chips, mas por investimento em pesquisa e desenvolvimento nas universidades e
em pequenas empresas criativas. Israel e Irlanda se tornaram potências da
microeletrônica investindo maciçamente em ‘design houses’.


A definição da TV digital é a primeira grande chance do governo Lula para
criar uma política industrial e tecnológica de fato. Não há justificativa
legítima para tomar a decisão no atual estágio de discussão.


Se Lula tivesse seu Sérgio Motta, receberia um bilhete com o mesmo teor do
que foi para FHC: ‘Não se apequene, presidente’.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Vitória não é bandida, diz Silvio de Abreu


‘Um boato fortíssimo virou assunto dos noveleiros nos últimos dias: Vitória,
a mocinha interpretada por Cláudia Abreu em ‘Belíssima’, seria uma vilã. Ela até
teria um caso secreto com André (Marcello Antony), comenta-se.


‘É mentira’, diz Silvio de Abreu, autor da novela da Globo, que vem
registrando médias de 50 pontos. Silvio até escreveu um desmentido no site
oficial da novela, mas ninguém deu bola.


Segundo Abreu, toda a fofoca começou com uma falsa notícia em uma revista
especializada em telenovelas. E se espalhou, incontrolável, pelo rádio e pela
internet.


‘A Vitória não é bandida’, insiste o autor da novela. Para Abreu, o fato de a
heroína tentar dar um contragolpe em André pode ter reforçado o ‘mito’.


Nos capítulos desta semana, Vitória, em conluio com Júlia (Glória Pires), vai
tentar seduzir André, para manipulá-lo. A mocinha vai até insinuar ao vilão que
foi ela quem mandou matar o próprio marido, Pedro (Henri Castelli).


Mas, segundo Abreu, é apenas um plano de Vitória para dar um contragolpe em
André e tentar tomar de volta tudo o que ele roubou de Júlia. Como André precisa
de Vitória (acionista da Belíssima) para levar adiante o projeto de construir
uma nova sede para a empresa, o plano vingará.


Vitória e Júlia vão ainda criar a Athena, associação de pequenos acionistas
da Belíssima, numa tentativa de derrubar André.


OUTRO CANAL


Escotilha A Globo já assegurou o direito de exibir a segunda temporada de
‘Lost’. Mas só o fará em fevereiro do ano que vem, no lugar do ‘Programa do Jô’.
A primeira temporada, que na Globo acabou na última sexta-feira, foi um sucesso
para o horário: deu 15 pontos no Ibope, quase o dobro do que Jô costuma
registrar.


Boca Silvio Santos falou muito pouco nos últimos dias. Mas não foi para
poupar a voz. O dono do SBT fez uma cirurgia num dente.


Revista 1 O tão prometido novo programa de Angélica na Globo finalmente vai
estrear. Será em 8 de abril. A atração, que ainda não tem nome, entrará no lugar
do ‘Vídeo Show’ aos sábados, portanto antes do ‘Caldeirão’ do marido de
Angélica, Luciano Huck.


Revista 2 O programa será, na definição da Globo, uma revista eletrônica de
comportamento. Terá reportagens e entrevistas feitas pela própria Angélica. Não
será uma atração especificamente sobre celebridades, mas sim sobre pessoas que
vivem bem. Os assuntos serão viagens, passeios, saúde, beleza e culinária.


Altura Novo diretor de teledramaturgia do SBT, Herval Rossano pensou em mudar
a protagonista de ‘Cristal’, próxima novela da emissora. É que Bianca Castanho,
a protagonista, é baixinha. E seu personagem é o de uma modelo, alta,
obviamente. Mas Rossano desistiu da idéia.’


Marcelo Bartolomei


Autor retoma discussão sobre o racismo


‘Em 2002, Benedito Ruy Barbosa, o novelista que subverteu a dramaturgia com o
vôo do tuiuiú nos anos 90 com ‘Pantanal’, na extinta Manchete, quase morreu -de
desgosto. Foi quando, afetado por um desgaste emocional e por problemas de
saúde, pediu afastamento de ‘Esperança’, um quase fracasso do horário nobre da
Globo.


Recuperado (na última quarta-feira, o novelista passou por um check-up
cardíaco, constatando que, sim, está tudo bem) e de volta à TV, Barbosa
reaparece na emissora com o remake de ‘Sinhá Moça’, obra sua inspirada no
romance de Maria Pacheco Fernandes e agora adaptada por suas próprias filhas
Edmara e Edilene, que estréia amanhã, às 18h na Globo.


No entanto, a plena forma como autor de mais de 25 novelas deve se consolidar
entre 2007 e 2008, quando estréia seu primeiro texto original no horário nobre
desde seu afastamento. É quando reescreverá ‘Pantanal’, cujos direitos já foram
adquiridos pela Globo -não em forma de remake, mas como inspiração para uma
história contemporânea que mostrará a degradação do Centro-Oeste brasileiro.


Em entrevista à Folha, ele fala da atualidade da discussão sobre o racismo e
comenta a missão de suceder a recordista de audiência ‘Alma Gêmea’ com um texto
histórico. Na política, o autor se revela ‘infiel’. Já apoiou Orestes Quércia,
votou em Lula e diz que sua maior decepção é FHC. Abaixo, trechos da
entrevista:


Folha – ‘Sinhá Moça’ é uma história atemporal?


Benedito Ruy Barbosa – Veja o racismo no futebol. Há agressões estúpidas, que
mostram um racismo bobo em um país como o nosso. A novela traz essa lembrança
trágica que ainda existe. Desde o início, quando escrevi o texto, abandonei o
livro original e desenvolvi a história da Abolição segundo os critérios que
pesquisei durante a vida.


Folha – A novela é inspirada no livro e traz suas visões do período?


Barbosa – Minha preocupação era mostrar que a princesa Isabel não assinou a
lei Áurea por um ato de bondade, mas porque não tinha outra saída. É a verdade
histórica, não a que está nos livros. Os próprios fazendeiros não conseguiam
mais lidar com os negros em suas fazendas. Quis mostrar que o negro conquistou
sua liberdade, mas, quando a recebeu, não sabia o que fazer. Foi a liberdade
mais fajuta da história. Abriram as portas das senzalas e não deram nenhum
pedaço de chão para plantar e nem sequer um prato de comida. Para mim, a maior
glória como novelista foi um depoimento do Grande Otelo, que esteve na primeira
versão da novela, dizendo que eu havia prestado um serviço à população como
nenhum outro negro havia.


