Efemérides têm antecedentes, sem eles a História seria uma coleção de datas descontínuas, sem nexo.
A primeira edição do Observatório da Imprensa entrou na rede mundial de computadores em abril de 1996. Fomos uma das primeiras iniciativas de interesse social veiculada exclusivamente pela internet (e por isto incentivada pelo seu Comitê Gestor).
O OI começou efetivamente dois anos antes, em 12 de abril de 1994, com a realização do evento-fundador do Labjor (Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo) da Unicamp (na gestão do reitor Carlos Vogt).
Título do seminário: A Imprensa em Questão. Durante dois dias, o jornalismo brasileiro foi examinado por correspondentes no exterior, empresários, jornalistas veteranos, corporações profissionais, anunciantes, consultorias, sociedade civil e críticos (os primeiros ouvidores).
Os anais foram publicados pela Editora da Unicamp (A Imprensa em Questão, org. Alberto Dines, Carlos Vogt, José Marques de Melo, Campinas, 1997).
Título e escopo do seminário definiram nos dois anos seguintes a agenda de trabalho do Labjor e o caráter do seu primeiro spin-off (filhote): o legítimo questionamento da imprensa deve ser público, aberto e com a participação ativa dos destinatários do processo jornalístico – leitores, ouvintes, telespectadores e acessadores da web.
Crítica não é ameaça
A observação de um fenômeno pressupõe uma intervenção circular, indireta e, por isso, democrática: sentindo-se observados, atores e operadores mudam automaticamente atitudes e procedimentos. A crítica não pode funcionar como ameaça, é uma convocação para mudanças, estímulo para avanços.
A partir destas percepções e conceitos, criavam-se as bases de um projeto pioneiro chamado Observatório da Imprensa (nome emprestado do homônimo de Lisboa), dois anos depois convertido em programa semanal da TV Educativa, logo retransmitido pela TV Cultura e, em 2005, transformado em boletim radiofônico diário (de segunda a sexta) em uma rede nacional de emissoras públicas.
O projeto OI foi incubado numa universidade – uma das melhores do país – e seu desenvolvimento e autonomização são obra da sociedade.
Observar evita abusos
Confirma-se mais uma vez a dinâmica que comanda o Estado de Direito: cada poder deve gerar naturalmente o necessário contra-poder. Para equilibrá-lo e evitar abusos. No caso da imprensa, o poder não deve ser exercido arbitrariamente em defesa de interesses corporativos, nem este contra-poder pode ser protagonizado por governos (ou seus agentes). A sociedade civil e o interesse público são os vetores legítimos, autorizados, para avalizar e eventualmente corrigir o processo jornalístico.
Para avaliar este percurso, é indispensável rever o panorama político-jornalístico de 1994 quando a imprensa, pela primeira vez, foi colocada em questão:
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O primeiro presidente eleito pelo voto direto, Fernando Collor de Mello, fora derrubado pouco antes por uma imprensa adolescente, recém-liberada de uma ditadura de duas décadas que ela aceitou sem imaginar as conseqüências.**
A façanha de derrubar um presidente da República não foi acompanhada criticamente. Com isso, validou-se um vale-tudo jornalístico que estabeleceu paradigmas que se estendem até hoje, nem sempre responsáveis.**
A descoberta tardia do marketing subordinou a maioria das estratégias empresariais a interesses distantes do bom jornalismo. A busca de qualidade tornou-se secundária e ridicularizado o conceito de quality papers.**
O corporativismo empresarial (que fizera sua estréia nos bastidores da Constituinte) gerou um pool que liquidou a diversidade e o pluralismo. Jornais tornaram-se gêmeos, singularidades foram aplainadas e modismos, universalizados. Contribuíram de forma decisiva para essa homogeneização as consultorias criadas no eixo Navarra-Miami, que já operavam na península Ibérica e América Latina empunhando as bandeiras da ‘modernidade’ jornalística (‘uma imagem vale mil palavras’, ‘viva a mulher, viva a leveza’ etc.).Nestas últimas semanas, fomos confrontados com algumas reminiscências (já enrugadas) das novidades dos anos 90, quando o projeto do Observatório da Imprensa foi lançado. A 3ª Conferência Legislativa sobre Liberdade de Imprensa, realizada pela ANJ (Associação Nacional de Jornais) na Câmara Federal sob o alto patrocínio da Unesco (que já viveu momentos mais gloriosos), foi, na verdade, mera exibição de um lobby privado com sua agenda de reivindicações particulares. Para disfarçar, convidou-se a centenária e prestigiosa ABI (Associação Brasileira de Imprensa), na qualidade de mediadora de uma das sessões.
Liberdades são bens coletivos
Como tratar da liberdade de imprensa sem a participação ativa da sociedade civil? E as TV’s públicas, suas vozes não valem na luta por uma imprensa emancipada?
