Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Globalização, desterritorialização e cidadania

A nova ordem mundial tem como principal característica o fenômeno da globalização. Esta pode ser definida como a ‘intensificação das relações sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa. Este é um processo dialético porque tais acontecimentos locais podem se deslocar numa direção anversa às relações muito distanciadas que o modelam. A transformação local é tanto uma parte da globalização quanto a extensão lateral das conexões sociais através do tempo e espaço.’ (GIDDENS, 1991, p.69 e 70). Atualmente, a idéia de globalização está nos quatro cantos do mundo. Não é um fato acabado, mas um processo em marcha. Em poucos anos terminou um ciclo da história e começou outro. Muitas coisas estão mudando no mundo, abrindo outras perspectivas sociais, econômicas, políticas e culturais (IANNI, 1993). Segundo IANNI, ‘Essas características da globalização, configurando a sociedade universal como uma sociedade civil mundial, promovem o deslocamento das coisas, indivíduos e idéias, o desenraizar de uns e outros, uma espécie de desterritorialização generalizada’ (ibid., 1993, p.59). Pode-se dizer que a mídia é um dos principais baluartes da desterritorialização. O fluxo mundial de informações dá-se de forma quase instantânea. Alguns estrategistas como o japonês Kenichi OHMAE, já refletem sobre a diminuição da força do Estado-Nação, acreditando num mundo sem fronteiras, onde ele já perdeu seu papel como protagonista da economia global e seu poder foi usurpado pela confluência de quatro forças – o capital, as corporações, os consumidores e as comunicações (1999). Acreditamos diferentemente de OHMAE, que o Estado ainda tem um papel importante a cumprir por um bom tempo, e não desaparecerá completamente. Acontecerá sim, uma transformação no seu papel e na sua forma. Talvez tenhamos, a médio prazo, a transformação do ‘Estado-Nação’, em ‘Estados-Continentes’ e o fortalecimento de organizações internacionais rumo a um governo mundial. Isto não significará evidentemente, o fim de governos nacionais e regionais, apenas a mudança de papéis e relações de poder.

O desenvolvimento da criatividade humana no ambiente cibernético do terceiro milênio

O sistema capitalista, através da concorrência, cria suas contradições internas, brechas que podem ser aproveitadas em prol da democratização da comunicação. Com o surgimento e barateamento das novas tecnologias, com a proliferação equipamentos e facilidade de canais de transmissão , está se tornando mais fácil produzir e transmitir um programa. A terceirização e o estímulo para produções ‘independentes’ tende a crescer, simplesmente porque o mercado das ofertas de canais de transmissão está se tornando enorme e os equipamentos para produção e edição digitalizados mais baratos e acessíveis. Este fator pode ajudar no enriquecimento da diversidade cultural, ideológica e educativa dos povos.

O recente desenvolvimento e oferecimento de e-mails gratuitos é um exemplo interessante deste processo contraditório e dialético. Inicialmente os provedores privados de Internet no Brasil, limitavam o número de e-mails, endereços eletrônicos para correspondência, aos seus usuários pagantes. Mesmo para os filiados aos seus servidores, os endereços eram limitados entre um e no máximo três e-mails. Atualmente essa tendência se modificou. Primeiramente porque surgiram muitos sites internacionais que oferecem e-mails gratuitos, onde o usuário precisa apenas se cadastrar para poder acessar sua correspondência. O interesse destes provedores é em aumentar o número de acesso aos seus portais. A partir desta concorrência internacional, surgiram alguns provedores privados brasileiros que entraram nesta onda e começaram a oferecer endereços eletrônicos gratuitos e a ampliar a oferta de endereços aos usuários sem cobrar por isso. Recentemente, uma ‘nova bomba’ veio mexer com o mercado cibernético brasileiro. Vários bancos anunciaram a estratégia de dar acesso gratuito a Internet para seus clientes em 2000. O Bradesco e o Unibanco foram os primeiros a divulgar que colocarão essa facilidade a seus correntistas. Estimular o acesso a Internet facilita aos bancos a captação de clientes e a venda de produtos como seguros. As ações do Bradesco tiveram uma valorização de 20% após o anúncio do novo serviço. (OESP, B1, 7/01/00).