Folha – Vale relembrar isso na TV apenas 20 anos depois da primeira
versão?


Barbosa – Quando você fala em Castro Alves, o poeta dos escravos, a nova
geração nem sabe quem foi. A luta pela Abolição entre poetas e escritores era
terrível. Tudo isso é importante e revela que a história do Brasil ainda não é
cultivada; é esquecida.


Folha – O sr. sofre pressão por audiência?


Barbosa – A Rede Globo aceitou colocar uma novela séria como ‘Sinhá Moça’ no
horário. Lembro da primeira vez em que a novela foi ao ar, quando o assunto
voltou à tona nas salas de aula. Dava audiência de novela das oito. Será que vai
acontecer de novo? Não sei se o compromisso do público de hoje é o mesmo. Mas,
como estrutura, a novela tem elementos que cativam o espectador. Foi a única
novela que bateu ‘Escrava Isaura’ em vendas para o exterior. Não sei se o
compromisso do público de hoje é o mesmo. Mas, como estrutura, a novela tem
elementos que cativam o espectador. Foi a única novela que bateu ‘Escrava
Isaura’ em vendas para o exterior. Agora ela perdeu para ‘Terra Nostra’, que
também é minha. Não acho que ela vá conseguir segurar o mesmo fenômeno que o
Walcyr [Carrasco, de ‘Alma Gêmea’] fez. Não sei fazer esse gênero, o
pastelão.


Folha – O que aconteceu em ‘Esperança’?


Barbosa – Eu tive problemas de saúde. Perdi meu irmão e minha mãe. Fumava
quatro maços por dia. Parei de fumar e de escrever no mesmo dia. Travou. Pedi à
Globo para me afastar e o Walcyr levou legal até o final, mas, infelizmente, ela
não terminou como eu queria. Mas não foi um fracasso


Folha – O sr. tem algum texto original para apresentar?


Barbosa – Nem toquei no texto de ‘Sinhá Moça’. É com minhas filhas, como
fizemos em ‘Cabocla’ (2004). Eu confio nelas. Agora estou trabalhando na próxima
novela das oito, com foco político no Brasil de hoje. Será rural e urbana, meio
a meio. Mexo com coisas muito sérias, como os heróis anônimos que desenvolvem a
ciência do país. Como a Globo comprou os direitos do texto de ‘Pantanal’, eu vou
misturar a parte interiorana com agropecuária. Quero mostrar como o Pantanal
está degenerado por falta de critérios do governo. Aquele de 30 anos atrás não
existe mais.


Folha – O ritmo lento de ‘Pantanal’ cabe na Globo?


Barbosa – Claro que sim. Quando cair em São Paulo, estará naquela correria;
quando cair no Pantanal, será aquele sossego. Vai ter o ritmo do vôo do tuiuiú,
das águas pantaneiras, do vôo da garça, do jeito do pantaneiro falar, aquela
loucura toda de novo.


Folha – O sr. sempre fala de política nas novelas… Como anda sua
avaliação?


Barbosa – Eu já fiz campanha para a Arena e para o Orestes Quércia e me
arrependo. E as CPIs, estão dando em quê? Todo mundo está comprometido. Votei no
FHC, mas não voto mais em candidato do PSDB nem do PFL. Votei no Lula e ainda
não sei em quem votar neste ano.’


***


Especialista elogia ‘sessão nostalgia’


‘Tanto a reprise quanto o remake se justificam por serem antigos sucessos que
podem ser revelados a novas audiências. É a opinião do especialista em mídia e
diretor de TV Gabriel Priolli, 52: ‘Deveríamos ter mais reprises, pois o ciclo
do audiovisual é curto. Mas isso faz parte apenas da tradição na TV paga, não na
aberta’.


Além do remake de ‘Sinhá Moça’ (exibida há 20 anos), recentemente a TV foi
inundada de reprises de novelas: ‘Xica da Silva’, no SBT; ‘A Escrava Isaura’, na
Record; e ‘Mandacaru’, na Band; todas com audiência média de 250 mil
espectadores.


Segundo o pesquisador, a ‘sessão nostalgia’ pode ser vista também como
redução nos custos, uma vez que a produção em dramaturgia exige investimentos.
Mas não é, para ele, escassez de autores. ‘O que falta é oportunidade para novos
talentos. A formatação é muito rígida. Fazemos telenovela, minissérie ou
sitcom.’


Maria Immacolata Vassallo de Lopes, coordenadora do Núcleo de Pesquisa de
Telenovela da USP, vê o remake como uma releitura aperfeiçoada. ‘O próprio autor
pode corrigir falhas ou alterar algumas visões. É uma garantia de sucesso, não
só no Brasil, mas em toda a América Latina, com suas atualizações necessárias.
Não digo que é bom nem ruim. É um fenômeno normal dentro da indústria
cultural.’


Para a pesquisadora, o fato de outras emissoras entrarem na dramaturgia,
mesmo não tendo condições de produzi-las, coloca as reprises na grade.


Já para a professora da UFRJ Raquel Paiva, 45, é uma forma de repensar o
passado e gerar expectativas para o futuro. ‘Não considero uma desesperança ou
falta de autores. É uma tentativa de nova interpretação, de uma época mais
atual; a gente relê livros com muita freqüência e descobre novas coisas sobre
eles.’


Não há, no entanto, ninguém mais empolgado que as irmãs Edmara e Edilene, as
filhas de Benedito Ruy Barbosa. Edmara participou da primeira versão escrita
pelo pai. Segundo ela, a novela terá cerca de 20 capítulos a mais que a primeira
versão.


Alguns papéis serão ampliados, como o de Cândida, mãe de Sinhá Moça, vivida
por Patrícia Pillar, que na versão original foi Ana do Véu. ‘A personagem não é
somente uma mulher submissa. Claro que mostra que é preciso lutar por ter voz e
opinião. A função dela é mais que isso, pois tem uma história de amor
interessante entre ela e o barão’, diz a atriz.


Abolicionistas ganharão mais destaque. Além disso, serão formados mais casais
românticos que na versão de 1986. ‘É uma idéia que tivemos, mas que ainda não
colocamos em prática. Estamos com 45 capítulos escritos, dez prontos para serem
exibidos’, diz a roteirista.’