As liberdades são bens coletivos, não podem ser privatizadas ou segmentadas em benefício de uma corporação. A extinção pura e simples da Lei de Imprensa não é consensual, por mais respeito que mereça a figura do relator da matéria no Supremo Tribunal Federal, ministro Carlos Ayres Britto. Grandes juristas, entre os quais Miguel Reale Jr., defendem a criação de um novo estatuto, já que os atuais códigos são insuficientes para absorver e resolver as diferentes pendências produzidas no universo midiático. Os avalistas das políticas de saúde pública não podem ser apenas as agências de publicidade e os meios privados de comunicação a serviço da indústria cervejeira. São partes interessadas, portanto suspeitas.
Como caricatura, o convescote corporativo na antiga Casa do Povo foi perfeito. Como exibição de maturidade no ano em que a imprensa comemora o seu bicentenário, uma desgraça. À altura da performance do seu antagonista no palácio do Planalto que, para troçar da imprensa, não se incomoda em oferecer solidariedade àqueles que periodicamente aparecem no noticiário beneficiando-se indevidamente do erário.
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Os precursores e as três versões atuais do Observatório da Imprensa não são e nunca foram projetos políticos. Fazem parte de um fórum em movimento, compõem um veículo em construção. O objetivo é pensar o dia-a-dia, compreender o mundo a partir da construção da notícia. Os Observatórios não atuam no ramo do espetáculo. Boa imprensa produz bons leitores. Imprensa de qualidade produz leitores de qualidade. Jornalismo linchador produz leitores linchadores.
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Retratos do site quando jovem, em 2/5/2006
Quem se lembra da edição inaugural do Observatório da Imprensa, em abril de 1996 (abaixo)? O primeiro artigo de Alberto Dines, sobre a ausência de representantes da sociedade civil no então recém-regulamentado Conselho de Comunicação Social (que afinal permaneceria inativo até 2000), mantém espantosa atualidade. Já a aparência… Estávamos nos primórdios da internet gráfica, que se firmara no Brasil um ano antes, e experimentar era obrigatório.
O visual tricolor durou pouco: em outubro já tínhamos uma cara multicolorida (abaixo, à esquerda) – que ficou no ar seis meses. Em 5 de março de 1997 (direita) retornávamos ao fundo branco, que não mais abandonaríamos, com detalhes em cor.
Era ainda uma fase de grande experimentação. A coluna da esquerda aparecia e desaparecia, mudava de cor; o miolo, movimentado, ganhava enfeites, ícones, imagens, inclusive charges reproduzidas de veículos da imprensa. Em 20 de junho ainda de 1997, mudamos de novo (abaixo), mas já se firmavam os primeiros traços que marcariam o jeitão de ser do OI – o ‘chapéu’ em maiúsculas vermelhas, por exemplo, mantido no layout que estreamos hoje.
Em 5/4/98, um exemplo da ‘cara’ que preservaríamos por longo tempo (abaixo): área de manchete e chamadas em destaque, índice em duas colunas – ampliadas para três somente dois anos e meio mais tarde.
A edição de 20/10/98 é marcante nesse período inicial do OI: a fase das manchetes e chamadas sobre desenhos antigos duraria de agosto de 1998 a janeiro de 1999.
Na figura abaixo, a edição de 20/5/2000, com a estréia de Spacca, até hoje nosso ilustrador, numa charge em preto & branco. Para os leitores, um denso período tanto em conteúdo quanto em solução web. O volume de textos que nos chegava era tão grande que criamos um Observatório dentro do outro: a ‘Última Hora’ atualizava a edição quinzenal. O OI só se tornaria oficialmente semanal em 7 de fevereiro de 2001.
Em 22/8/01, edição nº 135, o Índice do OI ganharia quatro colunas (abaixo, à esquerda) – com três atingia absurdas 10 telas em monitor de 15 polegadas, tamanha a quantidade de textos. Nessa fase (e um exemplo típico dela é a edição seguinte, à direita), a charge de Spacca cresce e passeia pela capa; a manchete ganha volume acima das chamadas secundárias.
A capa de 12 de setembro de 2001, sobre os ataques às torres gêmeas de Nova York. Um ano depois, as edições do aniversário do atentado seriam as mais pesadas de baixar da história do OI.
Em 27/11/2002, a edição 200 (abaixo): fase do popup, que durou pouco, para a alegria dos leitores que reclamaram.
A edição nº 300 – de 26/10/04 (abaixo à esquerda): os espaços se definem. A coluna fixada à direita da tela passa a reunir as diversas páginas do site. Cola-se ali a urna eletrônica do OI, que pára de flutuar pela capa. As cartas saem do Índice e se concentram no grande envelope azul e branco do Canal do Leitor.
Em 5/4/05, edição nº 323 (acima à direita), a última versão antes do aniversário: o OI ganharia quatro blogs, a capa seria separada do Índice cada vez mais volumoso. Solução temporária, enquanto preparávamos a reformulação do design para este aniversário – mas os leitores protestaram.
Agora, a torcida é para que reformulação agrade: o novo layout é de navegação muito amigável. Se algo não estiver imediatamente a contento basta um pouquinho de paciência – logo estará, promessa da equipe do OI. Afinal, não é simples reorganizar um acervo tão precioso quanto gigantesco como o que o Observatório da Imprensa armazenou ao longo destes 10 anos. Graças, justamente, ao nosso leitor. [A Redação do OI]