Essa promessa do sistema financeiro de acesso a Rede, contando somente os clientes dos dois bancos (Bradesco e Unibanco) , que reúnem cerca de 11, 4 milhões de correntistas, fará com que a Internet dobre o número de usuários no país. A Internet possui no Brasil cerca de 8 milhões de usuários (FSP, 22/12/99, 5-5), considerando ainda que quase a metade (48%) dos internautas brasileiros são de ‘sem-teto digitais’ que acessam computadores na escola ou na casa de amigos e não em sua casa ou no trabalho, o salto será enorme.

Segundo vários estudiosos da criatividade , ela é uma característica inerente ao ser humano, podendo se manifestar nos mais diversos campos de ação, porém ‘é indubitável que algumas áreas oferecem maiores possibilidades do que outras para a sua expressão’ (ALENCAR ,1994). Durante muitos séculos, relacionou-se à área artística, as Belas Artes, como domínio por excelência da expressão criativa. Somente em décadas mais recentes, contrariando a opinião dominante, pesquisadores concluíram que a criação científica não difere fundamentalmente da criação artística. (Ibid) Hoje, são considerados entre as principais fatores para o desenvolvimento da criatividade, além de traços de personalidade, fatores motivacionais e outros atributos pessoais, as condições ambientais como essenciais para o sucesso do processo criativo. (ALENCAR, 1994; WECHESLER, 1996; OSTROWER,1996).

Baseado nestes estudos, podemos dizer que o ambiente cibernético do terceiro milênio, que já se manifesta nos dias atuais, é pródigo para o desenvolvimento da criatividade humana. As novas tecnologias de comunicação, cada vez mais interativas, mais dialógicas, mais segmentadas, podem propiciar a criação de muitas alternativas, de muitos projetos e programas virtuais que podem auxiliar na vida real e cotidiana do futuro próximo. Podemos dizer que o sistema capitalista é a expressão mais acabada do racionalismo positivista-materialista, ao estruturar o real, em padrões, paradigmas que supervalorizam o econômico e o organizam por classes e ampliam o conceito de racionalidade material a todas as instâncias do cotidiano. O conhecimento, na perspectiva dos pesquisadores mais avançados da mente humana, não pode ser reduzido unicamente ao racional. Significa compreender todas as dimensões da realidade, captar e expressar essa totalidade de forma cada vez mais ampla e integral. Os meios de comunicação desenvolvem sofisticadas formas de comunicação sensorial, multidimensional, integrando linguagens, ritmos e caminhos diferentes de acesso ao conhecimento (MORAN,1995) e com o surgimento da Internet e das tecnologias de multimídia que estimulam a interatividade e a criatividade humana, as possibilidades de caminhos e alternativas dialógicas crescem em progressão exponencial.

O que são redes?

Podemos pensar no conceito de redes, levando em consideração os vários níveis fractais, possíveis de uma rede. O nível de uma rede neural, onde um indivíduo pensa com seus bilhões de neurônios, ou mudando de nível fractal, podemos ter duas pessoas formando uma rede em dyad, onde os dois nós de comunicação são as pessoas que formam o canal desta rede. Mundado novamente de nível, podemos imaginar uma família, ou uma sala de aula, onde um número relativamente pequeno de pessoas formam uma rede de comunicação direta. Pensando em um nível fractal maior, podemos considerar essa sala de aula como parte de uma escola, sendo que agora a sala se torna um apenas um nó desta nova rede. Através deste raciocínio podemos imaginar outros níveis fractais maiores: escolas municipais, estaduais e nacionais, cidades, estados, países, continentes, planetas e universos. (TIFFIN&RAJASINGHAM,1995).

Sendo assim, em nível social e político, a sociedade contemporânea tem trabalhado o conceito de rede em várias esferas e contextos. Atualmente, na era da informação ou do conhecimento : a economia, a sociedade e a cultura esta sendo estudada como uma sociedade em rede (CASTELLS,1999). Muitas áreas de estudo têm trabalhado esse conceito entre elas a área organizacional, administrativa e empresarial, onde vários autores utilizam a terminologia de rede. Temos nesta área trabalhos polêmicos, como a ‘Network Marketing ‘ que são utilizados como um recurso de vendas ‘revolucionário’ (POE, 1997), mas que estudos e investigações recentes mostram que estas são novas versões da velha ‘ rede em pirâmide’ que de tempos em tempos, acabam iludindo um certo número de pessoas e explorando outras tantas. Mas também temos estudos sérios na área administrativa que vêem a atividade como uma ‘rede de informações’ e trabalham como ‘teamnets’ (LIPNACK&STAMPS,1994), ou estudos que analisam as empresas em sua atual forma organizacional em formato de redes (SANTOS, 1999) e também trabalhos com ênfase geográfica sobre as redes urbanas e redes de telecomunicações . Porém, atualmente, a rede das tecnologias de informação e da comunicação tem sido o carro chefe de qualquer análise da sociedade em rede, tendo a Internet como área de estudo e trabalho.