Bia Abramo


‘Alma Gêmea’ e o neo-obscurantismo


‘Não é de hoje que o horário das seis da Globo concentra novelas com um forte
componente antiquado, seja por serem de época, seja por se ambientarem no
universo rural ou de pequenas cidades, seja por combinarem os dois. O clima
invariavelmente retrô, ingênuo e romântico dessas novelas vem elevando a
audiência do horário -descrito pelos ‘mercadólogos’ como composto basicamente
por aquelas mulheres que ainda são exclusivamente donas-de-casa e crianças.


‘Alma Gêmea’ deu um passo além, ao introduzir o misticismo na equação, nessa
tendência ao atraso que vem sendo explorada pela novela. Aliás, nesse sentido, a
novela que acabou de acabar foi um primor, com elementos francamente
neo-obscurantistas como reencarnação, idéia de destino, a crença num amor
imorredouro. Isso e as caracterizações desastradas do núcleo de caipiras
caricatos e da heroína semi-indígena (?!) deram à novela um inequívoco ar
cafona.


Ao longo de mais de 200 capítulos, ‘Alma Gêmea’ contou a história de alma
arrebatada pela violência do mundo dos vivos que reencarna numa bebê de pai
português e mãe indígena que está nascendo. Ao crescer, a indiazinha de olhos
verdes tem visões que a levam para o viúvo da moça morta. Claro que, nessa
jornada em direção ao seu destino, o viúvo inconsolável e a indiazinha serão
atrapalhados por toda a sorte de vilões.


É praticamente um mantra da indústria cultural se justificar dizendo que dá o
que público quer; uma leitura apressada pode considerar que é exatamente isso
que se faz. Mas será que, ao contrário, o mecanismo é de tal forma perverso que
o público passa a querer aquilo que se imagina que deva ser dado?


A ordem dos fatores, nesse caso, faz a maior diferença. Numa hipótese,
trabalha-se com a idéia de que a ignorância e os preconceitos do público é que
fazem a qualidade suspeita de algumas produções; invertendo os termos, tem-se
uma situação em que os propósitos ideológicos e estéticos (conscientes ou não)
de quem produz criam padrões de qualidade e, sobretudo, limites para aquilo que
se oferece. Nessa segunda formulação, há um pressuposto de merecimento, ou seja,
como se existisse alguém pensando: ‘Fazemos uma novela atrasada, tonta e
neo-obscurantista porque é isso que as donas-de-casa querem e, mais, é
exatamente isso -e só isso – que elas merecem’.


O diabo é que o gosto, que se discute sim, tem mecanismos mais complexos e
autônomos. Mesmo considerando que a torcida pelos vilões -nesse caso, uma vilã
tão bem talhada que até deu uma sobrevida à carreira, de resto inexpressiva, de
Flávia Alessandra – seja uma resposta clássica em qualquer novela, o fato da
malvadona estar concentrando todas as atenções pode indicar que a aposta no
ultra-romantismo tenha sido excessiva e deslocada.’


MERCADO EDITORIAL
Rafael Cariello, Isabelle Moreira Lima e Eduardo
Simões


Livrarias cobram para dar destaque nas vitrines


‘O consumidor não é informado, alguns editores e livreiros negam ou
desconversam, mas a verdade é que o destaque dado a muitos livros em vitrines ou
no interior de algumas grandes livrarias é comprado. Da mesma maneira que os
supermercados fazem com sabão em pó ou saquinhos de batata frita, as livrarias
cobram -e os editores pagam- para que os produtos, no caso livros, ocupem
posições estratégicas em vitrines, gôndolas ou ‘pilhas’ que chamam a atenção do
público.


‘Não existe nada disso’, afirma a assessoria de imprensa da editora Rocco.
‘Todas fazem isso’, garante Ivo Camargo, diretor de vendas da Ediouro.


Camargo tem razão. Redes como Fnac, Saraiva, Livraria Cultura e Laselva
estabelecem preços para colocar livros em destaque. Embora a prática não seja
ilegal, ela não é explicitada para os consumidores -que não sabem o que é
indicação do livreiro e o que é espaço comprado.


Os preços de um pedaço de vitrine ou de uma pilha de livros em destaque
variam, de acordo com planilhas e negociações a que a Folha teve acesso, de R$
700 a R$ 2.000, dependendo do local e do tempo de exposição.


Embora os preços sejam estipulados em dinheiro e algumas livrarias tenham até
tabelas específicas para o negócio, o pagamento, de forma geral, é feito em
mercadoria (mais livros, o que, ao final, significa um abatimento no preço por
unidade para as livrarias, em troca do espaço nobre e da divulgação para os
leitores).


Parcimônia na venda


Duas das principais redes de venda de livros no país, a Cultura e a Fnac,
ambas com lojas em grandes cidades do país, confirmaram à Folha o
procedimento.


Sergio Herz, diretor da Livraria Cultura, que cobra R$ 900 por cerca de 1m de
vitrine (por loja durante 15 dias, envolvendo até dez títulos de uma mesma
editora), afirma que o espaço vendido é minoritário em relação ao destinado à
indicação editorial da rede. ‘Se 15% forem comercializados, é muito’, ele diz.
‘Não é toda a vitrine. Nós separamos partes da vitrine, senão a livraria fica
sem liberdade.’


O princípio da Cultura, ele diz, é manter sua independência em relação às
editoras, decidir em quais casos negociar e se orientar pelo que considera ser o
interesse do leitor. Ele diz que, se a rede vender espaço demais sem pensar no
consumidor, termina por ser ela própria a prejudicada.


‘Quando a gente vai vender o espaço, o que é interessante? Interessa para o
cliente da livraria? Se interessar, a gente pode até ver. Se não interessar,
acabou, esquece.’


Questionado sobre o fato de o consumidor não ter nenhuma indicação de qual
espaço foi vendido e qual se trata de uma indicação não-comercial da livraria,
ele diz não ver prejuízo para o leitor. ‘Ele tem livre-arbítrio para comprar o
que quiser. Não é impositivo. Ninguém está forçando nada nem é uma lavagem
cerebral.’


