Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Hackers no pedaço

Quando se pensava que já não havia o que descobrir, a insistência de alguns em pôr a história do Brasil em conserva, enlatando-a para sempre, faz desconfiar que temos podres horríveis no nosso passado. Os principais defensores desse sigilo eterno, os senadores Fernando Collor e José Sarney, parecem saber de coisas de que querem nos poupar.

Não pode ser a suspeita de que o Brasil cometeu genocídio na guerra que, para nós, é a do Paraguai, e que, lá, é a guerra do Brasil. Ou a de que o Brasil pode ter sido menos correto na disputa do Acre com a Bolívia e que, não fosse por isso, Chico Mendes, Armando Nogueira e João Donato seriam glórias bolivianas. Se forem informações que nos comprometam, é tarde – podem estar trancadas em Brasília, mas encontram-se em sites que só precisam de um clique para ganhar vida e disparar.

Trancafiar o passado

Os ataques dos hackers aos sites de Presidência da República, Petrobras, Receita Federal e Portal Brasil na quarta-feira (22/6) demonstram que não existe mais a possibilidade de sigilo. Não importa que, desta vez, nenhuma informação tenha sido violada. Hoje, qualquer nerd ligado a uma comunidade juvenil de hackers pode fazer mais do que derrubar sites governamentais para protestar vagamente contra a corrupção ou o preço da gasolina, como aconteceu aqui. Pode penetrar neles e chupar arquivos inteiros, se quiser. Pode abrir contas, divulgar senhas, transcrever diálogos. Nos EUA, eles não dão boa vida ao Senado e à CIA.

Para se eleger presidente em 1989, Collor não economizou denúncias sobre o governo Sarney. Em 1992, o PT, infiltrado na administração, vazou incontáveis horrores sobre o governo Collor. Hoje, Sarney e Collor, aliados do governo PT, estão unidos entre si e em torno de um objetivo comum: trancafiar o passado. Mas se esqueceram de combinar com os hackers.

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[Ruy Castro é jornalista]