As redes de movimentos sociais no processo de democratização da sociedade

Atualmente vem se desenhando uma nova trindade nas concepções de desenvolvimento: o Estado, o Mercado e a Sociedade Civil (WOLFE, 1992). A professora Ilse SCHERER-WARREN relaciona as principais correntes teóricas do pensamento atual, no contexto da área de pesquisa dos movimentos sociais, através de duas tendências principais: uma, que trata a questão a partir de uma relação dual – sociedade civil versus Estado; e outra, que considera uma relação tripartite – estado/mercado/sociedade civil.

Para Norberto BOBBIO, que segue a primeira tendência, a sociedade civil é o campo das várias formas de mobilizações, associações e organização das forças sociais, que se desenvolvem à margem das relações de poder que caracterizam as instituições estatais. Dentro desta visão, CALHOUN distingue a sociedade civil por sua capacidade de associativismo e autodeterminação política independente do Estado. Estas associações, que podem assumir a forma de comunidades, movimentos ou organizações, advindas da igreja, de partidos ou de grupos de mútua ajuda, têm o papel de intermediação junto à instituição Estado. (apud. SCHERER- WARREN, 1994)

A segunda tendência, que considera a relação tripartite Estado-mercado-sociedade civil, aponta a sociedade civil como integrante de um terceiro setor, em contraste com o Estado e o Mercado e refere-se genericamente a uma ação, a entidades não-governamentais, independentes da burocracia estatal e sem fins lucrativos, independentes dos interesses do mercado. A própria noção de ONG (Organização Não-Governamental) tende ser compreendida como parte deste setor.

Entretanto, Alan WOLFE, seguindo esta tendência tripartite, considera o terceiro setor como a própria sociedade civil, que denomina também de setor social. A noção de Wolfe de associativismo na vida cotidiana aproxima-se daquela de Tocqueville, incluindo-se aí a mútua ajuda, ações de solidariedade comunitária e familiar, além de ONGs e outros movimentos. Além disso, segundo este autor, altruísmo/gratuidade seriam outros elementos constitutivos da sociedade civil (SCHERER-WARREN, 1994)

A sociedade civil brasileira tem destacado uma outra trindade enquanto agente político na busca de articulação de redes de movimentos, na articulação entre organizações populares, no sentido de formar um coletivo mais abrangente. Alguns agentes são oriundos do movimento sindical e há ainda aqueles que realizam um trabalho de mediação junto a movimentos populares através das ONGs (organizações não-governamentais) (SCHERER-WARREN, 1993) . É dentro deste quadro conjuntural, que conta com novos movimentos sociais, que surge nos anos 80 o Movimento pela Democratização da Comunicação no Brasil. Na década de noventa, estes movimentos se caracterizaram pelo fortalecimento em forma de rede, as chamadas redes de movimentos. Segundo Ilse Scherer-Warren, ‘as redes de movimentos que vêm se formando no Brasil apresentam algumas características em comum: busca de articulação de atores e movimentos sociais e culturais; transnacionalidade; pluralismo organizacional e ideológico; atuação nos campos cultural e político’ (ibid, p.199). Podemos ainda acrescentar a horizontalidade como característica dessas redes de movimentos sociais no Brasil (SOUZA,1996).

As redes físicas (tecnológicas) e as redes (de movimentos) sociais

É interessante notar que as redes das quais falamos até aqui são redes sociais, formas de organização humana e de articulação entre grupos e instituições. Porém, é importante salientar que estas redes sociais estão intimamente vinculadas ao desenvolvimento de redes físicas e de recursos comunicativos. O desenvolvimento das novas tecnologias e a possibilidade de criação de redes de comunicação, de interesses específicos, técnicas, utilizando os mais variados recursos, meios e canais, são fundamentais para o desenvolvimento destas redes de movimentos sociais.