Pierre Courty, diretor-geral da Fnac Brasil, que cobra R$ 2.000 por uma
‘ponta de gôndola’ acompanhada de anúncio no site da rede durante dez dias,
afirma que essa política resulta em ganhos para o consumidor. ‘O trabalho da
Fnac é o de tentar negociar o melhor preço possível e tentar baratear o livro’,
ele diz. As ‘pontas de gôndola’ são as ‘esquinas’ entre as estantes.


Courty também afirma que o espaço vendido é minoritário dentro da loja.
Segundo ele, a lógica comercial é o que menos pesa nas indicações da rede. ‘O
produto tem que ser interessante.’


‘Não há como dizer a você que não existe uma negociação’, afirma Martine
Birnbaum, diretora de comunicação e ação cultural da Fnac. ‘Mas é pontual e faz
parte de uma política mais ampla.’


A Folha também procurou as livrarias Saraiva, Siciliano e Laselva, citadas
por editores como redes que vendem visibilidade. Elas não responderam às
perguntas feitas pela reportagem.


Editoras


Entre as grandes editoras, o assunto é tratado com cautela. As duas casas
mais prestigiosas do país, a Companhia das Letras e a Cosacnaify, não atenderam
aos pedidos da Folha para comentarem a prática.


Luciana Villas-Boas, editora da Record, disse desconhecer o procedimento.
‘Acho lamentável que essa prática comum das cadeias de livrarias dos EUA se
estenda ao Brasil’, disse.


Já Ivo Camargo, diretor de vendas da Ediouro, afirmou realizar a compra de
locais de destaque nas livrarias, prática que, segundo ele, é comum a todas as
grandes redes (leia texto nesta página).


Marcos Pereira, editor da Sextante, detentora de grandes sucessos comerciais
-como ‘O Código Da Vinci’-, confirma a venda por parte das livrarias. ‘No
Brasil, começa a existir esse tipo de oferta para editores. É uma faca de dois
gumes, porque quem é contra perde para a concorrência que compra o espaço de
exposição, que é importante na decisão do comprador’, ele diz.


A venda de vitrines e ‘pontas de gôndola’ é condenada sobretudo pelas
pequenas e médias editoras. Ivana Jinkings, editora da Boitempo, considera que o
procedimento ‘é indefensável, sob qualquer aspecto. É um contra-modelo, a não
ser seguido, pois trata o livro como uma mercadoria entre outras’. Entre as
conseqüências possíveis da venda de espaço ela prevê ‘a diminuição da oferta de
obras de conteúdo, em grande parte produzidas por editoras que não se submetem a
essa ditadura do mercado’, e a ‘perda de credibilidade das livrarias’.


Jinkings defende que a prática seja extinta. ‘No mínimo, deviam deixar claro
ao leitor ou cliente que aquele determinado espaço é pago, e não indicação do
estabelecimento’, afirma.


Araken Ribeiro, editor da Contracapa e presidente da Libre (Liga Brasileira
de Editoras), que reúne pequenas editoras, diz que ‘na medida em que você começa
a cobrar para expor livros, é natural que os pequenos percam espaço’. ‘É uma
briga de quem tem poder econômico’, afirma.


Mas a disseminação dessa prática tem forçado até pequenas editoras a entrarem
no jogo. No que chama de sua ‘primeira grande incursão no mercado com um
best-seller, de forma consciente’, para lançar ‘O Atentado’, de Yasmina Khadra,
Eliana Sá, da Sá Editora, resolveu que o livro merecia uma ‘operação de
emergência’ e negociou ‘com uma das grandes redes do mercado’ -ela não quis
mencionar o nome da livraria- uma ‘ponta de gôndola’, paga com uma bonificação
em livros.


‘É uma aposta de coexistência necessária, porque tenho uma editora pequena e
estou nadando contra a corrente neste ano, lançando menos títulos, best-sellers,
com maior tiragem. Decidi que preciso negociar com as grandes redes’, diz
Sá.’


***


‘Todas fazem’, afirma diretor de editora


‘Ivo Camargo, diretor de vendas da Ediouro, não se incomoda em comentar o
assunto e assegura: as principais redes de livrarias vendem espaço de destaque
às editoras de livros. A seguir, trechos da entrevista.


Folha – Qual a sua opinião sobre a venda de espaço em livrarias?


Ivo Camargo – No livro, está acontecendo por um problema de custo. Tem que
pagar o espaço porque a maioria delas [livrarias] fica em shopping, o que é
muito caro.


Folha – Isso é natural, do mercado, ou pode trazer problemas para a
cultura?


Camargo – Acho que isso aí é mercado. Quem quer faz, quem não quer não faz.
Se eu tivesse um produto muito forte, eu faria.


Folha – A Ediouro compra?


Camargo – A gente faz parcerias. Com ponta de gôndola, minilivros.


Folha – Em lançamentos pontuais, ou normalmente?


Camargo – Depende do produto. Por exemplo, vamos soltar um livro agora que
vai pegar lista.


Folha – Qual a estratégia?


Camargo – Terá tiragem alta, frente de livraria. Tudo o que é agressividade
em ponto-de-venda a gente fará.


Folha – E quais livrarias costumam fazer esse trabalho?


Camargo – Todas, todas fazem. A Siciliano faz. Fnac faz. Cultura faz. Laselva
faz. A Laselva, inclusive, tem um departamento que cuida só disso. Acho que está
certo, tem que cuidar mesmo.


Folha – Essa prática existe há quanto tempo?


Camargo – De uns dois anos para cá. Mas não fica impressionada com isso não.
Isso é tão normal.’


Daniel Buarque, Marcos Flamínio Peres e Marcos Strecker


Os Donos Do Livro


‘Confirmando a geopolítica do país, São Paulo e Rio, que sediam as duas
principais bienais do mercado editorial brasileiro, também abrigam as
personalidades mais influentes do setor, segundo enquete promovida pela
Folha.


Com mais que o dobro de votos do segundo colocado, Luiz Schwarcz chacoalhou o
mercado editorial ao profissionalizar todas as etapas de produção do livro.
Discípulo do inovador Caio Graco na editora Brasiliense nos anos 80, Schwarcz
(com 16 votos) passou a ver o livro como objeto de consumo, digno de tratamento
diferenciado em todas as etapas de produção. Isso incluía desde a tradução,
revisão, diagramação e acabamento sofisticados até a venda em locais então pouco
usuais -como supermercados- e a divulgação agressiva junto da mídia.


