A imprensa espanhola protestou contra a decisão do juiz Juan del Olmo de proibir a circulação de uma revista com um cartum satírico do herdeiro do trono da Espanha fazendo sexo. Na sexta-feira (20/7), o juiz ordenou que a polícia confiscasse todos os exemplares da revista El Jueves, que trazia na capa o desenho do príncipe Felipe em uma relação sexual com sua mulher, Letizia; nele, o príncipe falava sobre o plano do governo para dar aos pais 2,500 euros por criança. ‘Imagine se você engravida’, diz Felipe à esposa, ajoelhada na cama. ‘Isso será a coisa mais próxima de trabalho que eu já fiz na vida’.
Pela lei espanhola, insultar a família real pode levar a até dois anos de prisão. A mídia do país tende a manter distância de fofocas e piadas reais – ao contrário da Inglaterra – e se limita a cobrir os compromissos oficiais da família. Depois da proibição de circulação da revista, entretanto, os jornais resolveram expressar seu descontentamento.
Tiro pela culatra
‘O cartum é cru e de mau gosto, mas não se pode dizer que tem por objetivo causar o tipo de maldade que faria dele um crime’, declarou o El País, mais vendido jornal da Espanha, em editorial. O direitista El Mundo afirmou que o desenho poderia ofender algumas pessoas, mas insistiu que ‘está dentro do que deve ser permitido em uma sociedade onde liberdade de expressão é um valor fundamental’. O Periodico, de Barcelona, chegou a comparar a proibição a um flashback dos anos em que o ditador Francisco Franco censurava jornais que criticavam seu governo.
Apenas o jornal ABC, de direita, apoiou a confiscação da revista – primeira em cerca de 20 anos –, afirmando que o cartum é um sintoma de ‘um clima em que valores morais e cívicos estão mais frouxos e são vistos como relativos’.
Ainda assim, todos os jornais concordaram que proibir o cartum do príncipe serviu apenas para chamar mais atenção para ele. Com a polêmica, muito mais gente do que os 80 mil leitores da Jueves teve acesso à história. ‘O desenho, que originalmente foi visto por milhares de pessoas, foi divulgado em diversos sítios de internet na Espanha e no exterior e, agora, será visto por dezenas de milhões de pessoas’, afirmou o El Mundo. ‘Nem o pior inimigo da Coroa conseguiria este feito’. Informações de Jane Barrett [Reuters, 21/7/07].