A imprensa brasileira está constrangida, encabulada. Não está sabendo lidar com o inédito recall ordenado pelo governo dos 60 mil carros modelo Stilo, da Fiat, com defeito no eixo traseiro.
Na quarta-feira (10/3), dia seguinte ao anúncio do recall, apenas a Folha de S.Paulo deu destaque ao caso: chamada forte na capa e página inteira no caderno de economia. É assim que se faz.
O Estado de S.Paulo disfarçou: deu uma chamadinha minúscula na capa e uma matéria escondida no caderno de Economia.
Na edição do Globo que circula em São Paulo, o caso ficou enterrado nos confins do jornal.
Na quinta-feira (11), até a Folha procurou livrar-se do incômodo assunto. Atitude errada: o compromisso dos jornais é com o leitor, com o cidadão, com o consumidor, não é com o anunciante.
Tema sério
A Fiat não ficará zangada com os jornais que destacaram a notícia do recall, até os respeitará mais do que aqueles que enganaram o público. Estes, são inconfiáveis.
Nos Estados Unidos, a imprensa noticiou com absoluta naturalidade o gigantesco recall da Toyota e a convocação do seu presidente para prestar esclarecimentos à Câmara dos Deputados, em Washington.
Evidentemente ninguém lembrou aqui que a ordem de recolher os carros defeituosos partiu dos órgãos públicos. Não interessava. No momento em que o país afinal encontra um tema sério para enfiar no debate eleitoral, fica claro que uma imprensa volúvel e fraca não pode gostar de um Estado atento e forte.