Já Luciana Villas-Boas, após uma carreira bem-sucedida em jornal e TV,
assumiu há dez anos a direção editorial da Record. Selo principal do poderoso
grupo editorial que leva o mesmo nome, ela tem administrado com sucesso seu
imenso catálogo, que vai de poesia e sociologia a ciência, literatura e
economia, além do grande número de best-sellers.


Na outra ponta do mercado editorial está Pedro Herz, livreiro que soube criar
na Cultura do Conjunto Nacional, em SP -por muito tempo, sua única unidade-, um
padrão de excelência tanto no atendimento quanto na formação de acervo, que
também privilegia a ‘backlist’ -livros lançados já há algum tempo.


Chama a atenção na enquete a importância relativamente pequena atribuída aos
críticos de jornais e revistas, outrora decisivos para determinar o vida ou a
morte de um livro -e de que é exemplo Antonio Candido (mencionado duas
vezes).


Critérios


Para realizar essa enquete, a Folha ouviu 35 pessoas dentre um amplo leque de
personalidades-chave do mercado, como editores, livreiros, tradutores,
escritores, críticos e professores universitários -muito dos quais, de resto,
apontados entre os mais influentes. Cada um deles votou em três nomes -sem
hierarquização- que consideravam os mais influentes do mercado editorial
brasileiro, sendo vedado indicar o próprio nome assim como publicações ou
instituições.


Talvez cientes -e ciosos- do poder que detêm, os três mais indicados na
enquete preferiram se abster de votar.’


***


O Homem Forte


‘De ‘enfant terrible’ na década de 80 a ‘tycoon’ no final dos 90. Assim pode
ser resumida a trajetória de Luiz Schwarcz, 49, diretor da Companhia das Letras
e personalidade mais influente do mercado editorial brasileiro, segundo enquete
realizada pela Folha.


Schwarcz começou sua carreira na editora Brasiliense e diz que considera ‘uma
honra’ ser apontado como discípulo de Caio Graco Prado, o editor que renovou o
mercado brasileiro na década de 80, no fim do regime militar. O dono da
Brasiliense foi responsável por símbolos que marcaram época: o jornal ‘Leia
Livros’, as coleções Primeiros Passos, Encanto Radical e Tudo É História.


O atual diretor da Companhia das Letras ajudou o chefe de então e já atraía a
atenção da mídia. Saiu de lá em 1985 para fundar a sua própria editora. A
Companhia, aberta um ano depois, logo ganhou destaque e publicou títulos que
fizeram grande sucesso, alguns inesperados e ‘quase inexplicáveis’: ‘Rumo à
Estação Finlândia’, de Edmund Wilson, é um exemplo. Hoje, são 2.000 títulos em
seu catálogo, de 1.300 autores. Apenas no ano passado a editora lançou cerca de
190 livros.


Graduado em administração de empresas na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo
e com mestrado incompleto em ciências sociais na USP, Schwarcz também escreve.
No ano passado fez sua estréia na ficção adulta com os contos de ‘Discurso sobre
o Capim’, depois de ensaiar os primeiros passos na literatura infantil com
‘Minha Vida de Goleiro’ (1999) e ‘Em Busca do Thesouro da Juventude’ (2003).


É casado com a professora livre-docente no departamento de antropologia da
USP Lilia Moritz Schwarcz, autora de, entre outros, ‘As Barbas do Imperador’
-sobre o reinado de d. Pedro 2º.


Pelo espaço que ocupa, às vezes incomoda outros personagens do mundo
literário. No ano passado, afastou-se da organização da Festa Literária
Internacional de Parati -hoje o evento de maior prestígio internacional no
mercado editorial brasileiro- depois de contribuir para o sucesso do
empreendimento, juntamente com a idealizadora Liz Calder. Isso porque, em 2004,
alguns editores acusaram a Flip de privilegiar a Companhia das Letras.


Schwarcz respondeu às perguntas abaixo na quinta-feira, de Londres, onde
estava acompanhando a feira de livros local. (MS)


Folha – Qual o seu livro preferido?


Luiz Schwarcz – ‘Grande Sertão: Veredas’.


Folha – Tem algum autor preferido?


Schwarcz – Guimarães Rosa.


Folha – Qual o autor mais importante que já lançou?


Schwarcz – Peço desculpas aos leitores, mas não posso responder…


Folha – Qual é o autor mais importante que descobriu?


Schwarcz – Ele ainda não foi publicado.


Folha – Qual é o autor mais importante que gostaria de ter publicado?


Schwarcz – Jorge Luis Borges.


Folha – Qual é o principal livro que lançou?


Schwarcz – Ele ainda não foi publicado.


Folha – Qual é a mais importante: a Bienal do Rio ou a de SP? Por quê?


Schwarcz – As duas. Porque estou sendo mineiro…


Folha – O que fazer para baixar o preço do livro no Brasil?


Schwarcz – Oferecer acesso à educação e aos bens culturais por meio de
políticas de distribuição de renda e de educação em massa.


Folha – O Brasil precisa de uma política pública para o livro?


Schwarcz – Precisa de uma política pública de educação de massa e de criação
de bibliotecas. Não precisa de uma política pública para o livro.


Folha – A internet é uma ameaça real à existência das editoras?


Schwarcz – De forma nenhuma.


Folha – O avanço das editoras estrangeiras sobre o mercado brasileiro ameaça
o espaço das nacionais?


Schwarcz – Não.


Folha – Como será o mercado editorial brasileiro daqui a dez anos?


Schwarcz – Melhor do que hoje.


Folha – Quem lê no Brasil?


Schwarcz – Sobretudo os jovens.’


***


A Voz Múltipla


‘Luciana Villas-Boas, 48, tornou-se diretora editorial da Record -um gigante
brasileiro do setor- depois de abandonar uma bem-sucedida carreira no
jornalismo. Formada em história, trabalhou na editoria de política do ‘Jornal do
Brasil’, tendo sido editora do caderno ‘Idéias’. Foi repórter de cultura da
revista ‘Veja’ e trabalhou na TV Globo e na BBC, em Londres.


Considera um de seus maiores feitos ter lançado o best-seller ‘Perdas &
Danos’, de Lya Luft. Apesar de respeitar o poder da imprensa, acha que o
boca-a-boca é indispensável na divulgação de livros. (MS)


Folha – Qual o seu livro preferido?


