O governo brasileiro não respeitou a nossa tradicional hospitalidade para com os refugiados políticos, mandou de volta para Havana os atletas cubanos que desertaram do Pan e até domingo (5/8) a imprensa brasileira não havia dado um pio. Não fosse o protesto solitário de Elio Gáspari, na sua coluna dominical na Folha e no Globo, poderíamos dizer que nossos jornalistas perderam inteiramente a sua capacidade de solidarizar-se.
É possível que os boxeadores que abandonaram a delegação cubana em troca de uma vida melhor na Europa tenham se arrependido, essas coisas acontecem. Mas a sociedade brasileira precisaria ouvi-los antes de serem embarcados de volta – eles estavam aqui, o assunto é nosso.
A Polícia Federal localizou os atletas na quinta-feira ((2/8) e antes mesmo que o Ministério Público pudesse manifestar-se publicamente, os atletas foram despachados rapidamente para Cuba no sábado. Por que a pressa?
A Polícia Federal tinha a obrigação de dar satisfações, deixar que falassem livremente à imprensa e só então permitir o seu retorno. O Itamaraty e a embaixada cubana foram mais rápidos. E nós ficamos com a impressão de que a Polícia Federal está cada vez mais longe de ser uma instituição republicana. É um braço do governo. Graças ao silêncio da mídia.