Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Gonzeaux, o gênero invisível

Não adianta mais disfarçar: os apelos crescentes aos chamados ‘relatos humanizados’ vem colocando o jornalismo e a literatura em limites muito próximos no desejo de variar o modo de escrever, e sejamos sinceros, essas tentativas não nasceram hoje. Isso é bom, dá uma pontinha de esperanças aos aspirantes a jornalistas que temem passar o resto da vida receitando o lead fastidiosamente, como médicos cansados que constatam o óbvio: é gripe, próximo!

Eis a chance: é nesse intervalo entre a tentativa e a busca de metodologias diferenciadas, que enxergamos a oportunidade de introduzir (à força, que seja!) o Jornalismo Gonzo como ferramenta facilitadora para essa prática, um exercício na sensibilidade de contar histórias, porque não?

O que incomoda é visualizar o Jornalismo Gonzo como um gênero esquecido precocemente (tendo em vista a sua criação, nas décadas de 60 e 70), ou até mesmo ignorado, difícil de explicar por não ter a notoriedade esmagadora do ‘jornalismo diário’, tido como mais importante, presente em unanimidade nas grades curriculares das faculdades de todo o país e repetido metodicamente nas empresas, acrescidos de linhas editoriais ferrenhas, bancadas por uma mistura corrosiva à qualquer aspirante a jornalista independente: poder público e comercial.

É triste, mas para as universidades, o Gonzo não existe. Ao que parece, o empenho exigido por essa prática, que ‘produz o sentimento de estar dentro de uma cena descrita’ inibe e assusta a lógica mercadológica de produção de notícia, e é com essa desculpa que os próprios educadores colocam a idéia de Thompson como algo impraticável, inviável e o pior: dispensável.

Talvez esteja aí uma pista para compreender porque o Gonzo ainda se apresenta como tentativas tímidas, quando não ridicularizadas pelos professores, dada a sua ‘impossibilidade’. Uma vez desconhecendo o criador, o excêntrico Hunter S. Thompson, a criatura – o gonzo, padece com a invisibilidade. ‘Jornalismo o quê?’

É a primeira pergunta, seguida de caretas na face e escárnios típicos de Dr. Pernóstico que precisa engolir as teorias em moda e salivar raivosamente nas salas de aula. E ‘pra quê?’, cutuca o comodismo. Diante disso, a esperança travestida em Thompson responderia com cigarro em bico: vamos tentar, ora. Tentar!

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Estudante de Comunicação da Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, PB