Luciana Villas-Boas – ‘O Crime do Padre Amaro’ [de Eça de Queirós] e ‘Crime e
Castigo’ [de Dostoiévski].


Folha – Tem algum autor preferido?


Villas-Boas – Eça de Queirós e Dostoiévski.


Folha – Qual o autor mais importante que já lançou?


Villas-Boas – Tenho orgulho de estar revitalizando a poesia na Record com as
obras de Adélia Prado e Manoel de Barros e com os acervos de Jorge de Lima e
Murilo Mendes, além de vários novos poetas.


Folha – Qual é o autor mais importante que descobriu?


Villas-Boas – Miguel Sanches Neto, Mario Sabino e Alberto Mussa são três
autores que descobri, mais tarde premiados e consagrados.


Folha – Qual é o autor mais importante que gostaria de ter publicado?


Villas-Boas – É da Record, mas não é ‘meu’, pois entrou para o catálogo muito
antes da minha chegada à editora: Graciliano Ramos.


Folha – Qual é o principal livro que lançou?


Villas-Boas – Na minha carreira, ‘Perdas & Ganhos’, de Lya Luft, porque,
tendo vendido 550 mil exemplares em três anos, me fortaleceu profissionalmente e
consolidou minha posição na empresa. Afetiva e literariamente, há incontáveis
‘principais’ livros.


Folha – Qual é a mais importante: a Bienal do Rio ou a de SP? Por quê?


Villas-Boas – A Bienal do Rio é mais organizada e de fato mobiliza
culturalmente a cidade.


Folha – O que fazer para baixar o preço do livro no Brasil?


Villas-Boas – Somente com uma massa maior de leitores, de maneira a ampliar
as tiragens iniciais.


Folha – O Brasil precisa de uma política pública para o livro?


Villas-Boas – O Brasil precisa de uma séria política de educação pública e de
uma política de crescimento e emprego. Uma população instruída e com renda
constitui base suficiente para a indústria editorial difundir o livro.


Folha – A internet é uma ameaça real à existência das editoras?


Villas-Boas – Oferecendo entretenimento de baixa qualidade, que consome o
tempo antes dedicado à leitura, é perniciosa como a TV, o vídeo, o DVD. Olhada
como pura tecnologia, é positiva para o livro.


Folha – O avanço das editoras estrangeiras sobre o mercado brasileiro ameaça
o espaço das nacionais?


Villas-Boas – Elevar os adiantamentos de direitos autorais no exterior e no
Brasil para patamares financeiramente irrealizáveis, com uma política que só
pode ser de terra arrasada, dificulta o jogo e perturba o mercado. Mas as
principais editoras nacionais agüentam facilmente o tranco. Creio que as
estrangeiras pagarão um preço alto daqui a três, quatro anos. Não é possível que
Madri e Barcelona cubram o caixa por prazo indeterminado.


Folha – Como será o mercado editorial brasileiro daqui a dez anos?


Villas-Boas – Espero me aposentar deixando para as herdeiras de Sônia e
Sérgio Machado uma editora sólida, com um catálogo renovado respeitabilíssimo,
empregando meia centena de pessoas, fora milhares de colaboradores indiretos,
diante de um mercado amadurecido, mais profissional, atendendo a um público de
leitores que seja o dobro do que é hoje.


Folha – Quem lê no Brasil?


Villas-Boas – Uma elite intelectual que na maior parte, infelizmente,
coincide com a elite econômica.’


***


O Formador De Acervo


‘Em vez de editar e produzir livros, como os outros mais citados da enquete,
a terceira pessoa mais apontada como a mais influente do mercado editorial
brasileiro -mencionados por seis dos entrevistados- é um livreiro.


Dono da prestigiosa rede Cultura de livrarias -presente em quatro cidades do
país (São Paulo, Recife, Porto Alegre e Brasília) e completando 58 anos em
2006-, o administrador Pedro Herz, 65, se destacou no meio livreiro ao investir
no incremento do acervo e na formação de seus funcionários, em vez de
multiplicar-se em filiais.


‘Hoje tenho uma espinha dorsal saudável, na qual consigo pendurar muito sem
formar uma hérnia’, disse, em entrevista à Folha, referindo-se aos 640
funcionários da rede, que pretende em breve passar a ter 730 e mais de 700 mil
títulos disponíveis no catálogo. (DB)


Folha – Qual o seu livro preferido?


Herz – Não sei dizer. Nasci entre livros, minha cabeceira vive cheia de
livros, já odiei obras que depois passei a adorar.


Folha – Tem algum autor preferido?


Herz – Tem autores que no princípio achei muito chatos, mas depois passei a
gostar, passando a ver a obra de outra forma. Um livro que custei a ler foi ‘O
Nome da Rosa’ [de Umberto Eco], mas de que gostei muito depois. Não tenho um
autor preferido. Quando li [Albert] Camus, por exemplo -’O Mito de Sísifo’-, foi
muito bacana. Quando voltei a ler o mesmo livro, achei-o muito chato.


Folha – Qual o autor mais importante que já vendeu?


Herz – Uma pessoa que não foi importante só por difundir o livro mas por
difundir a leitura foi J.K. Rowling, autora dos ‘Harry Potter’.


Folha – Qual o principal livro que vendeu?


Herz – É sem fim o número de obras importantes que vendi ao longo dos últimos
30 anos.


Folha – Qual é a mais importante, a Bienal do Rio ou a de SP? Por quê?


Herz – Nenhuma das duas. Elas não formam leitores.


Folha – O que fazer para baixar o preço do livro no Brasil?


Herz – Aumentar o consumo. Economia de escala: se as pessoas consumirem mais,
serão produzidos mais livros, que serão vendidos por um preço mais baixo.


Folha – O Brasil precisa de uma política pública para o livro?


Herz – Não. Isso deve partir da iniciativa privada. O governo deve se limitar
a estimular a leitura.


Folha – A internet é uma ameaça real à existência das livrarias?


Herz – De jeito nenhum. Eu mesmo estou nela há mais de dez anos.


Folha – O avanço das editoras estrangeiras sobre o mercado brasileiro ameaça
o espaço das nacionais?


Herz – Não. Cada título que uma editora tem é exclusivo. Quem tem o direito
de determinado autor, não perde esse direito. Ninguém chega numa livraria para
comprar livro como quem compra um automóvel, procurando marca.