Podemos dizer que o desenvolvimento da multimídia, as novas formas interativas de acesso à informática, as conferências e redes via computação representam o mais novo território de disputa e luta na sociedade. As redes de movimentos sociais utilizam-se da possibilidade que oferecem as redes tecnológicas, de troca horizontal de informação, para fortalecer suas estratégias de conquista de espaço na sociedade. Atualmente, muitas redes de movimentos sociais e culturais estão surgindo estimulados pelas redes informacionais e a partir de seu ‘locus’. Dialogicamente, o território, ‘o mar’ das redes eletrônicas, está encontrando novos marinheiros que começam a navegá-la. Especialistas em informática começam a interessar-se pelas ciências humanas, cientistas sociais principiam a atuar em conferências informatizadas, sindicalistas trocam informações e recebem dados via satélite e todos participam de redes de comunicação. É importante salientar que este fenômeno não acontece somente com as redes de movimentos sociais: como já falamos antes, os agentes do mercado e do setor estatal também estão entrando com força neste novo território .

Rainer RANDOLPH, analisando as atuais transformações sociais e o surgimento de novas redes, observa que este processo ocorre em duas frentes: a primeira é na esfera privada, onde as transformações das empresas capitalistas ocidentais aglutinadas em redes estratégicas ocorrem sob o signo do LEAN Management, que representa um pacote de medidas de ‘flexibilização’ e ‘emagrecimento’ particularmente da grande corporação capitalista e que englobam uma gama heterogênea de novas relações entre formas de ‘empreendimentos econômicos’. A segunda frente acontece na esfera pública, onde ocorrem modificações relativas ao relacionamento entre Estado e a Sociedade, através da criação de redes de solidariedade, caracterizadas igualmente por uma grande diversidade de relações. Essas redes ganharam visibilidade e notoriedade maior com a proliferação das chamadas Organizações Não-Governamentais (ONGs) a partir da crise do Estado do Bem-Estar e da proliferação de propostas políticas neoliberais.

Em síntese, ‘tanto redes estratégicas como redes de solidariedade não apenas questionam a fronteira entre o quadro institucional e sistema mas a própria consolidação de duas esferas (relativamente) separadas de público e privado. Teríamos, então, transformações em duas ‘direções’: tanto horizontal – com a reformulação e mutação das racionalidades comunicativa e instrumental – quanto vertical – com a redefinição de ‘espaços’ privados e públicos nas novas sociedades’ (RANDOLPH, 1993, p.4-5) .

Podemos dizer que esses questionamentos e mudanças de conceituação sobre público e privado podem ser verificados com ênfase na disputa do chamado ‘ciberespaço’ (espaço mundial de comunicação eletrônica) ou seja, o ‘mar’ onde navegam os primeiros viajantes destas novas tecnologias da comunicação. É importante salientar, porém, que no bojo do projeto das superrodovias da comunicação, pode-se potencializar e desenvolver o espírito e o embrião já experimentado pela Internet de convivência num espaço e espírito democráticos, ‘ou podem simplesmente transformá-lo num grande mercado de serviços nas mãos dos grandes cartéis das telecomunicações’ (AFONSO, 1994, p.13) .

Pierre Lévy e o movimento social da cibercultura

Pierre LÉVY em seu livro ‘Cibercultura’ sustenta a tese de que ‘a emergência do ciberespaço é fruto de um verdadeiro movimento social, com seu grupo líder ( a juventude metropolitana escolarizada), suas palavras de ordem ( interconexão, criação de comunidades virtuais, inteligência coletiva) e suas aspirações coerentes.’ (1999,p.123). Acreditamos, como Lévy, que devemos entender que a democratização do ciberespaço e sua conseqüente contribuição para a democratização da sociedade como um todo não é simplesmente ‘ o acesso a equipamentos informáticos’, ou ainda ‘um acesso ao conteúdo’, nem um acesso a mídia , nem um simples acesso a informação, mas sim um ‘acesso de todos aos processos de inteligência coletiva,(…) ao ciberespaço como sistema aberto de autocartografia dinâmica do real, de expressão das singularidades, de elaboração dos problemas, de confecção do laço social pela aprendizagem recíproca, e de livre navegação nos saberes’.( LÉVY,1999,p.196). Em outras palavras a utilização da mídia, da rede, da WEB, como espaço de diálogo, de reelaboração das informações transformando o conhecimento em instrumento de CIBERCIDADANIA.

