Resultado do esforço de entidades e organizações envolvidas na construção de meios alternativos de comunicação, acontece neste fim de semana o I Fórum de Mídia Livre, na cidade do Rio de Janeiro, no campus da Praia Vermelha da UFRJ. Entre espaços de apresentação de projetos de mídia, exposições, distribuição de jornais, revistas, DVDs e livros, cerca de 600 participantes devem discutir – em grupos de trabalho e plenárias – maneiras de articular as chamadas mídias livres. Um claro movimento de contraposição à hegemonia da grande imprensa.
‘Existe a necessidade de dar uma resposta a essa situação que a imprensa está passando. Isso que acontece no Brasil não é jornalismo, é atendimento a interesses de grupos econômicos’, afirma Joaquim Palhares, diretor da Agência Carta Maior e um dos impulsionadores do Fórum. Palhares cita a Guerra do Iraque, a tentativa de golpe na Venezuela e o tratamento dispensado ao governo Lula como exemplos de como a mídia assume posições partidarizadas e de embate com os movimentos sociais. ‘A oposição no Brasil é muito ruim e se agarra na imprensa. O governo comete erros e, em cima disso, criam-se situações absurdas’.
Segundo Palhares, há ainda outras duas questões que permearam os encontros regionais que desembocaram na organização do Fórum no Rio de Janeiro: a divisão das verbas públicas de publicidade e a formação dos profissionais de comunicação devem ter destaque. Este último item, conta, deve fugir da questão da obrigatoriedade do diploma de jornalista. Esta abordagem teria, inclusive, afastado da organização do evento os sindicatos que, segundo Palhares, têm uma visão ‘corporativista’ da questão.
Mídia e governos
A publicidade estatal, por sua vez, parece ocupar lugar central nas possibilidades de afirmação de uma mídia não vinculada ao mercado. Só o governo federal gasta cerca de R$ 1 bilhão em verbas públicas em publicidade, verbas que são destinadas na sua quase totalidade de maneira generosa aos grandes meios de comunicação comercial. ‘Em outros países essa questão do financiamento é tratada de forma mais republicana, com critérios sociais’, lembra Gustavo Barreto, blogueiro carioca e integrante do Movimento Humanista. ‘Politicamente, as verbas públicas tem que ter um critério universal para sua distribuição e não por regras de mercado. Nós não participamos da definição dessas regras e isso tem que ser um critério’, concorda Palhares.
Para Antônio Biondi, do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, outras pautas se impõem para os atores envolvidos com as mídias alternativas e livres. ‘Não dá para pensar em uma mídia alternativa forte em um país onde a marca do setor de comunicação é a concentração da propriedade’, comenta. ‘Há um papel simbólico a cumprir, de comunicação contra-hegemônica, mas há também uma preocupação em fortalecer as mídias livres como atores políticos na briga por uma comunicação mais democrática.’
Esta variedade de interesses e aspirações que agora dão origem ao Fórum de Mídia Livre pode ser entendido como um esforço coletivo para que se estabeleça definitivamente uma agenda comum. Gustavo Barreto celebra a diversidade do Fórum e acredita que é ela que garante a força do evento. ‘O Fórum vai ser muito diversificado, com muitas entidades e matizes políticos diferentes. Ser o resultado da articulação de vários grupos já é uma vitória’; e concorda com Palhares quando se trata de problematizar os interesses da grande mídia. ‘A primeira questão é: qual é o papel dos meios de comunicação diante dos governos?’
Próximos passos
Para o diretor da Carta Maior, algumas iniciativas já se delineiam como aquelas que serão levadas adiante pelo Fórum Mídia Livre no momento posterior ao encontro do Rio. ‘A proposta da organização é que saia um documento ao final do fórum, com as vontades manifestadas’, disse. ‘Cada representante leva para seu estado, mais gente assina, cada um leva ao prefeito e ao governador e a coordenação nacional levará ao presidente, ao STF, ao Congresso e sociedade civil.’
Biondi, do Intervozes, crê que a definição dos próximos passos ainda está em aberto, considerando a diversidade já mencionada por Barreto e a dinâmica que ainda deverá ser azeitada entre os participantes do Fórum Mídia Livre. ‘Em um dia e meio, você não dá conta de todas as expectativas que estarão representadas no Rio, mas vai caber ao próprio Fórum encontrar o seu caminho e o seu tempo’, comentou.
O Fórum Mídia Livre inicia às 9 horas do sábado (14), no Auditório Pedro Calmon do Fórum de Ciência e Cultura (FCC). O Campus da Praia Vermelha da UFRJ fica na Avenida Pasteur, 250.
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Do Observatório do Direito à Comunicação