O leitor compra o título, e, se há o título, ninguém pergunta a editora,
informação absolutamente irrelevante. Quando o domínio é público, pesam o
componente preço e o de apresentação do produto… As embalagens atraem muito.
Nisso a Companhia das Letras inovou como poucas, impulsionando o mercado.


Folha – Como será o mercado editorial brasileiro daqui a dez anos?


Herz – Vai estar bem. Vai crescer lentamente, não haverá milagres, mas haverá
crescimento.


Folha – Quem lê no Brasil?


Herz – Filhos de leitores.


Folha – A incorporação de eventos variados, como cafés, venda de CDs, DVDs,
produção de espetáculos -como acontece nas grandes livrarias do exterior e como
a própria Cultura já faz em algumas lojas- configura o caminho futuro das
livrarias?


Herz – Não tenho a receita, cada um escolhe a sua. Para nós, o livro
representa cerca de 80% do faturamento. Todo leitor assiste a filmes. Todo
leitor ouve música.


Não conheço ninguém que só leia, então é importante haver um insight de
origens diversas.’


***


+ os outros indicados


‘Com 5 indicações


Lucia Riff é uma das mais atuantes agentes literárias do país, criadora da
agência BMSR (RJ), que tem entre seus autores Ariano Suassuna, Lya Luft, Mário
Quintana. É representante, no exterior, de escritores como Ana Maria Machado e
Vinícius de Moraes


Luis Fernando Verissimo , 69, é colunista dos jornais ‘O Globo’ e ‘O Estado
de S. Paulo’, escritor, autor de ‘O Jardim do Diabo’, ‘Orgias’ (ambos pela ed.
Objetiva)


Com 4 indicações


Charles Cosac é fundador da Cosacnaify, em 1996, juntamente com Michael
Naify, inicialmente como projeto para a publicação de livros de artes visuais:
monografias sobre artistas brasileiros, ensaios sobre história e teoria da arte,
cinema, teatro, design, arquitetura, fotografia, dança e moda, proposta que se
tornou mais abrangente com o tempo. É mestre em teoria e história da arte pela
Universidade de Essex, na Inglaterra


Com 3 indicações


Plinio Martins Filho é diretor-presidente da Edusp, professor da Escola de
Comunicações e Artes da USP. É autor de ‘A Arte Invisível’ e ‘Livros, Editoras e
Projetos’ (ed. Ateliê)


Sérgio Machado é presidente do Grupo Editorial Record, uma das maiores
empresas do setor editorial na América Latina, composta pela editora de mesmo
nome, que conta, sozinha, com 3.072 títulos em catálogo, e selos como
Civilização Brasileira, Nova Era, José Olympio e Bertrand


Com 2 indicações


Antonio Candido (1918) é o mais importante crítico literário brasileiro,
ganhador, em 1998, do Camões, o mais importante prêmio literário dedicado à
literatura em língua portuguesa. É autor de estudos fundamentais, como ‘Formação
da Literatura Brasileira’ (Itatiaia/Edusp) e ‘O Discurso e a Cidade’ (Duas
Cidades)


Galeno Amorim é jornalista, coordenador do Plano Nacional do Livro e Leitura
do Ministério da Cultura e vice-presidente do Comitê Executivo do Cerlalc
(Centro de Fomento ao Livro na América Latina e Caribe)


José Mario Pereira é editor proprietário da Topbooks


Marcos Pereira é editor da Sextante, responsável pelo lançamento, no Brasil,
do fenômeno ‘O Código Da Vinci’, além de outras obras do escritor americano Dan
Brown


Paulo Coelho é o mais bem-sucedido escritor brasileiro do ponto de vista
comercial: já vendeu mais de 65 milhões de livros, em 56 idiomas e 150 países. É
autor de, entre outros, ‘O Zahir’ ‘Maktub’ e ‘O Alquimista’ (todos pela Rocco)


Com 1 indicação


Alexandre Martins Fontes é diretor-executivo da editora Martins Fontes


Antonio Carlos Secchin é professor titular de literatura brasileira da
Universidade Federal do Rio de Janeiro


Augusto de Campos (1951) é poeta, tradutor, ensaísta, crítico de literatura e
música. É autor de ‘Viva Vaia’ (Ateliê) e ‘Não Poesia’ (Perspectiva), entre
outros


Augusto Massi é diretor-presidente da Cosacnaify


Carlos Barbosa é diretor de direitos autorais da editora Nova Fronteira


Carlo Carrenho é editor da publicação ‘Publishnews’


Carlos Heitor Cony (1926) é escritor e colunista da Folha, autor de ‘Quase
Memória’ (Cia. das Letras)


Elizabeth Serra é secretária-geral da Fundação Nacional do Livro Infantil e
Juvenil


Emir Sader é professor de sociologia da USP e da Universidade Estadual do Rio
de Janeiro, autor de ‘A Vingança da História’ (Boitempo), entre outras obras


Estela dos Santos Abreu (1932) é tradutora de ‘A Sociedade do Espetáculo’
(Contraponto), de Guy Débord


Fernando Morais é jornalista e escritor. Autor de ‘Na Toca dos Leões’
(Planeta)


Fernando Moreira Salles é editor e sócio da Companhia das Letras e
vice-presidente do Conselho de Administração do Instituto Moreira Salles


Fernando Paixão é poeta e diretor editorial-adjunto da editora Ática


Ivan Pinheiro Machado é editor da L&PM (RS)


Isaac Vinic é diretor da editora Fondo de Cultura Econômica Brasil


Jacó Guinsburg é editor-chefe da Perspectiva


Jorge Carneiro é proprietário da Ediouro


Jorge Félix é editor da Barcarolla


José Geraldo Couto é colunista da Folha


José Mindlin é bibliófilo


José Saramago é escritor português, ganhador do Prêmio Nobel de 1998


José Sarney é senador (PMDB-AP), colunista da Folha e autor da Lei do Livro


Liz Calder é presidente da Flip


Luiz Alfredo Garcia-Roza (1936) é escritor, autor de ‘O Silêncio da Chuva’
(Cia. das Letras), entre outros


Manuel da Costa Pinto é colunista da Folha


Marcelino Freire é escritor


Maria Amélia Melo é editora da José Olympio


Milton Hatoum é escritor, autor de ‘Dois Irmãos’ e ‘Cinzas do Norte’ (ambos
pela Cia. das Letras)