Cibercidadania e as organizações virtuais não governamentais

Estas ONGs e suas redes utilizam a Internet para se comunicar e se organizar. Algumas destas redes podem ser conceituadas como Redes Vituais, ou organizações virtuais. O Prof. Luis Camarinha Matos define organizações virtuais como ‘uma rede (temporária) de organismos independentes, ligados através das tecnologias de informação, com vista a partilharem competências, recursos, custos e os espaços de intervenção de cada um.’ (MATOS,1997). Estuda-se muito o fenômeno da virtualização a partir da ótica das redes de organizações comerciais e começa-se a estudar também as organizações governamentais e sua tendência a virtualização, as chamadas ‘autarquias virtuais’ (ibid,1997). O fenômeno da virtualização entretanto atinge toda a sociedade global. Na Europa, segundo estimativas do Projeto TELDET da União Européia, nos próximos anos existirão 26 milhões de teletrabalhadores, o que supõe 19% da população ativa do continente. Por sua vez, a Gartner Group estima que, ao virar o século, 55 milhões de trabalhadores norte-americanos trabalhem remotamente.(NETWORK WORLD,1997) Segundo estudos, existem muitos executivos decididos a ‘virtualizar’ as suas empresas, mas eles não têm uma idéia muito clara do que custa suportar a rede virtual. A relação entre o trabalhador e a rede virtual acrescentam novos problemas e novos desafios aos administradores das redes e seus usuários. Desafios como a globalização econômica, diversificação dos produtos, blocos econômicos regionais, problemas ambientais, exigência de qualidade e controle dos produtos levam a desafios específicos relacionados as redes e organizações virtuais como: normas para partilha e intercâmbio de informação (EDI), segurança, privacidade e autenticação de informações, coordenação das redes, formação e treinamento dos funcionários para novos papéis, definição de aspectos legais, entre outros (MATOS,1997). Algumas coisas mudam tão depressa que tornam a fronteira entre o hoje e o amanhã imprevisível. (ibid,1997)

Bem-vindos aos caminhos do virtual

‘Precisamos rapidamente humanizar a tecnologia antes que ela nos desumanize’. Esta frase do filósofo Martin Buber, que foi citada pelo neurologista americano Oliver Sacks durante entrevista concedida ao programa ‘Roda Viva’, da Rede Cultura de Televisão, pode muito bem demonstrar um dos grandes desafios da humanidade na virada do milênio. A virtualização da sociedade se coloca com uma discussão fundamental para se pensar que mundo queremos e teremos no futuro próximo. ‘ A virtualização é o movimento pelo qual se constitui e continua a se criar a nossa espécie. No entanto, ela é freqüentemente vivida como inumana, desumanizante, como a mais aterradora das alteridades em curso. Ao analisá-la, ao pensá-la, ao enaltecê-la às vezes, tentei humaniza-la’ diz Pierre Lévy (1996,p.147), como se tivesse respondendo ao filósofo Martin Buber.

Vários pesquisadores têm trabalhado nesta perspectiva. Alguns, como Lee Li-Jen Chen e Brian Games da University of Calgary do Canadá, têm inclusive refletido sobre as dimensões da comunicação mediada por computador e a importância das organizações virtuais globais e dos agentes inteligentes utilizados no ciberespaço para o desenvolvimento da comunicação, do conhecimento e do progresso social. Desenvolvendo o conceito de ‘socioware’ para a comunicação cibernética, levando em consideração o conhecimento e o processo social em organizações virtuais, eles descrevem várias formas de ferramentas de suporte na Internet e as categorizam em termos de modelo e ‘organismos cibernéticos’. Os autores demonstram como ‘o crescimento exponencial da Web e a crescente disponibilidade de ferramentas e serviços colaborativos na Internet têm facilitado a criação de infra-estrutura, disseminação de conhecimento inovador, tais como: livrarias eletrônicas, jornais digitais, ambiente de descoberta de recursos, sistemas de co-autoria distribuída e comunidades científicas virtuais’ (CHEN, GAINES,1997,p.5). Neste sentido, Lévy diz que devemos dar sentido à virtualização, inventando uma ‘nova arte da hospitalidade’ e que ‘a mais alta moral dos nômades deve tornar-se neste momento de grande desterritorialização, uma nova dimensão estética, o próprio traço da criação’. ( LÉVY,1996,p.150) . A utilização destes elementos, da mídia e do conhecimento para o bem social, reforçando a cidadania e a democracia, é o que chamamos CIBERCIDADANIA. Por tudo isso, e acreditando que, como diz o professor Murilo César RAMOS, o cenário de luta já está armado, sendo que nós, como atores sociais, é que faremos o enredo da peça, termino este trabalho parafraseando o Prof. Pierre LÉVY: ‘Bem-vindos à nova morada do gênero humano. Bem-vindos aos caminhos do virtual!’ (1996, p.150)

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Professor da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), jornalista, mestre em Sociologia Política e Doutorando em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)