Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Hereditariedade política e econômica

Importante figura do cenário político alagoano no período de 1950 a 1983, Arnon Afonso de Farias Melo (1911-1983), mais conhecido como Arnon de Mello, iniciou suas atividades como office boy de um armazém de açúcar no bairro do Jaraguá, em Maceió, quando ainda tinha 14 anos de idade. Filho do senhor de engenho Manuel Afonso de Mello, cujos negócios decaíam diante da crise açucareira da década de 20, logo direcionou seu campo de trabalho para a comunicação.

Convidado pelo jornalista Luiz Magalhães da Silveira, dono do extinto Jornal de Alagoas, começou a trabalhar como agenciador de assinaturas e depois também, no jornal O Estado de S. Paulo. Iniciou sua carreia jornalística ainda no Jornal de Alagoas, como revisor, e prosseguiu como correspondente do jornal Gazeta de Alagoas, quando se mudou para o Rio de Janeiro na década de 30, período em que o jornalista Luiz Magalhães havia fundado o referido jornal, em Maceió. No Rio, também passou pelas redações dos jornais Vanguarda, Diário de Notícias, Diário Carioca e O Jornal.

Em 1945, afastado das atividades jornalísticas, candidatou-se a deputado à Assembleia Nacional Constituinte, na legenda da União Democrática Nacional (UDN), mas não objetivo êxito. Cinco anos depois, elegeu-se deputado federal e governador de Alagoas pelo mesmo partido. Optou pelo governo do estado e foi empossado em janeiro de 1951, onde permaneceu até janeiro de 1956.

Na legenda do Partido Democrata Cristão (PDC), elegeu-se, em 1962, senador por Alagoas, vindo a assumir em 1963 e assim permanecendo por três mandatos consecutivos até o ano de 1983, sendo o último como senador biônico – sem eleição direta.

Elogio aos ‘governos revolucionários’

Com a dissolução dos partidos políticos pelo Ato Institucional nº 2, editado no dia 27 de outubro de 1965, Arnon de Melo filiou-se à Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de apoio ao regime militar de 1964. Em 1979, com o fim do bipartidarismo instaurando em 65, filiou-se ao Partido Democrático Social (PDS), nova sigla para antigo grupo político de orientação governista.

Um ano após assumir o governo de Alagoas, Arnon de Mello passou a ser o novo dono da Gazeta de Alagoas. Em poder desse instrumento, além de se autopromover, atacava desmedidamente seus adversários políticos. É mister destacar o incondicional apoio do governador ao golpe de 64 expresso nas linhas do seu noticiário. Tal disposição em defesa do golpe poupou-o da típica repressão e censura imposta à imprensa da época.

Carlos Mendonça, funcionário da Gazeta desde 1956 e atual presidente do Conselho Estratégico da Organização Arnon de Mello, chegou a afirmar que ‘(…) a revolução [o golpe] precisava dos organismos de imprensa corretos. E a Gazeta dava aquilo que eles rigorosamente mandavam’. E completa: ‘Esse problema, daquele período, não abalou em nada a Gazeta de Alagoas‘ (ZAIDAN: 2010, p. 113).

Em pronunciamento no Senado Federal, no dia 7 de novembro de 1969, Arnon exprimiu seu incondicional apoio ao golpe, quando faz uma homenagem póstuma ao presidente da República Costa e Silva – segundo presidente do regime militar instaurado pelo golpe de 1964. Em outro discurso, proferido no dia 1º de abril de 1970, Mello elogia os ‘governos revolucionários [golpistas] e, em especial, ao fato de ter a revolução [o golpe] colocado fim ao caos em que se encontrava o país durante o governo do presidente João Goulart’ – esse, deposto devido à sua linha política de orientação reformista, marcada especialmente pelas medidas que ficaram conhecidas como reformas de base e que propunham maior intervenção do Estado na economia.

Projeto para reduzir IR pago pela mídia

Seguindo a tendência monopolista própria do desenvolvimento econômica capitalista, Arnon de Mello consolida – auxiliado pelos filhos – o grupo de mídia da família, a Organização Arnon de Mello (OAM), com a incorporação da Rádio Gazeta AM (1960), TV Gazeta (1975) e Gazeta FM (1978). Assim que ganhou o segundo mandato para senador (1971), Arnon passou 75% da empresa para sua esposa Leda Collor de Mello e 5% para cada filho.