Modesto Carone é crítico, escritor e tradutor, autor de ‘As Marcas do Real’
(Paz & Terra)


Nelson Provazzi é editor e criador da ed. Baleia


Oswaldo Siciliano preside a Câmara Brasileira do Livro


Patricia Cavalheiro é sócia proprietária da livraria da Travessa, com quatro
lojas no Rio de Janeiro


Paulo Henriques Britto é tradutor e escritor, autor de, entre outros,
‘Paraísos Artificiais’ (Cia. das Letras)


Paulo Malta é sócio-diretor da ed. 34 Paulo Rocco é editor da Rocco


Regina Ferraz é editora e programadora visual, faz projetos gráficos de
livros para várias editoras


Rubens Figueiredo é tradutor e escritor, autor de ‘Barco a Seco’ (Cia. das
Letras)


Rui Campos é sócio da Livraria da Travessa (RJ)


Ruth Lanna é diretora da Flip


Sebastião Lacerda é diretor da Nova Aguilar


Silviano Santiago é escritor, poeta e crítico, autor de ‘Uma Literatura nos
Trópicos’ (Rocco)


Tomás Pereira é editor da Sextante


Vanna Piraccini é fundadora da livraria Leonardo da Vinci


Ubiratan Brasil é jornalista do jornal ‘O Estado de S. Paulo’


Waldiney Azevedo é livreiro da rede Saraiva


Wilson Martins é crítico literário, autor de ‘A Palavra Escrita’ (ed.
Ática)’


CHOMSKY / LANÇAMENTO
João de Fernandes Teixeira


O Chomsky fundamental


‘Por uma iniciativa pioneira da editora da Unesp o público brasileiro já pode
contar com a tradução de ‘Novos Horizontes no Estudo da Linguagem e da Mente’,
de Noam Chomsky, obra sobre temas lingüísticos, mas que ao mesmo tempo toca em
temas centrais da filosofia da mente e da ciência cognitiva. É uma coletânea
muito bem-vinda, que assegura ao autor, mais uma vez, o lugar de um dos
principais lingüistas da contemporaneidade, depois de suas intermináveis
incursões pelos campos da política e do discurso politicamente engajado.


Chomsky explora as fronteiras filosóficas e epistemológicas da lingüística. A
linguagem sempre constituiu um grande desafio para esse tipo de problema, pois
não sabemos de que lado situá-la, se do lado da psicologia ou da biologia, no
físico ou no mental. É um debate antigo que se arrasta desde a época cartesiana,
quando Géraud de Courdemoy escreveu seu famoso ‘Discours Physique de la Parole’,
questionando a verdadeira dimensão do fenômeno lingüístico.


Chomsky vai retomar esse assunto com vigor, mostrando em que medida a
filosofia da mente e a filosofia da linguagem se encontram intimamente
entrecruzadas. E é precisamente o Chomsky-filósofo aquele que desperta mais
interesse para quem lê este livro. Mais do que isso, nele encontramos um esforço
para integrar a lingüística com outras disciplinas, estabelecendo interfaces com
a genética e com as outras ciências, notando-se, porém, que esse esforço não
deve ser visto por um prisma reducionista.


Bases cerebrais da linguagem


Retomando o projeto da ‘Lingüística Cartesiana’, publicada em 1966, Chomsky
reafirma o inatismo bem como a necessidade de compreensão das bases cerebrais da
linguagem. A linguagem é fenômeno biológico e pode ser estudada a partir de uma
perspectiva internalista, ou seja, na qualidade de fenômeno interno e
psicológico, retirando-se a ênfase excessiva de seu estudo como manifestação
intersubjetiva e social.


Essa é a perspectiva do estudo da língua-1, que percorre todos os ensaios do
livro de Chomsky. É essa uma das teses mais polêmicas que encontramos no livro,
tese que reverte uma tendência que encontramos na lingüística nas últimas
décadas. Para afirmá-la, Chomsky polemiza com lingüistas e filósofos da
linguagem contemporâneos, como, por exemplo, Putnam e Quine.


A linguagem pode ser abordada em termos de cálculos sobre representações
internas e mentais, o que contraria frontalmente as teses desses filósofos,
baseadas em posições externalistas e intersubjetivas.


Dificilmente encontraremos um livro sobre a natureza da linguagem tão
polêmico quanto este. Pois é difícil imaginar que a linguagem possa se
constituir como uma espécie de software solitário da mente, sem a participação
de uma comunidade que a fale. Difícil também é imaginar que a linguagem não
requer, para sua constituição, a interação histórica entre os indivíduos de uma
comunidade. Que a lingüística tem colocado peso excessivo nesses fatores não
resta dúvida, e atenuá-los parece ser uma tarefa bastante desejável.


Nesse sentido, o inatismo ressoa como algo extremamente bem-vindo no cenário
contemporâneo da ciência cognitiva, sobretudo após o aparecimento de livros
instigantes, como é o caso de ‘Tábula Rasa’ (Cia. das Letras), de Steven
Pinker.


Décadas de reflexão


Vale a pena ressaltar que muitos dos temas tratados nesta obra não constituem
realmente novos horizontes para o pensamento lingüístico, e sim o coroamento de
várias décadas de reflexão de Chomsky sobre a natureza da linguagem.


E, se é verdadeira a afirmação de John Searle de que a filosofia da mente é
um ramo da filosofia da linguagem, pois a explicação do mental passa
necessariamente pelo lingüístico, podemos dizer que a obra de Chomsky segue essa
tradição e a honra perfeitamente ao colocar a lingüística no centro do universo
interdisciplinar da ciência cognitiva. Obra -que, é preciso ressaltar, ‘last but
not least’- cuja tradução para o português é esmerada e confiável.


João de Fernandes Teixeira é professor titular no departamento de filosofia
da Universidade Federal de São Carlos e autor de ‘Filosofia da Mente –
Neurociência, Cognição e Comportamento’ (ed. Claraluz).


Novos Horizontes no Estudo da Linguagem e da Mente 364 págs., R$ 42 de Noam
Chomsky. Trad. Marco Antônio Sant’Anna. Ed. Unesp (praça da Sé, 108, SP, CEP
01001-900, tel. 0/xx/11/ 3242-7171).’


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