Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Imprensa de Sorocaba abafa a CPI

A CPI do Mercado estava investigando possíveis irregularidades na obra de reforma do Mercado Municipal de Sorocaba, ocorrida em 2002. Porém, o foco deste texto não são os fatos que envolveram as obras, e sim a imprensa de Sorocaba.

A verdade é que os jornais de Sorocaba e a imprensa em geral abafaram o caso. A imprensa local, não comentando mais sobre o fato, ‘parece torcer’ para que o (e)leitor não perceba o que ocorreu. Não houve sequer um contra-argumento por parte da imprensa de Sorocaba. É preciso dizer ao (e)leitor, ou ao telespectador de Sorocaba, que interesses fizeram com que a CPI do Mercado Municipal de repente fosse esquecida.

Atualmente, o (e)leitor quer transparência na notícia e na forma como a mesma é produzida e lhe chega ao conhecimento. No caso da CPI do Mercado Municipal, é preciso que a imprensa diga quais foram os interesses que fizeram com que a CPI do Mercado Municipal fosse abafada.

Cargos sem concurso

Cabem as seguintes perguntas: se a CPI não era tão importante, por que a imprensa de Sorocaba fez tanto barulho no início? Por que a imprensa concordou na cobertura do fato e depois o abafou? Por que a imprensa pede que o (e)leitor de Sorocaba escolha o seu vereador se os mesmos que estão aí desempenharam um péssimo papel em relação à CPI do Mercado Municipal?

A imprensa de Sorocaba, neste momento, está incoerente com o seu papel, deixando que os vereadores e outros políticos utilizem o espaço para aparecerem. Assim como um produto – ou uma marca de mercado –, quanto mais aparece, mais se valoriza. Diante disso, os partidos lançam apenas aqueles candidatos que o (e)leitor conhece mais, pois são os que mais aparecem na imprensa.

Este esquema político-midiático prevalece em Sorocaba, o que impede o surgimento de novas pessoas e pensamentos em cargos maiores. Tal esquema provinciano somado ao ‘caciquismo’ dos partidos políticos atrapalha uma renovação da Câmara Municipal.

Este esquema ocorre também porque os partidos políticos empregam jornalistas e assessores de imprensa em seus escritórios – os mesmos que outrora estavam nas redações dos jornais –, ou encaixam filiados em cargos do Executivo, cargos que, na verdade, deveriam ser preenchidos por concurso público.

Voto legitima esquema

É bom lembrar que no Brasil os cargos políticos ditos de confiança funcionam como moeda de troca. Então, uma renovação implicaria a exoneração de várias pessoas de seus cargos e perda de estabilidade financeira – inclusive os jornalistas. Ao que parece, os donos de mídia, os jornalistas ou os editores, circulam tanto pelos partidos políticos como pelas redações de jornais.

Este sistema – ou esquema – engessa a democracia em Sorocaba uma vez que alguns veículos parecem participar do poder e, em troca, fornecer espaço para que os políticos apareçam, gerando um circulo vicioso. É um sistema de marketing político fantástico, porém totalmente antidemocrático.

O (e)leitor de Sorocaba é convocado pela mídia e pelos jornais apenas para legitimar o esquema através do voto que, diga-se de passagem, também afronta a democracia, pois é obrigatório.

Críticas construtivas

Vejamos o que pode ter contribuído para o abafamento da CPI do Mercado Municipal:

1. A CPI foi abafada pela imprensa porque envolveu pessoas de alto poder aquisitivo ou influentes, ligadas a alguns jornais;

2. Os partidos ou os vereadores de oposição fizeram algum acordo;

3. Houve ‘clientelismo’ por parte da imprensa de Sorocaba não se falando mal daquele que patrocina ou apóia determinado jornal, ou órgão de imprensa;

4. Os partidos fizeram algum acordo com a imprensa para não mais falar na CPI do Mercado, e sim, em seus projetos, aproveitando o ano eleitoral;

5. A CPI estava desgastando a imagem da Câmara Municipal e os vereadores resolveram arquivar o caso;

6. Após negociações, a imprensa de Sorocaba ‘abafou’ a CPI do Mercado Municipal, pensando na eleição de seu candidato;

7. Em troca do bom serviço de palanque desempenhado pela imprensa de Sorocaba durante todo o ano eleitoral, a mesma ‘abafou’ a CPI do Mercado Municipal, negociando cargos de confiança e contratos licitatórios públicos com o candidato ou o partido com maior chance de vencer as próximas eleições municipais;

8. O candidato apoiado pela imprensa e com maior chance de vencer o pleito municipal estaria ligado diretamente com as irregularidades apuradas na CPI do Mercado.

Seja por razões políticas ou por razões de mercado, a imprensa de Sorocaba perdeu uma grande chance de se fortalecer diante de uma sociedade mais crítica e democrática que está surgindo em Sorocaba.

Não somos contra os jornais impressos ou a mídia de Sorocaba, apenas reivindicamos o bom jornalismo e a justiça ética nos meios de comunicação, especialmente em tempos eleitorais. Essas críticas devem ser entendidas como construtivas e visam tão-somente lançar luz sobre uma importante questão ainda pouco discutida pela sociedade local.

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Gestor de processos comunicacionais, Sorocaba, SP; artigo publicado no site VIVAcidade, 14/5/2008