Na mesma década, o seu filho Fernando Collor de Mello assumiu a superintendência da OAM. Em sua administração, contraiu muitas dívidas e deixou a empresa em sérias dificuldades financeiras. Em 1975, casou-se com Celi Elizabeth Júlia Monteiro de Carvalho, filha de Joaquim Monteiro de Carvalho, controlador do grupo empresarial Monteiro Aranha. O casamento simbolizou, nas palavras do jornalista João Batista Natali, a união da elite industrial do Sul com a oligarquia política do Nordeste (LEMOS, s/d). Divorciou-se em 1981.

A sucessão de cargos não se resumiu ao âmbito dos negócios empresariais. Em 1979, Fernando Collor foi nomeado prefeito de Maceió por indicação do seu pai. A nomeação se deu por meio de um acordo entre o grupo político de Arnon e do ex-governador Divaldo Suruagy, ambos filiados à Arena. Quando Collor assumiu a prefeitura de Maceió, a superintendência da OAM passou ao comando do seu irmão Pedro Collor de Mello, que lá permaneceu até o início da década de 90.

Em novembro de 1982, Collor foi eleito deputado federal por Alagoas – e empossando em fevereiro do ano seguinte – na legenda do Partido Democrático Social (PDS), mesma corrente política seguida pelo pai e que dava continuidade à linha da antiga Arena. Com a intenção de beneficiar a empresa de sua família, Collor tentou aprovar um projeto de lei para reduzir o Imposto de Renda pago por emissoras de rádio e TV. Como todos os outros dez projetos apresentados, esse também não foi aceito.

Um aparelho de dominação ideológica

Nas eleições indiretas para presidente da República de 1984, via colégio eleitoral, Collor apoiou o candidato do regime militar, Paulo Maluf, que foi derrotado. Maluf também foi padrinho do seu segundo casamento. A família de Rosane Malta, sua mulher, exercia influência apenas em pequenos municípios do sertão de Alagoas.

Em 1986, candidatou-se ao governo de Alagoas pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) – ao qual se filiou em 1985 –, que fez oposição a Maluf na eleição de 84 para a presidência. Assim como o pai, Collor também usou de artifícios para impedir as críticas à sua candidatura e propagá-la amplamente. Primeiro, contratou o jornalista Cláudio Humberto, o seu maior crítico no jornal Tribuna de Alagoas, bem como não hesitou em usar os veículos de comunicação da OAM para se autopromover, como revela seu irmão, Pedro Collor de Mello (1993, p. 87-89):

‘E naquela campanha ele interferiu o tempo todo. Queria que jornal, rádio e televisão estivessem permanentemente a serviço da sua candidatura. Eu atuei, mas dentro de determinados limites que não prejudicassem a empresa.

[…]

Enquanto isso, [o jornalista] Cláudio Humberto queria impor ao jornal uma lista negra de políticos que não podiam ter seus nomes citados nos noticiários. Quando eu pedia a relação dos amigos e dos desafetos por escrito, Cláudio desconversava. Ou seja, não queria passar recibo nem ficar de rabo preso comigo.

[…]

Neste espaço [principal coluna da Gazeta, `Fatos & Notícias´], Cláudio invariavelmente recheava em elogios rasgados a Fernando e desaforos e calúnias a seus adversários. Talvez, na época, tivesse sido melhor rebatizar a coluna com o nome `Fatos & Notícias do Interesse do Governador´.’

Collor foi eleito com 42% dos votos e empossado em 15 de março de 1987. Apesar da rivalidade travada entre os irmãos e dos períodos de crise financeira da empresa, o grupo político-econômico-midiático da família foi fortalecido por meio da expansão do seu campo de atuação e dos investimentos em diferentes linhas de produção. À companhia somou-se a Rádio FM de Arapiraca (1985); a Rádio AM de Pão de Açúcar; o Parque Gráfico; o Instituto Arnon de Mello (1989), voltado para ações na área de responsabilidade social e à preservação da memória do patrono da organização; a Gazeta Pesquisa/Gape (1995), cujo objetivo é quantificar e mensurar acontecimentos gerais e relevantes para a entidade e, por fim, o portal de internet Gazetaweb (2000). Tal crescimento rendeu-lhe a posição de um dos maiores complexos de comunicação do Norte-Nordeste e que maior influência de massa e político-partidária exerce em Alagoas.

Este cenário, até aqui exposto, revela o quão interligadas estão as oligarquias política e econômica aos conglomerados de comunicação. Estes, por sua vez, são mais um aparelho de dominação ideológica do Estado com eminente participação no processo de acumulação do modo de produção capitalista, por meio da produção e distribuição de informação e cultura.

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Estudante de Jornalismo, Maceió, AL