Mikhail Gorbachev, ex-presidente da Rússia, e Alexander Lebedev, membro do Parlamento pelo partido governista United Russia, compraram 49% das ações do jornal Novaya Gazeta. A publicação escreve freqüentemente artigos contra o atual presidente, Vladimir Putin. Estipula-se que o valor pago tenha sido de US$ 2 milhões.
Em público, Gorbachev expressa amplo apoio às políticas de Putin, elogiando-o por manter uma estabilidade interna no país e for fortalecê-lo mundialmente. Mas, segundo alguns colegas que falaram em condição de anonimato, o ex-presidente está preocupado com o aumento da falta de pluralismo político na Rússia, e também com o crescente controle estatal da mídia.
‘Você pode nos perguntar: o jornal vai ficar como é agora? Nós podemos dizer que a equipe do jornal e nós concordamos que o jornal deve manter seu potencial criativo e continuar a expressar uma ampla variedade de opiniões’, falou Gorbachev no Congresso Mundial dos Jornais, realizado esta semana em Moscou.
O conselho editorial deterá 51% das ações. O subeditor-chefe do jornal, Sergei Sokolov, afirmou que não acredita que haverá interferência editorial. Ele relembra que Gorbachev doou dinheiro que recebeu do Prêmio Nobel em 1990 para comprar os primeiros computadores do jornal, ainda na década de 90.
Melhorias no jornal
Lebedev afirmou que o investimento será usado para transformar o jornal, hoje publicado duas vezes na semana, em um diário com alcance nacional. ‘Por muitos anos, o Novaya Gazeta teve a reputação de ser objetivo e não-conformista, e é isto o que devemos fortalecer’. Embora seja membro do United Russia, partido de Putin, Lebedev freqüentemente critica o governo do presidente. ‘Eu tenho direito de criticar o Kremlim por aquilo que ele faz à sociedade’, opina.
Lebedev e Gorbachev vinham conversando há um ano com o conselho editorial do Novaya Gazeta sobre o investimento. O jornal tornou-se o único espaço para jornalistas críticos ao governo, mas está passando por dificuldades financeiras. Sua tiragem fora de Moscou é fraca. ‘O Novaya Gazeta é o principal jornal de oposição do país e agora ficará mais protegido’, avalia Alexei Simonov, da Glasnost Defense Foundation, instituição que monitora a liberdade de imprensa no país. Gorbachev e Lebedev comprometeram-se a investir US$ 2 milhões na publicação, a fim de fortalecê-la para as próximas eleições parlamentares, no ano que vem, e para a eleição presidencial em 2008.
Sem liberdade de imprensa
Atualmente, as emissoras de televisão estatais da Rússia estão sob controle do Estado e jornais e revistas influentes são de propriedade de pessoas ligadas ao Kremlim. Putin alega que o controle estatal diminuiu e que há 53 mil publicações impressas na Rússia. ‘Não é possível ter controle de todas elas, mesmo se o Estado quisesse’, defende-se o presidente. No entanto, críticos de Putin alegam que a grande maioria destas publicações não é política e por isso não atrai o interesse do Kremlim.
Mais uma compra
Há boatos que Roman Abramovich, o homem mais rico da Rússia e proprietário do clube de futebol inglês Chelsea, tem planos de comprar o jornal independente Kommersant. Rádios russas informaram que a Millhouse, nova empresa de investimento de Abramovich, havia comprado o jornal por US$ 120 milhões. O diretor comercial da publicação, Pavel Filenkov, negou a informação. O Kommersant também é proprietário de uma revista semanal política e uma de economia, além de ser o maior patrocinador do Congresso Mundial de Jornais. Críticos temem que esta compra prejudique a liberdade de imprensa, pois Abramovich é ligado a Putin. Informações de Peter Finn [Washington Post, 8/6/06] e de Stephen Brook [The Guardian, 7/6/06].