Depois da divulgação do IDEB por Estados e regiões no início de junho, o Ministério da Educação publicou os índices de municípios e escolas, e o assunto ainda teve algum destaque no final do mês. A cobertura não fugiu das tradicionais análises gerais sobre o desempenho, melhor e piora de índices das redes dos locais de circulação dos veículos e visita a ‘melhores’ e ‘piores’ escolas.
A exceção foi a revista Época, com a reportagem ‘O que os números não mostram’, que provou que a simples análise dos números do IDEB pode esconder distorções e situações de extrema desigualdade. A repórter visitou Maiquinique, na Bahia, cidade que mais evoluiu no IDEB não porque o desempenho dos alunos melhorou e sim porque a porcentagem de reprovação e abandono caiu de 90% para 47%. O Plano de Ações Articuladas tampouco saiu do papel. Apesar de abordar a situação de um único município, o texto proporcionou uma reflexão mais profunda sobre os desafios da implantação do PDE, destacadamente no que se refere à capacidade do MEC em assessorar os municípios na elaboração e implementação do PAR.
No dia 21, Folha de S. Paulo destacou a porcentagem de municípios (1%) e escolas (2%) que já atingiram ou superaram a nota 6 no índice, meta estipulada para o país alcançar em 2021. Outro assunto foi que mesmo alertado a tempo, o MEC errou na divulgação da nota atribuída à rede municipal de São Paulo. O Correio Braziliense alertou para o fato de, mesmo com a maior média do país no IDEB, as escolas do Distrito Federal não estão entre as melhores colocadas.
O Globo
, no mesmo dia, mostrou que se, por um lado, 57% das escolas públicas melhoraram seu desempenho, por outro, um terço delas piorou. Os pesquisadores ouvidos reforçaram a necessidade de destinar mais recursos às escolas com pior desempenho. Outros textos destacavam: o desempenho de Santa Fé do Sul, interior de São Paulo, com as ‘duas melhores escolas públicas de 4ª série do país’; a presença de quatro escolas do Rio de Janeiro entre as ’20 melhores escolas de 8ª série’; uma escola municipal de Miguel Pereira, região serrana, que ficou ‘no topo do ranking do IDEB no país’; as últimas colocações para as escolas paraenses; e a colocação do Colégio de Aplicação de Recife, ‘o melhor do país na 8ª série’.Também ainda preso aos números, o Jornal do Brasil, no dia 29, publicou reportagem que explicava porque Niterói, ‘que está entra as cidades que apresentam os melhores índices educacionais do país’, não conseguiu que suas escolas municipais estivessem no topo do ranking do IDEB. Um outro texto abordava a situação de Rio das Ostras.
Greve em São Paulo
Junho foi marcado pelo movimento de greve dos professores da rede estadual paulista, em função das mudanças estabelecidas pela Secretaria Estadual de Educação que, entre outros ações, limita a possibilidade de remoção dos profissionais da educação no período letivo. Os primeiros dias da cobertura sobre a greve concentraram-se na análise da amplitude do movimento e na divergência entre sindicato e Secretaria Estadual de Educação sobre o número de professores parados.
As reportagens de O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde, no dia 17 de junho, entretanto, tentaram fugir da oposição sindicato/governo e ouviram a opinião de diversos especialistas. A maioria afirmou que o excesso de remoções no período letivo é um dos fatores que dificulta a qualidade do ensino, mas também ressaltou a falta de diálogo com os professores. A ineficiência de medidas autoritárias também foi destacada por fontes ouvidas pela Folha de S. Paulo, em 21 de junho.
Nos espaços opinativos, entretanto, a falta de negociação com os sindicatos para a implantação das medidas não foi destacada. Pelo contrario, editorais e artigos publicados – assinados pela secretária estadual de educação Maria Helena Guimarães de Castro e por Paulo Renato de Souza, ex-ministro de Educação e deputado federal (PSDB-SP), ambos em O Estado de S. Paulo e, claro,favoráveis à decisão do governador – destacaram que as ‘resistências’ eram esperadas.
A cobertura não avançou sobre os motivos que levam os professores a pedirem transferência, nem questionou o poder público sobre os critérios de organização e periodicidade dos concursos públicos de acesso. Também, nenhum veículo identificou outras formas de estímulo à formação de equipes pedagógicas permanentes, buscando exemplos em outras redes públicas de ensino.
Infelizmente, a forma como o debate foi apresentado ficou reduzida à oposição entre proibição e direito a remoções.
Professores
Por fim, duas reportagens que tiveram como foco o professor. O Zero Hora fez um levantamento nas 258 escolas da capital gaúcha sobre o déficit de profissionais da educação e publicou, em 16 de junho, uma tabela com o nome das 92 onde faltam professores e também funcionários. O ideal é que a iniciativa do jornal tenha continuidade e acompanhe as ações do poder público para resolver o problema.
Já o Jornal do Brasil, reproduzindo o texto da UnB Agência, destacou pesquisa sobre o nível de estresse em docentes das redes públicas da região Centro-Oeste. Cerca de 15% deles têm ‘estresse laboral crônico’, convivem com um ‘desgaste permanente’, o que reduz a criatividade e a motivação destes profissionais.
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Da equipe do Ação Educativa